Euronews em exclusivo no Irão: O perigo do fim das sanções para a economia local

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De  Francisco Marques com JAVAD MONTAZERI, REUTERS
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Os iranianos são chamados às urnas esta sexta-feira para elegerem um novo Parlamento e uma nova Assembleia de Peritos ou Especialistas. Damos-lhe a conhecer, por dentro, a realidade de um "tesouro" at

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A inflação, a valorização do dólar e a falta de gestão dos governos anteriores perante as sanções internacionais deixou a economia do Irão quase no tapete.

O acordo alcançado entre o executivo liderado pelo Presidente Hasan Rohani e o grupo P5+1 (o grupo das 5 maiores potências mundiais mais a Alemanha), sobre o programa nuclear, permitiu o levantamento das sanções e, agora, a economia do Irão está a sair das cordas. Mas… e há sempre um mas: o fim das sanções pode ter efeitos negativos, de forma indireta, nas famílias.

A venda de petróleo e as transações bancárias foram desbloqueadas. Dos pequenos negócios às grandes indústrias, voltou a respirar-se e a investir. Numa reportagem exclusiva da euronews em Teerão, o nosso correspondente no Irão Javad Montazeri foi ao encontro de um empresário local para nos explicar, a partir de dentro, o que está a acontecer no Irão, que esta sexta-feira é palco de uma dupla eleição importante para o futuro do país.

High hopes collide with economic reality ahead of Iran’s elections https://t.co/1jSbyu9u6AAFP</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/IranElections2016?src=hash">#IranElections2016</a> <a href="https://t.co/H3L5Yhu1Q0">pic.twitter.com/H3L5Yhu1Q0</a></p>— AFP Tehran (afptehran) 24 fevereiro 2016

Shahrokh Soufipour tem um negócio de informática. Muito do que vende é produzido nos Estados Unidos. Devido às sanções, foi obrigado a fintar as regras para conseguir o que necessitava de importar. Para além da informática, Soufipour gosta de restauração e isso levou-o a investir também numa das, agora, mais famosas hamburguerias de Teerão: um estabelecimento ao estilo americano.

Perguntamos-lhe como sobreviveu face à crise criada pelas sanções dos últimos anos. “Houve, de facto, uma estagnação na indústria alimentar. Não progredimos, mas também não regredimos. No setor informático, sentimos uma quebra de cerca de um quarto na atividade desde março, comparando com o mesmo período do ano anterior. Na informática, temos custos correntes e nem sequer fomos capazes de os cobrir e isto significa: prejuízo”, lamentou Shahrokh Soufipour, sentado no escritório de um dos seus negócios.

Os problemas parecem estar, agora, a ficar para trás. Mas a gestão do pós-venda é, no mínimo, tão importante quanto a logística pré-venda. A nova situação criada pelo levantamento das sanções pode vir a revelar-se uma espada de dois gumes. Ao facilitar a entrada no país de produtos até agora embargados, poderá criar um problema para a produção iraniana, a qual, regra geral, tem um custo final elevado e uma qualidade aquém dos padrões atuais.

#Inflation rate down to 12.6 pc: #CBIhttps://t.co/lKy5Qu3QW9#Iran#Economypic.twitter.com/grYeTOTLk8

— Iran (@Iran) 24 fevereiro 2016

A economia pode, assim, ser atingida pela voracidade das empresas estrangeiras em entrar num país ávido de novidades. O impacto das importações nas receitas da indústria iraniana pode vir a refletir-se na mão-de-obra e a atual taxa de 10,7 por cento de desempregados pode vir a subir nos próximos anos, influenciando por conseguinte o poder de compra das famílias. São precisas reformas estruturais no Irão e o Presidente Hassan Rohani prometeu-as.

“É interessante que, desde o acordo nuclear, a maior parte dos painéis publicitários à volta de Teerão promove marcas automóveis com novos modelos, diferentes gamas e de diversos fabricantes. Alguns dos carros nem sequer conhecia. Vêm para o Irão alguns automóveis pouco comuns”, diz-nos o empresário, curiosamente, enquanto confuz um vistoso BMW.

Shahrokh Soufipour, ainda assim, está certo. Depois do acordo, é normal o aumento da exportação de petróleo pelo Irão. Com a possibilidade, finalmente, de poder voltar a vender livremente petróleo, uma das principais “commodities” iranianas, o ministro Bijan Namadar Zanganeh acaba de anunciar a rejeição do congelamento da produção proposta por Arábia Saudita e Rússia, uma estratégia para fazer subir o preço do petróleo, em queda há ano e meio e agora estabilizado um pouco acima dos 30 dólares/barril.

O Irão tem, porém, muito por recuperar no mercado petrolífero e o objetivo é recuperar a quota perdida, apostando, primeiro, na Ásia, e depois na Europa. Vários negócios petrolíferos foram já contratualizados na Europa, nomeadamente em Espanha (CEPSA), França (Total e Litasco) e Rússia. Pelo menos, 4 milhões de barris já terão sido enviados para a Europa nas últimas semanas.

Depois de pouco ou nada receber nos últimos anos, esta é a altura em que poderá recomeçar a faturar. O valor do barril, baixo ou alto, será o menos importante. O curioso é que o Irão também terá decidido negociar o petróleo em euros e não, como era usual, em dólares.

Para além do setor energético, cujas exportações representam cerca de 80 por cento do PIB, o Irão também começou a investir na melhoria dos transportes. Na recente viagem a França do Presidente Hassan Rohani, para além dos acordos petrolíferos, foram também assinados contratos com a AirBus para a compra de 118 aviões, por cerca de 23 mil milhões de euros, e com a Peugeot para montar novos modelos no Irão através da fabricante local, a Khodro, num negócio de 400 milhões de euros.

A Mercedes Benz acaba, aliás, de abrir um “stand” oficial de vendas no Irão após longa ausência do país. Todos os grandes fabricantes automóveis estrangeiros abandonaram o Irão após a implementação das sanções, mas agora querem voltar. É o caso, também, da Volkswagen, da Renault e, entre outros, da Toyota.

“Sentimo-nos orgulhosos quando, logo no dia a seguir ao acordo em Viena, os países europeus fizeram fila para investir no Irão. É um sinal positivo que devemos acolher o melhor possível. Quem tiver olho para o negócio, deve fazer um plano. Eu vejo um futuro brilhante para o Irão”, perspetiva Shahrokh Soufipour.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Irão foi estimado, em 2014, em cerca de 386 mil milhões de euros pelo Banco Mundial. É o segundo maior do Médio Oriente, atrás da Arábia Saudita (677 mil milhões de euros). Vivem no Irão quase 80 milhões de pessoas, tornando-o no segundo maior país do Médio Oriente, atrás do Egito. O Fundo Monetário Internacional prevê um futuro promissor para os iranianos nos próximos dois anos, estimando uma subida do PIB entre os 4 e os 5,5 cinco por cento.

“Há um centro comercial a ser construído a ocidente de Teerão. Vai ser o maior do Médio Oriente em termos de tamanho. Isto mostra que as condições económicas no Irão estão, de facto, a melhorar. Os que estão a investir já tinham antecipado isto”, reforça Shahrokh Soufipour.

A implementação do acordo vai ser bom, mas há problemas estruturais por resolver na economia iraniana e que não podem ser negligenciados, como conclui o correspondente da euronews no Irão, Javad Montazeri: “Os iranianos, em especial os empresários, estão contentes com o acordo nuclear, contudo, todas as atenções se centram agora no desenvolvimento interno do país e na implementação das reformas prometidas pelo Presidente Rohani para melhorar a situação política e económica do Irão.”

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