Kasyanov, antigo primeiro-ministro russo: "Partilho a visão de uma Europa única de Lisboa a Vladivostoque"

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O presidente do Partido da Liberdade do Povo e antigo primeiro-ministro russo, Mikhail Kasyanov, esteve em Bruxelas, onde participou na conferência

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O presidente do Partido da Liberdade do Povo e antigo primeiro-ministro russo, Mikhail Kasyanov, esteve em Bruxelas, onde participou na conferência intitulada “Fortalecendo as fundações europeias da Rússia.”

O encontro foi organizado pela Aliança dos Liberais no Parlamento Europeu em homenagem a Boris Nemtsov, um dos mais destacados críticos do presidente Vladimir Putin, assassinado a tiro quando passeava a pé perto do Kremlin.

A conferência contou com a presença de outros líderes da oposição russa. Em entrevista ao jornalista da Euronews, Andrei Beketov, o presidente do Partido da Liberdade do Povo, Mikhail Kasyanov, comentou a atualidade política.

Mikhail Kasyanov, presidente do Partido da Liberdade do Povo e antigo primeiro-ministro russo – O nosso partido liberal e pró-europeu co-organiza uma conferência no aniversário da morte de Boris Nemtsov. Viemos até aqui, junto dos nossos amigos, para trabalhar planos pan-europeus conjuntos. Partilhamos a visão de uma Europa única de Lisboa a Vladivostoque.

Quando fui primeiro-ministro formulámos ideias idênticas com a Comissão Europeia e os eurodeputados. Não as podemos implementar agora porque o nosso partido não está no poder. Atualmente os democratas na Rússia não são respeitados. No entanto, continuamos a seguir em frente, o mais longe possível.
Este ano é de eleições na Rússia. O nosso partido pode mudar a situação no país depois de entrar no Parlamento russo. Falaremos aos nossos compatriotas da opção europeia. A Rússia pode prosperar seguindo os exemplos de outros países europeus, incluindo aqueles que estiveram anteriormente connosco no mesmo bloco socialista.

O Partido da Liberdade do Povo vai participar nas eleições federais pela primeira vez. Fomos registados com a ajuda de instituições europeias. Graças ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos foi-nos reconhecida a necessidade de estarmos registados, contrária à opinião das autoridades russas.

Andrei Beketov, euronews – O presidente Vladimir Putin deixou alertas contra tentativas de influenciar o processo eleitoral “vindas de fora.” Considera algo pessoal?

Mikhail Kasyanov – Deve ser encarado de forma pessoal por Vladimir Putin, porque tais declarações sugerem que o presidente tem, provavelmente, medo do processo eleitoral na Rússia. Este processo baseia-se nas leis russas e em tratados internacionais da Federação Russa. A Rússia é um país membro da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). O Protocolo de Copenhaga descreve, em detalhe, o que são eleições livres e justas. A Rússia é um país membro do Conselho da Europa.
A Convenção dos Direitos Humanos e Liberdades Políticas detalha o que são eleições livres e justas. Putin e o Governo russo são obrigados a respeitar tudo isto. De acordo com a Constituição russa, estes acordos precedem tudo o resto.

Realizar eleições livres e justas é uma obrigação internacional. Os nossos amigos europeus são obrigados a monitorizar o processo e a pedir às autoridades para respeitarem as obrigações internacionais. Estou longe de pensar que as autoridades russas dirão: “Vamos realizar eleições à nossa maneira.” Não penso que o Governo tenha decidido parar toda a cooperação internacional com a União Europeia.

euronews – De que forma é que desde a morte de Boris Nemtsov se modificou a situação no país e as relações entre a Rússia e a Europa?

Mikhail Kasyanov – No nosso país a situação piorou. A morte de Boris Nemtsov empurrou as nossas forças políticas para maior consolidação. Na base do Partido da Liberdade do Povo criámos uma coligação democrática, o que é um fator positivo. Tirando isso, ao longo dos últimos anos apenas se assistiu a mais compressão do espaço socio-político pelas autoridades. Foi aprovado um número significativo de leis inaceitáveis, como a interdição de protesto individual e uma emenda às leis eleitorais. Claro que tudo isto é frustrante. Nem sequer falo da pressão sobre a oposição e das ameaças que nos chegam. Vai além da compreensão normal de que pode acontecer no século XXI.

euronews – Trata-se apenas de pressão ou da possibilidade de algo mais, como aconteceu com Boris Nemtsov?

Mikhail Kasyanov – Espero que não se verifique o segundo caso. Claro que esta ameaça é uma tentativa de deter as nossas atividades políticas. As pessoas que chegam ao meu gabinete a gritar para sair do país não o escondem. As autoridades não fazem coisa alguma. Os nossos apelos permanecem sem resposta.

euronews – A conferência em Bruxelas intitula-se “Fortalecendo as fundações europeias da Rússia.” Com que rumo se depara? A União Europeia deve manter a política de sanções ou devem construir-se algumas pontes?

Mikhail Kasyanov – As chamadas “sanções setoriais” foram impostas pela União Europeia devido a algumas circunstâncias como a anexação da Crimeia e a escalada de tensões no leste da Ucrânia. Como esses fatores não desaparecem não penso que estas sanções venham a ser levantadas. Nos últimos anos, a União Europeia tem mantido uma posição de princípio. Não vai fazer trocas e jogar nas costas das pessoas. Enquanto a fronteira não for transferida para o controlo das autoridades ucranianas estou certo de que as sanções não serão levantadas.

euronews – Quais são as expetativas em relação às tentativas da União Europeia estabelecer um tipo diferente de relação – por exemplo, a visita próxima do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a São Petersburgo. É possível um novo diálogo?

Mikhail Kasyanov – Só vejo um diálogo. É o de encorajar as autoridades russas a devolver o controlo das fronteiras das autoridades ucranianas. Isto é indicado pelos líderes de todos os Estados europeus. Referem que assim que o acordo se Minsk for executado as sanções serão levantadas. Jean-Claude Juncker vai desenvolver a mesma política. Claro que a União Europeia quer cooperar com a Rússia e vice-versa. Todos queremos cooperar. Mas não queremos a destruição da estrutura da segurança europeia – algo que o atual Governo está a fazer. Claro que ninguém na Europa pode deixar que isso aconteça. Nós, democratas russos, também não queremos isso. Queremos paz e amizade em vez de tensão. Por isso, os focos de tensão devem ser eliminados.

euronews – Como avalia o impacto das sanções da União Europeia na economia?

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Mikhail Kasyanov – Estas sanções setoriais contribuem para os problemas com que as autoridades russas se deparam. Mas as sanções não são tão importantes. O problema é que as autoridades não desenvolveram quaisquer reformas na última década e a Rússia precisa bastante de reformas. É preciso começar pelo princípio, como o fiz em 2000. Por isso, tenho de começar tudo de novo, rapidamente.

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