Bachar Al Jaafari: "A Europa cometeu muitos erros estratégicos na Síria"

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A <b>euronews</b> à conversa, em exclusivo, com o chefe da delegação do governo sírio presente em Genebra, na Suíça, no dia em que os primeiros aviões russos que operaram na Síria começaram a regressa

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Aviões russos que têm estado a participar em operações militares na Síria já começaram a aterrar esta terça-feira na Rússia, na sequência da decisão anunciada por Vladimir Putin de iniciar a retirada militar daquele país, cumprida que estava, na maior parte, a missão que lhes havia sido delegada, explicou o presidente russo.

O líder do Kremlin revelou ter decidido manter na Síria apenas um pequeno contingente da força aérea rusa para supervisionar o cessar-fogo que, com os Estados Unidos, ajudou a estabelecer entre as forças governamentais e os grupos da oposição a Bashar al-Assad.

Russian war planes shown leaving Syria: https://t.co/e1twwZJnHXpic.twitter.com/GP6RjOmojN

— Reuters Top News (@Reuters) 15 de março de 2016

Staffan de Mistura, o enviado espacial da ONU à Síria, espera que esta retirada militar da Rússia ajude às negociações de paz para a Síria que estão a decorrer em Genebra, na Suíça.

A entrevista com o chefe da delegação do governo sírio

Num processo em que as opiniões são muito díspares e as exigências muito variadas, desta vez fomos procurar o ponto de vista do governo de Damasco. A euronews encontrou-se com Bachar Al-Jaafari, o chefe da delegação síria enviada para as negociações do processo de paz. Euronews: A oposição reclama um período transitório e a saída do presidente Bachar al Assad. Acha que esta exigência pode fazer fracassar as negociações?
Bachar Al-Jaafari:
Quando se fala de uma oposição única, significa que ela representa todas as oposições. Quando estas oposições chegarem a um denominador comum poderemos considerar que a exigência é aceitável. Ora, nem todas as oposições fazem essa exigência. Impôr coisas desde o início é pedir o impossível à arte do diálogo e fazer com que as negociações fracassem. Depois, os que exigem estão a tentar impôr uma agenda ocidental, porque a saída do senhor Bachar al Assad é uma exigência que vem do exterior. O senhor diz que as exigências vêm do exterior, pode precisar o que é esse exterior?
Esta pátria é para todos os sírios, nem eu nem ninguém tem o direito de entregar uma parte da pátria a um país terceiro. Exatamente como aqueles que tentam fazer o jogo dos turcos, criando uma zona de exclusão no norte da Síria. Todos os que pedem isso, fazem o jogo dos turcos. E a Irmandade Muçulmana faz a mesma coisa, ou seja, o jogo do Qatar. > Video of Tuesday's UN Geneva press briefing – covering #SyriaTalks, Yemen, migrants, El Nino, Mozambique & more: https://t.co/7I40bfJQzr

— UN Geneva (@UNGeneva) 15 de março de 2016

Quem é que está a encorajar a infiltração de terroristas na Síria?
O pensamento “takfiri” está diretamente ligado ao pensamento “wahabita” dos sauditas. É simplesmente por isso que dizemos que os países do golfo estão implicados na efusão do sangue na Síria. Porque os que estão na base desta linha de pensamento tratam os outros como infiéis e, por consequência, autorizam-se a decapitá-los. O pensamento do “Daesh” é também o pensamento “wahabita”, porque cortar mãos, braços e cabeças é uma tradição “wahabita” saudita. Esses grupos estão na lista das organizações terroristas e há estados que os financiam. Atualmente, já não é segredo para ninguém que a Turquia financia o “Daesh” e facilita a entrada dos seus membros na Síria. Também não é segredo para ninguém que o Qatar e a Arábia Saudita financiam a Frente Al Nousra. Financiam, treinam e armam esses grupos. Não somos nós que o dizemos, isto foi confirmado pelo relatório do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Como é que o senhor vê o futuro da crise na Síria?
Nós temos orgulho na nossa identidade nacional independente e recusamos ingerência do exterior. O nosso único inimigo é Israel, e não é por ser Israel, é porque ocupa territórios árabes e sobretudo um território da nossa querida pátria, os Golãs. De que forma é que o acordo de não agressão contribuiu para a distribuição da ajuda humanitária?
O governo sírio contribui com 75% da ajuda humanitária para o povo sírio. Todas as conferências de que ouvimos falar, em Londres, em Roma, em Paris são, na realidade, fachadas e por detrás disso financiam-se outras coisas e não se ajuda o povo sírio no interior nem os refugiados no exterior. Na sua opinião, como é que a Europa deveria tratar a crise síria?
Em primeiro, é preciso que pare com a ingerência nos assuntos internos sírios. Depois é preciso voltar a abrir as embaixadas em Damasco, para que testemunhem o que verdadeiramente se passa e que não recolham só informações de fontes da oposição. A Europa cometeu muitos erros estratégicos.

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