A economia chinesa está em franco abrandamento, mas o governo não a deixará cair. Esta foi a mensagem saída da sessão anual do parlamento, em Pequim
A economia chinesa está em franco abrandamento, mas o governo não a deixará cair. Esta foi a mensagem saída da sessão anual do parlamento, em Pequim. O plano quinquenal foi adotado por 97,27% . Um plebiscito que não surpreende. Para o primeiro-ministro, a economia do país é feita de dificuldades e de esperança, sendo que, “a esperança”, diz, “ultrapassa de longe as dificuldades”
“Estamos absolutamente confiantes no crescimento económico da China. E aconfiança não surge do nada, surge do facto de acreditarmos que se continuarmos as reformas e a abertura da economia, nâo teremos uma aterragem forçada”, afirmou Li Kequiang.
Este décimo terceiro plano quinquenal aponta para um crescimento económico entre 6,5 e 7%, no período de 2016 a 2020 e para a duplicação do Produto Interno Bruto (PIB) do país relativamente ao valor de 2010.
A palavra de ordem é, portanto, reformas, nomeadamente nos setores mais expostos como a indústria. A produção de aço, de cimento e o setor químico estão a ser particularmente atingidos face à forte baixa da procura. A restruturação dos grandes grupos estatais está prevista através de fusões e de aquisições, tentando evitar o encerramento de serviços ou fábricas de forma a minimizar os despedimentos.
Mas o reequilibrio económico não se fará sem supressão de postos de trabalho. 5 a 6 milhões de trabalhadores serão despedidos nos dois ou três próximos anos. O governo aprovou já um pacote de 100 mil milhões de yuans para a ajuda à reconversão profissional. E outros poderão seguir-se se necessário.
O modelo económico da China está em plena mutação. Para além da indústria, também o setor imobiliário está à beira da rutura. A procura é baixa, a oferta é abundante; os preços estão a minguar e os investimentos em queda livre.
A opção é a aposta em novos setores como serviços e novas tecnologias e, ao mesmo tempo, no incentivo ao consumo interno, nomeadamente com redução de impostos e facilidades no acesso ao crédito.
Reduzir a produção, aumentar o consumo interno
Para uma análise do que se passou no Congresso Nacional do Povo, falámos com o analista dos Assuntos chineses, professor Kent Deng, da London School of Economics.
Euronews: Professor Deng, obrigada por estar conosco. O destaque do congresso deste ano foi a economia e as reformas. Houve algum indício que possa sugerir que a liderança pode ser posta em causa devido ao declínio da economia?
Kent Deng: “Em suma, neste congresso, o líderes chineses colocaram o acento tónico na redução da oferta da produção chinesa, o que significa que vão encorajar a procura interna, ou seja vão encorajar o consumo. Isto é a grande aposta do plano de reequilíbrio da economia chinesa. Vamos ver se isto é um objetivo concretizável. Mas do meu ponto de vista, este objetivo exige enormes mudanças, não só na estrutura económica, mas também na filosofia política do partido no poder”.
E: “Entre os problemas económicos, tem havido manifestações de descontentamento popular dos chineses, devido às perdas de empregos e cortes nos salários. Há alguns sinais neste congresso de possíveis reformas políticas ou democráticas para limitar esse descontentamento?
Kent. Deng: “É uma boa questão. É preciso não esquecer que a China é governada por um partido leninista. Por isso eles sabem que há uma relação de causa e efeito, e que depois de duas décadas de forte crescimento, a democracia terá que aparecer. Mas o partido vai fazer tudo para garantir que esse desenvolvimento político não aconteça. De resto, não vemos qualquer tendência democrática, a nenhum nível, na sociedade que está a emergir neste momento”.
E: “Os resultados estão a ser observados atentamente pela comunidade internacional. Quais são os aspetos positivos e negativos que o Ocidente pode retirar deste congresso?
K. D: “Podemos esperar um certo grau de estabilidade e continuidade do partido do poder e também alimentar a esperança de que a economia continue a crescer num máximo de oito e num mínimo de seis por cento, nos próximos 5 anos. O maior desafio vai ser o governo conseguir cumprir o que prometeu à população, nomeadamente corrigir os enormes desequilíbrios económicos no país. Encorajar e facilitar a procura; reduzir o excesso de produção e reduzir, por exemplo, a fuga de capitais ou a corrupção oficial. Isto requer muita iniciativa, mas também grande apoio popular. Por isso, diria que isto vai ter variadas interpretações ao nível internacional nos próximos cinco anos”.