Panama Papers - Marina Walker Guevara: "Muitos governos por todo o mundo têm interesses velados"

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“Panama Papers”, uma expressão que anda nas bocas do mundo; um escândalo conhecido pela fuga de 11,5 milhões de documentos do gabinete de advogados

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“Panama Papers”, uma expressão que anda nas bocas do mundo; um escândalo conhecido pela fuga de 11,5 milhões de documentos do gabinete de advogados Mossack Fonseca, baseado no Panamá. Os documentos revelam informações sobre centenas de milhar de clientes, num período de mais de 40 anos – de 1977 a dezembro dde 2015. A investigação foi realizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação e por jornalistas de mais de uma centena de medias de todo o mundo. O ICIJ é o braço internacional do Centro para a Integridade Pública, com sede em Washington. O jornalista da euronews, Stefan Grober falou com uma das responsáveis.

Euronews: Junta-se agora a nós Marina Walker Guevara, a diretora-adjunta do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação. Marina, muito obrigada pelo seu tempo.Como diretora-adjunta, qual foi o seu papel nesta investigação?

Marina Walker Guevara: “Fui a diretora do projeto, que é como quem diz, o chefe de orquestra, e desempenhei vários papéis nesta enorme investigação que requereu muita coordenação entre diversas culturas de trabalho, entre diversas regiões e um grande leque de conhecimentos dos jornalistas. Mas chegámos à conclusão que a única forma de lidar com um tão grande manancial de dados era encontrar parceiros em todo o mundo para confirmar a informação e encontrar as ligações. São eles que conhecem os assuntos nas respetivas jurisdições. E valeu a pena, valeu a pena o esforço e o risco que corremos em partilhar a informação com tantos jornalistas no mundo inteiro”.

E: Falemos da investigação: foi cerca de um ano e sem qualquer fuga. Como conseguiram isso?

M. W. G: “A vantagem do ICIJ é que é uma rede de trabalho de jornalistas. Conhecemo-nos uns aos outros e já tínhamos trabalhado juntos no Swissleaks, no Luxleaks e em muitas outras investigações. Confiamos uns nos outros e sabemos todos que se um se antecipa, se quebra o acordo entre todos os participantes, nunca mais trabalhará conosco e tem bastante a perder. Se o ICIJ tivesse partido sózinho ou se o Süddeutsche Zeitung tivesse começado sozinho na Alemanha, teríamos tido um décimo ou menos do impacto que tivémos com a publicação simultânea da China ao Chile, como aconteceu.

E: Já tiveram reações de algum governo no sentido de ajudar a processar alguns dos envolvidos no escândalo?

M. W. G: “Tivémos logo a seguir alguns governos a dizerem que querem cooperar e ter acesso aos nossos documentos para poderem fazer o trabalho deles. E nós respondemos, normalmente, não obrigada! Nós acreditamos que não somos um braço dos governos. Achamos que os governos têm que ter os seus próprios recursos para investigarem de uma forma agressiva a utilização dos paraísos fiscais. Muitos não o fazem. Muitos governos por todo o mundo têm interesses velados. É um assunto complicado. A nossa missão é ser o mais independente e o mais agressivo possível na procura da verdade que é o nosso trabalho enquanto jornalistas de investigação.

E: Grandes bancos internacionais desempenham um papel fundamental nestes esquemas offshore. Alguns alegam que os factos revelados são muito antigos. Como é que reage a isto?

M. W. G: “Assistimos à criação de companhias offshore por parte dos bancos ainda em 2015. É verdade que depois da perseguição das autoridades americanas a diferentes bancos, especialmente aos bancos suissos, houve um decréscimo do número de companhias offshore criadas, sobretudo através do gabinete Mossak Fonseca, mas também observámos que mudaram de metodologia e o que fizeram, em alguns casos, foi utilizarem intermediários como a Mossak Fonseca e outros gabinetes de advogados por todo o mundo, para que os bancos não se envolvam diretamente na ligação entre os clientes e as empresas offshore, enquanto os bancos guardam as contas das empresas. Portanto, alguns contornaram o problema e foram mais longe. Penso que os bancos, de uma maneira geral, estão mais fortes e procuram encarar a questão de uma forma mais séria, mas não acredito que cortaram completamente os laços com o mundo offshore. Isso é praticamente impossível porque muitos dos clientes procuram este tipo de secretismo”.

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