Este ano os iranianos encontram-se impedidos de participar na peregrinação anual a Meca em setembro. Na origem dos problemas entre Teerão e Riade
Este ano os iranianos encontram-se impedidos de participar na peregrinação anual a Meca em setembro.
Na origem dos problemas entre Teerão e Riade estariam acusações mútuas relativas a questões organizacionais.
Não há vistos
Os rivais regionais cortaram laços diplomáticos em janeiro na sequência de ataques no Irão contra a missão diplomática saudita após a execução de um importante clérigo xiita na Arábia Saudita, um reino de maioria sunita.
Desde o corte de relações que a embaixada suíça em Teerão funciona como representante dos “interesses da Arábia Saudita no Irão”. Desde há muito tempo que as autoridades iranianas propõem esta solução para a emissão de vistos para cidadãos iranianos, uma solução que contudo não é aceite pelas autoridades sauditas que propõem um terceiro país para a emissão de vistos. Teerão contudo não aceita esta solução.
O ministro iraniano responsável pela Cultura e Orientação Islâmica afirmou na quinta-feira que “os sauditas não aceitaram as nossas propostas relativas à segurança, transporte e emissão de vistos para peregrinos iranianos”.
تا اينجايي كه من دنبال مي کنم بایکوت #حج توسط ایران به خاطر رفتار و سیاست های سعودی ها، حمایت بیشتری داد تا مخالف. pic.twitter.com/IYXA7GgTmM
— Omid Memarian (@Omid_M) 13 mai 2016
Tragédia passada
No ano passado, o Haj foi marcado pela morte de mais de 2 mil peregrinos. Destes, 464 eram iranianos, esmagados durante a peregrinação à cidade mais sagrada do mundo muçulmano.
Em Teerão, os políticos afirmaram que Riade era incapaz de gerir o evento, uma posição que afastou ainda mais as duas potências regionais.
Reação saudita
O ministério saudita responsável pela peregrinação afirma que Teerão recusa-se a assinar um acordo que estabelece as regras para a participação deste ano, segundo um comunicado de imprensa divulgado pelo site estatal de notícias Sabq.
O comunicado afirma que o Irão exigia a emissão de vistos em território iraniano assim como uma distribuição equitativa de peregrinos entre companhias aéreas sauditas e iranianas.
As exigências iranianas foram consideradas inaceitáveis pelo ministro saudita responsável pelo Haj, Mohammed Bintin.
Hostilidade política
A monarquia sunita e conservadora da Arábia Saudita considera os xiitas do Irão como a maior ameaça à estabilidade no Médio Oriente, em particular devido ao apoio de Teerão às milícias xiitas que segundo os sauditas, teriam feito aumentar a violência sectária.
Os dois países estão envolvidos em duas crises no Médio Oriente, na Síria e no Iémen. Posições divergentes no seio da OPEP refletiram-se igualmente no mercado petrolífero.
Ausência prévia
Não é a primeira vez que os muçulmanos iranianos se encontram impedidos de participar na peregrinação sagrada. Antes da revolução islâmica, em 1943, um peregrino iraniano foi executado pelas autoridades sauditas o que levou Teerão a suspender a participação dos seus cidadãos por um período de cinco anos.
Em 1987, após a revolução iraniana, confrontos entre peregrinos xiitas e forças de segurança sauditas durante a peregrinação do Haj causaram centenas de vítimas de ambos os lados. A peregrinação foi suspensa para os iranianos durante três anos.