Ban Ki-moon: "A crise dos refugiados é uma questão de solidariedade global"

Ban Ki-moon: "A crise dos refugiados é uma questão de solidariedade global"
De  Nelson Pereira
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A euronews entrevistou em Bruxelas o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no quadro das Jornadas Europeias do Desenvolvimento.

A euronews entrevistou em Bruxelas o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no quadro das Jornadas Europeias do Desenvolvimento. O seu mandato aproxima-se do fim e por isso falámos com Ban Ki-moon dos sucessos conseguidos e dos desafios e prioridades que enfrentou.

Isabelle Kumar
O mundo parece estar atualmente paralisado, confrontado com várias crises. Não estamos a navegar em território desconhecido?

Ban Ki-moon
É verdade que enfrentamos muitos perigos e desafios, entre outros o movimento massivo de refugiados e migrantes e os ataques terroristas em vários pontos do mundo, mas ao mesmo tempo deveríamos olhar o futuro com otimismo. Os líderes mundiais estão vigilantes e comprometeram-se com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris contra as alterações climáticas.

Biografia: Ban Ki-moon

  • Ban Ki -moon é o oitavo secretário-geral da Organização das Nações Unidas
  • Está a cumprir o segundo mandato no cargo
  • O atual mandato termina em dezembro de 2016
  • O Secretário-Geral da ONU nasceu na República da Coreia, em 13 de junho de 1944 ---

Isabelle Kumar
O grupo terrorista Estado Islâmico parece ter conseguido roubar uma parte dessa esperança. A Organização das Nações Unidas tem um papel a desempenhar face a este fenómeno?

Ban Ki-moon
Em 2006, a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou a Estratégia Antiterrorista Global – muito ambiciosa e abrangente.

Isabelle Kumar
Não parece dar frutos…

Ban Ki-moon
A minha tarefa, a minha prioridade, é conseguir resultados. Por isso, no mês passado, apresentei à Assembleia Geral das Nações Unidas um plano de ação muito abrangente que visa prevenir o extremismo violento. Está agora nas mãos dos Estados membros, a ser negociado, e espero que seja rapidamente aprovado pelos Estados membros.

Isabelle Kumar
Mas se estamos nesta situação é porque a guerra na Síria continua, de vento em popa. As Nações Unidas estão bloqueadas entre os Estados Unidos e a Rússia. Consegue uma posição que permita conseguir progressos na Síria?

Ban Ki-moon
Estou a pedir mais ações concretas aos Estados Unidos e à Rússia, como co-presidentes do Grupo Internacional de Apoio à Síria (ISSG). Antes de mais, que todas as questões sejam resolvidas através da negociação política…

Isabelle Kumar
A impressão que fica é que o tempo da diplomacia passou, que a diplomacia está morta. Depois de tantas tentativas, se a diplomacia não funciona quais são as alternativas?

Ban Ki-moon
Há três áreas de ação em situações de crises, incluindo a Síria. Antes de mais, temos de enfrentar e travar a violência para que possamos ser capazes de prestar assistência humanitária a milhões de pessoas. Temos vidas a salvar. Ao mesmo tempo, temos de resolver todas estas questões através do diálogo político inclusivo.

Isabelle Kumar
Conta que as coisas avancem antes do fim do seu mandato?

Ban Ki-moon
O nosso prazo é agosto, 1 de agosto. Parece muito ambicioso, restam menos de dois meses, são necessários todos os esforços e iniciativas criativas e concretas.

Isabelle Kumar
Mudando de localização geográfica, face a uma Europa dilacerada por múltiplas crises, como vê o futuro da Europa se continuarmos no mesmo curso?

Ban Ki-moon
Entendo a grandeza dos desafios que os países europeus enfrentam, em particular as consequências do movimento maciço de refugiados e migrantes. Esta parece ser uma crise de números, de milhares ou dezenas de milhares de pessoas, mas é uma questão de solidariedade global e compaixão.

Isabelle Kumar
Que parece estar em falta nos dias de hoje…

Ban Ki-moon
Está em falta, sim. Em 19 de setembro, propus a realização de uma reunião de cúpula nas Nações Unidas e estou certo de que todos os líderes do mundo estarão presentes, incluindo os líderes europeus. Vamos em primeiro lugar, tentar perceber quais são as causas, como podemos proteger a dignidade humana e os direitos humanos dos refugiados e como intregá-los na sociedade abrindo mais vias legais. Deveríamos igualmente apreciar a contribuição valiosa que estes refugiados e migrantes trazem às comunidades que os acolhem.

Isabelle Kumar
Quando fala de unidade, uma das poucas vezes que o mundo falou a uma voz foi com o Acordo de Paris contra as alterações climáticas. Considera-o o maior sucesso do seu mandato?

Ban Ki-moon
Foi um dos momentos de maior orgulho para mim, neste mandato. Consagrei toda a minha energia e paixão para conseguir o acordo sobre as alterações climáticas.

Quando assumi o cargo de secretário-geral não havia muita discussão sobre as alterações climáticas, houve quem na minha equipa me tivesse dito que seria demasiado complicado, politicamente muito arriscado, que não conseguiria. A minha resposta era que não temos nenhum “plano B” porque não temos um “planeta B”.

Isabelle Kumar
Preocupa-o o resultado das presidenciais americanas. O acordo poderia ser abortado, se por exemplo ganhasse Donald Trump, que se opõe ao acordo de Paris?

Ban Ki-moon
Não quero fazer comentários sobre um dos presumíveis candidatos presidenciais dos Estados Unidos, mas quanto ao debate sobre se a mudança climática está realmente em curso, essa questão está esclarecida.

Isabelle Kumar
Mas o acordo poderia ser prejudicado?

Ban Ki-moon
A questão está ultrapassada. O mundo inteiro percebeu que a mudança climática está a acontecer muito mais rápido do que se pensava. Este é um tratado internacional e um compromisso e estou certo de que os Estados Unidos vão continuar a garantir um bom trabalho, quem quer que seja o novo presidente.

Isabelle Kumar
Finalmente, como avalia o seu mandato? Acha que tem sido um bom secretário-geral?

Ban Ki-moon
Esse julgamento cabe aos historiadores e ao mundo. O que posso dizer é que tenho dedicado todo o meu tempo, energia e paixão a trabalhar em conjunto com os Estados membros para tornar este mundo melhor, em termos de desenvolvimento sustentável, alterações climáticas, igualdade de géneros e atribuição de maior poder à juventude. É isto que tenho feito e tenho encontrado todo o tipo de pessoas. Tenho procurado ser a voz daqueles que não têm voz e defensor das pessoas indefesas em todo o mundo.

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