Brexit: Expetativas mistas em Paris

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Visto de Paris, o possível Brexit tem um sabor misto.

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Visto de Paris, o possível Brexit tem um sabor misto. Por um lado, a França sabe que a saída do Reino Unido fragiliza a Europa, aumenta a supremacia alemã e abre um precedente bastante perigoso. Por outro lado, o mundo francês da finança começa a deitar contas aos possíveis ganhos financeiros com o enfraquecimento de uma city fora da zona euro, para além de que, sem a exceção britânica, a Europa pode teronar-se mais fácil de gerir.

François Holande, o presidente, tenta manter algum pragmatismo, ao mesmo tempo que manda recados aos eleitores britânicos:

“A Grã-Bretanha deve continuar na União Europeia, esta é a minha vontade. Mas, ao mesmo tempo, é preciso que a União avance e nenhum país pode ter um direito de veto. Nenhum país deve excusar-se às regras comuns e às autoridades comuns”, afirmou em fevereiro.

Noutra ocasião, acrescentou:
“Eu não quero incrementar receios, mas é preciso dizer a verdade. Haverá consequências se o Reino Unido deixar a União Europeia. Haverá consequências em muitos domínios”.

E já neste mês de junho, lembrou:
“Há mais de 20 anos foi construída uma infraestrutura que liga a França e o Reino Unido: o túnel sob a Mancha. Desde aí, estamos unidos como nunca estivémos e espero que os britânicos vão pensar nisso no dia de votar”.

Convém não esquecer que, apesar do túnel da Mancha, nos últimos 20 anos, a vontade dos súbditos de sua magestade de cortarem o cordão tem vindo sempre a crescer.

No quadro da nossa cobertura sobre o Brexit exploramos diferentes perspetivas internationais. Temos connosco Agnes Benassy Quéré, para conhecer o ponto de vista de Paris.

Sophie Desjardin, euronews: Enquanto economista e vice-presidente do Conselho de Análise Económica junto do primeiro-ministro, pode dizer-nos que resultado deseja Paris para este referendo e porquê?

Agnes Benassy Quéré: “É óbvio que interessa à França que o Reino Unido permaneça na União Europeia. Não esqueçamos que o Reino Unido é um parceiro comercial extremamente importante para a União Europeia e para a França, em particular.
É um parceiro mais importante que os Estados Unidos e não temos interesse em que um importante parceiro comercial seja enfraquecido, pois o Brexit enfraqueceria muito provavelmente o Reino Unido. Em períodos de incerteza, a tendência dos mercados financeiros é de se fixarem sobre os ativos considerados mais seguros e, portanto, livram-se dos menos seguros e, claro, há riscos financeiros muito importantes a curto prazo. A um prazo mais longo, o risco é político com efeitos de bola de neve e outros estados a reclamarem também referendos”.

E: Há também quem defenda, nos meios políticos e entre os economistas, que uma saída da Grã-Bretanha poderia ser benéfica para a União Europeia. Que pensa desta opinião?

A.B.Q: “Seria verdade se os parceiros europeus fora do Reino Unido tivessem um plano bem articulado para avançar na integração e o Reino Unido fosse um obstáculo a essa integração, mas não é o caso. Na realidade, não é o Reino Unido que impede a França e a Alemanha de concluirem um acordo de finalização do projeto de união bancária ou de união orçamental que permitiriam levar mais longe a integração europeia. Não me parece que essa argumentação seja sólida, pois não existe esse plano de integração. Na verdade, alguns analistas esperam que a city de Londres seja parcialmente desmantelada com o Brexit. Provavelmente há atividades que vão partir, mas não partirão necessariamente para Paris. Será mais provável para Frankfurt, Dublin ou mesmo Amesterdão”.

E: No entanto, o governo francês já se lançou na corrida aos banqueiros da city…

A.B.Q: “Claro, e Paris tem vantagens inegáveis nesta corrida, mas a concorrência é salutar e Paris não é a única cidade a poder recuperar atividades financeiras, por isso não penso que seja correto contar com isso para dizer que, por esta razão, seria bom se o Reino Unido deixasse a União Europeia”

E: A longo prazo, que o resultado seja positivo ou negativo, quais serão as consequências para a Europa e como salvá-la?

A.B.Q: “Como salvar a Europa em caso de Brexit? Há um elemento político: resistir à tentação da fazer referendos noutros países. Sabemos bem que os povos não respondem necessariamente à questão que lhes é colocada. É extremamente perigoso construir a Europa politica a partir de referendos; outro elemento é utilizar a mensagem britânica sobre uma outra Europa e propôr aos cidadãos europeus uma Europa mais próxima do que eles esperam, com mais atenção sobre a situação das pessoas.
É claro que, o facto de o Reino Unido deixar a União Europeia significa que, do ponto de vista económico, há uma reorientação. O Reino Unido sempre fez pressão para políticas mais liberais, mais abertas. Será que, sem o Reino Unido, os países europeus resistem às tentações protecionistas? Esta é também uma questão. Se o Reino Unido parte, haverá um desequilíbrio ainda maior na União, com uma Alemanha ainda mais forte. Ao mesmo tempo, há uma espécie de clarificação porque o acordo que foi alcançado para o caso do Reino Unido ficar é muiuto dificil de aplicar, por isso, do ponto de vista da governação, é verdade que, sem o Reino Unido, as coisas serão um pouco mais simples”.

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