Euro2016: Avó de Éder celebrou o golo do "grande orgulho" de Bissau

Euro2016: Avó de Éder celebrou o golo do "grande orgulho" de Bissau
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De  Francisco Marques com LUSA
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Passavam cerca de 15 minutos das 21 horas, em Bissau (duas horas mais em Paris) quando a capital de guiné-Bissau explodiu de alegria. Éder, um filho da terra, onde viveu até aos quatro anos, tinha acabado de marcar golo no Stade de France e, aos 109 minutos do prolongamento, colocou Portugal a ganhar à França, na final do Euro2016.

Ricardina Lopes, a avó de Éder, ficou levantada até mais tarde que o habitual, mas valeu a pena: nas ruas, o neto que criou, era aclamado como o novo orgulho da Guiné-Bissau.

Na avenida havia buzinas e gritava-se por Portugal, mas não só. Ricardina, amparada por familiares, foi à porta de casa – a mesma casa onde criou Éder até aos quatro anos. As origens do jogador da seleção portuguesa estão no Bairro da Ajuda, em Bissau.

A idade já não permite a Ricardina falar muito, mas percebe-se o que quer dizer: “Fiquei contente e é um grande orgulho para mim”, sussurrou para os vizinhos e bate palmas quando lhe dizem que criou um herói do futebol, o homem que marcou o golo que fez de Portugal o novo campeão europeu de futebol.

Ao lado de Ricardina, Dírcia Lopes, prima de Éder, chora a cada duas ou três frases: “É muita emoção”. éder terá puxado o jeito precoce para a bola a um tio mais velho, recorda o vizinho Mamudo Djao, também ele um “tio” de Éder, mas emprestado pela afinidade com a família.

A mercearia do bairro — paredes meias com a casa de Ricardina — tem uma pequena televisão que serviu para toda a gente das redondezas ver os jogos de Portugal neste Euro2016. “Hoje por um triz isto não veio abaixo. Quando foi golo, toda a gente gritou muito. Este é o golo crucial da vida do Éder”, conclui Djao.

Timor-leste sem dormir para celebrar

Passava pouco das 06 horas da manhã em Dili, Timor-Leste, quando Éder marcou para Portugal. A festa estava preparada há muita. Os timorenses confiavam na seleção de Fernando Santos. Em mais de 50 pontos da capital timorense foram preparados locais especiais para acompanhar a transmissão do jogo. Após o apito final, a festa rebentou como se fosse no Marquês de pombal. Colunas de veículos, entre carros, camionetas de caixa aberta, motociclos, encheram as ruas de Dili. Bandeiras portuguesas ao alto, gritos efusivos, fotos de Cristiano Ronaldo, camisolas com as quinas.

Timor-Leste uniu-se à festa que cresceu de Portugal para todo o mundo lusófono. Esta foi uma vitória do português, da língua, da cultura, de um povo espalhado há séculos pelos quatro cantos do planeta.

Em Timor Leste 100% apoio Portugal para ganhar tama euro2016…!! Vamoss Portugal pic.twitter.com/DkWekSkKre

— AJL East Timor (@AureljemoAurel) 11 de julho de 2016

Cabo Verde celebra Portugal em crioulo

A vitória de Portugal no Euro2016 foi festejada efusivamente em Cabo Verde, com dezenas de pessoas, entre cabo-verdianos e portugueses, a saírem às ruas com gritos, palmas, saltos, abraços, buzinões e muita alegria. Pela segunda vez, o Centro Cultural Português (CCP) da Praia abriu as portas nos jogos do Euro2016, para ser um dos muitos palcos onde cabo-verdianos e portugueses assistiram ao jogo da final. O português e o crioulo misturaram-se nos cânticos de apoio à seleção, com palmas a cada lance e a cada recuperação de bola, e ansiedade e o nervosismo. Após 120 minutos de jogo, um golo de Éder e a vitória começou a festa com toda a gente a gritar bem alto “campeões, campeões, Portugal, Portugal.”

Depois da entrega da taça, cabo-verdianos e portugueses saíram às ruas da cidade da Praia com buzinões, cânticos e a exibirem orgulhosamente a bandeira portuguesa na capital cabo-verdiana. “Ó li, ó lá, é nós qui ta manda (ou aqui, ou ali, nós é que mandamos”), gritava-se em crioulo.

Angola na festa da lusofocnia

Portugueses e angolanos festejaram em Luanda a vitória de Portugal no Euro2016, numa festa a que nem o embaixador de Itália em angola faltou e que foi especial para uma guineense. Tal como o avançado português, Janine Barbosa nasceu na Guiné-Bissau e juntou-se à festa de domingo com mais de uma centena de portugueses e angolanos no Centro Cultural Português – Camões de Luanda, numa iniciativa da embaixada portuguesa.

“Estou emocionadíssima e muito contente por ser um guineense, de Bissau, da minha terra. E claro, por ser Portugal”, explicava à Lusa esta emigrante em Angola, confessando sentir-se “sempre” portuguesa nesta alturas. “A lusofonia é o que conta para nós”, garantia Janine Barbosa.

O golo de Éder até chegou alguns segundos mais cedo ao angolano Domingos Barros, que na sala do Centro Cultural Português ouvia o relato da rádio portuguesa Antena 1 em simultâneo com um dos canais da Rádio Nacional de Angola. O atraso de alguns segundos da transmissão televisiva para a radiofónica foi suficiente para o deixar a festejar na sala, literalmente sozinho.

“Praticamente, transmiti em primeira instância a grande alegria da seleção portuguesa. Senti-me muito feliz”, contou à Lusa o jovem angolano, garantindo que entre os dois povos não há rivalidades: “Somos filhos de Portugal.”

O embaixador de Itália em Luanda, Claudio Miscia, explicou à Lusa ter particpado na iniciativa da embaixada portuguesa por que foi convidado, mas não só: “Depois que a Itália saiu da ‘copa’, eu passei a torcer por Portugal. Eu tenho um antepassado português, de Vila Real de Trás-os-Montes, por isso uma parte de Portugal está no meu coração e no meu sangue também.”

Claudio Miscia assistiu ao jogo ao lado do embaixador português, João Caetano da Silva, que, em declarações à Lusa, encarava com naturalidade a festa feita por angolanos e portugueses no Camões, mas também em todo o país. “Já antes sentia o apoio da grande maioria, incondicional, à seleção portuguesa. É ainda mais significativo e emocionante viver esta festa aqui em Angola, onde a maioria da população vai vibrar com a vitória de Portugal”, garantia o embaixador português.

Logo ao lado, de bandeira nacional nas mãos, estava Carlos Martins, um emigrante português em Angola há cinco anos e que não escondia o “sabor especial” desta vitória, por estar longe de casa: “Nós, que estamos fora do nosso país, vivemos isto de uma forma diferente. Na realidade, mostrámos que Portugal é um grande país, com um grande líder.”

Com 16 anos de vida emigrante em Angola, Paulo Valadas confessava, igualmente, “um sentimento especial” pela vitória portuguesa, face à distância de casa. “Tudo o que é vivido à distância parece que é vivido com mais intensidade”, atirava, vendo sem surpresa a festa que também os angolanos faziam: “Estava à espera. Eu sei que os angolanos têm no coração deles um espaço reservado para os portugueses, em particular para os clubes portugueses e a seleção portuguesa.”

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Brasília, São Paulo e Scolari a vibrar

O antigo selecionador de Portugal Luís Filipe Scolari, o primeiro a convocar Cristiano Ronaldo para a principal equipa das quinas, considera que Portugal conseguiu acertar as contas com a história depois do título europeu perdido em 2004 para a Grécia, sob o seu comando. “Deus escreve certo por linhas tortas. Hoje Portugal conseguiu resgatar aquele título que nós perdemos em 2004. Fiquei muito contente”, disse o “Sargentão”, em declarações a partir do Brasil à Sport TV.

Vasco parabeniza Portugal por título da Euro: 'No futebol és o traço de união Brasil-Portugal' https://t.co/sLTiZlvi3l

— NETVASCO (@Netvasco) 10 de julho de 2016

Sobre o jogo, que viu na íntegra, Scolari admitiu ter pensado “nos momentos iniciais” que Portugal “ia ter muitas dificuldades”. “Pelo ritmo e pela forma como a França estava a jogar. Mas depois deixei de ter preocupação e até se fôssemos aos penaltis estava tranquilo”, afirmou.

Luís Filipe Scolari acrescentou que a saída de Cristiano Ronaldo por lesão, após uma entrada dura do francês Dimitri Payet, acabou paradoxalmente por ter um bom efeito. “A equipa uniu-se de tal forma que, a partir daquele momento, Portugal só teve uma primeira dificuldade quando houve um remate à trave. Depois Portugal foi dono, impôs uma maneira de jogar. Muitas vezes quem tinha a bola era a França, mas sem penetração nenhuma”, comentou.

“Parabéns, festejam porque esse foi o título que Portugal merecia há muito tempo”, rematou o treinador brasileiro.

Em São Paulo, centenas de portugueses e luso-brasileiros reuniram-se na Casa de Portugal para acompanhar a final do Euro2016. Cerca de mil pessoas terão acompanhado ali o jogo, numa iniciativa que tinha entrada livre e contou com grande participação. Senhoras idosas, mulheres, homens, jovens e crianças, todos vestidos de vermelho e verde, as cores da bandeira de Portugal.

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Armando Lopes Batista, membro da comunidade portuguesa no Brasil, disse à Lusa, antes do jogo, que a seleção venceria por 1-0. Vibrou como uma criança após o golo de Portugal. “A sensação de vencer a ‘Eurocopa’ é muito boa. Nossa Senhora de Fátima ajudou Portugal”, afirmou.

No final da partida, a festa estendeu-se pela Avenida Liberdade, onde fica a Casa de Portugal de São Paulo, com adeptos a sair com bandeiras portuguesas e a comemorar no meio do trânsito. Carros buzinaram em apoio à vitória portuguesa e muitos adeptos disseram que a festa não tinha hora para acabar.

A vitória da seleção portuguesa foi festejada em euforia também na capital do Brasil. Cerca de 300 pessoas reuniram-se na embaixada portuguesa, em Brasília, num ambiente que lembrava os estádios de futebol em Portugal, com bifanas e cerveja.

O português João Guilherme Peixoto ficou sem voz no final do jogo, mas ainda conseguiu contar à Lusa que viver este momento fora de Portugal, com outros portugueses, tem um sabor mais “especial”. “Ganhámos isto na garra, por isso teve um sabor ainda mais especial. Ganhar uma final com a França, sem o Ronaldo”, que tem qualidade técnica e carisma, revelou o “suor” e o “sangue” da equipa portuguesa, elogiou o português, que ainda se juntou a um pequeno grupo para buzinar pela cidade.

Pedro Vasconcelos vive há décadas no Brasil, por isso descreveu “uma alegria imensa e 40 anos de grito sufocado”. Marília Alves, juntamente com Teresa Mota, chegou ao local já no final do jogo para partilhar a alegria, que ganha outro sabor estando “fora de Portugal”.

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“Nunca pensei poder viver este momento inesquecível aqui na embaixada. Este ambiente de portugueses, luso-brasileiros e diplomatas estrangeiros que estão aqui e que vieram festejar connosco a vitória de Portugal deixa-me uma recordação muito boa”, disse o embaixador português em Brasília, Francisco Ribeiro Telles, que deixa o cargo este ano.

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