Alemanha: Entre a dor, algum medo e a preocupação

Alemanha: Entre a dor, algum medo e a preocupação
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De  Nara Madeira
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A dor e, em alguns casos o medo, que começa a transparecer na Alemanha, após a série de ataques mortais, o mais grave em Munique na sexta-feira, 22 de julho.

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A dor e, em alguns casos o medo, que começa a transparecer na Alemanha, após a série de ataques mortais, o mais grave em Munique na sexta-feira, 22 de julho. O alarme antiterrorismo foi ativado na capital bávara na sequência de um tiroteio que matou 9 pessoas, mas que foi desativado pouco depois. O atirador, um jovem, um alemão de ascendência iraniana, suicidar-se-ia poucos depois.

Thomas de Maiziere, o ministro do Interior alemão, tentava não criar o pânico e evitar reações extemporâneas:

“Eu compreendo que muitas pessoas estejam, particularmente preocupadas, pelo facto dos ataques em Nice, Wuerzburg e agora Munique terem acontecido uns a seguir aos outros. Eu também estou. Mas temos de investigar e avaliar os antecedentes, as circunstâncias e os motivos que levaram a cada ataque, individualmente”, explicava Maiziere.

Numa semana aconteceram quatro ataques em solo alemão, nem todos identificados, pelas autoridades como terroristas. A maior parte cometida por refugiados. Alguns deles a Alemanha liga a problemas psiquiátricos.

Estes eventos violentos podem minar, de alguma forma, a política de asilo da Alemanha. Isto apesar das autoridades locais insistirem no facto de que cada caso é um caso.

O país acolheu, desde o outono passado, milhares de refugiados afegãos, sírios e iraquianos. A Baviera, onde ocorreram três destas tragédias, é uma das portas de entrada destes refugiados.

No início do ano, as autoridades locais mostravam preocupação:

“Vamos continuar a apelar, constantemente, politicamente, também de forma legal, a uma limitação. Pedimos que se ponha fim aos graves erros cometidos em Berlim. É um grave erro que a disponibilidade do governo do estado da Baviera para participar na proteção da fronteira, com a polícia bávara, tenha sido, até agora, rejeitada”, adiantava Horst Seehofer.

Uns dias antes destas declarações, na sua tradicional mensagem de fim de ano, a chanceler alemã, Angela Merkel, continuava a dizer que a sua política de abertura do país aos refugiados era um desafio que o país poderia ultrapassar.

“É importante que não sigamos aqueles que com frieza, ódio nos seus corações, fazem reivindicações à Alemanha quando eles próprios tenta excluir os outros”, afirmou Merkel.

Resta saber o que acontecerá a seguir, quais serão as consequências de acontecimentos como os últimos, e da política da chanceler, na Alemanha, a menos de um ano das eleições legislativas às quais Angela Merkel poderá recandidatar-se.

Kranzniederlegung am Tatort durch Herrn Seehofer,OB Reiter,Frau Stamm & Innenminster Herrmann auch in unserem Namen. pic.twitter.com/ewl02cVQZW

— Polizei München (@PolizeiMuenchen) 23 de julho de 2016

Para debater a ameaça do terrorismo na Alemanha e noutras potências europeias, a euronews entrevistou Simon Mabon, especialista em extremismo e política do Médio Oriente.

Nial O’ Reilly/euronews: “Para debater a ameaça do terrorismo na Alemanha e noutras potências europeias, junta-se a nós Simon Mabon, especialista em extremismo e política do Médio Oriente. Tem havido um surto de ataques por parte de migrantes na Alemanha, excluindo o da passada sexta-feira, que não parece entrar na mesma categoria. Será que grupos nacionalistas como o Pegida, na Alemanha, têm alguma razão quando reivindicam que a migração é uma ameaça à segurança do seu país?”

Simon Mabon/analista político: “Penso que é uma questão muito importante, que deve ser debatida, sobretudo à luz do que tem acontecido nos últimos meses. Há claramente um aumento maciço das tensões entre diferentes identidades culturais que existem na Alemanha e na Europa em geral.
O fluxo de pessoas vindas da Síria, do Iraque, da Líbia e de outras partes do Médio Oriente trouxe uma série de desafios para uma grande parte dos países europeus. Essa realidade coloca desafios ao nível das identidades, das economias, da segurança em sociedade de muitos Estados e, como consequência, começamos a ver grupos como Pegida a estigmatizar alguns desses grupos de migrantes, tentando recuperar o que consideram ser as suas identidades nacionais. É algo muitas vezes feito em tom violento e que amiúde leva a ataques aos migrantes. É claro que os migrantes fogem de uma zona de conflito, fogem da perseguição, da morte, de elevados níveis de discriminação enraizada nos seus países de origem. Vivem-se momentos de grande incerteza e essa incerteza gera o caos e, muitas vezes, gera violência. Certificar-se de que as pessoas se sentem mais confortáveis com as suas identidades culturais, nos sítios onde moram e na forma como se relacionam entre si, é absolutamente crucial se quisermos efetivamente ter uma estratégia para impedir futuros ataques”.

Nial O’ Reilly/euronews: “Está muito claro que, neste momento, há vários países da Europa que são alvos preferenciais de grupos como o Daesh e a Al Qaeda. A França tem sido afetada por esses ataques em grande escala. Mas será que a Alemanha passou a ser um potencial alvo?”

Simon Mabon/analista político: “Tem razão sobre a França e tal deve-se à grande percentagem de população de origem muçulmana nesse país em conjugação com o grande número de ataques feitos com a ajuda da França no território ocupado pelo Daesh. Mas acho que o caso da Alemanha é um pouco diferente. O Daesh está a tentar provocar um ambiente de grande medo e de consternação, está a tentar difundir a chamada narrativa do Dar al-Islam contra Dar al-Harb, ou seja, a ideia do Islão a lutar contra o resto do mundo. Neste momento, a aposta é atingir tantas pessoas quanto possível, não importa se é em França ou na Alemanha, o que querem é atacar. Mas é preciso esforços para deixar as pessoas mais confiantes, dar condições para os migrantes se sentirem mais seguros. Se conseguirmos que se sintam mais respeitados nas suas identidades culturais e com a proteção de que necessitam, então haverá mais hipóteses de evitar que ocorram novos ataques”.

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