"A comunidade internacional continua a dizer que já não há guerra no Afeganistão"

"A comunidade internacional continua a dizer que já não há guerra no Afeganistão"
Direitos de autor 
De  Euronews
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

A intensificação dos conflitos no Afeganistão pode gerar uma nova vaga massiva de migração para a Europa.

A intensificação dos conflitos no Afeganistão pode gerar uma nova vaga massiva de migração para a Europa. Que soluções têm os milhares de afegãos que já procuram refúgio no Velho Continente, mas que não conseguem obter asilo, porque se considera que o seu país de origem vive num contexto de “pós-conflito”? O Insiders falou comEugenio Ambrosi, da Organização Internacional para as Migrações (OIM), eJean-François Corty, dos Médicos do Mundo.

Sophie Claudet, euronews: Os requerentes de asilo afegãos quadruplicaram em 2015, comparando com o ano anterior. Face à violência no país, é expectável uma chegada massiva de afegãos à Europa nos próximos meses ou mesmo anos?

Jean-François Corty: Há vários fatores que fazem com que os afegãos estejam a abandonar algumas regiões, onde os conflitos voltaram a intensificar-se. Os talibãs recapturaram várias províncias. Temos assistido a uma nova vaga de ataques com balanços pesados em termos de vítimas mortais. A instabilidade está a agravar-se. Mas a comunidade internacional continua a dizer que já não há guerra no Afeganistão. Os afegãos são também alvo de pressão noutros sítios, nomeadamente nas zonas de domínio tribal no Paquistão, áreas que são instáveis e onde centenas de milhares de refugiados do Afeganistão procuram sobreviver. Há também entre um milhão e um milhão e meio de refugiados afegãos no Irão. Muitas famílias fugiram também desse país, em direção à Turquia e à Grécia, porque os homens estavam a ser chamados para lutar ao lado das forças iranianas na Síria contra o grupo Estado Islâmico. Isto é: a comunidade afegã encontra-se sob forte pressão. Por isso, é expectável que continuem a fugir de zonas onde enfrentam a estigmatização ou mesmo risco de vida.

Eugenio Ambrosi: É difícil dar números específicos. Mas sabemos que a Europa vai ter de continuar a enfrentar este problema que irá agravar-se consideravelmente, sobretudo se piorar a instabilidade nos países em causa.

euronews: Os afegãos estão no fundo da lista na atribuição de asilo. A Europa poderá rever esta política, face à intensificação dos conflitos?

JFC: Aquilo que temos de debater neste momento é o conceito de regresso voluntário ao Afeganistão tal como a Europa o preconiza. Trata-se de incitar as famílias afegãs a regressarem ao seu país prometendo condições favoráveis. Mas eu questiono este princípio de regresso voluntário. Estamos a falar de afegãos que vivem em condições miseráveis nos campos de refugiados na Grécia, que chegaram há meses com os seus filhos, que não vislumbram qualquer futuro. E depois, face a esta situação, acham que não têm outra escolha senão voltar para casa. A Europa tem de reforçar a capacidade de proteger estes afegãos.

euronews: É a Organização Internacional para as Migrações que se encarrega de organizar os regressos voluntários da Grécia… Que resposta tem a dar a Jean-François Corty? Estes regressos são realmente voluntários?

EA: Eu estou de acordo com a ideia de que a Europa tem a responsabilidade de reforçar a proteção dos afegãos, assim como doutras nacionalidades que não são atualmente consideradas prioritárias. É óbvio que os requerentes de asilo sírios estão a ter um tratamento diferente dos eritreus, dos afegãos ou outras nacionalidades. Mas a verdade é que há pessoas que vêm ter connosco a pedir ajuda para voltar para casa. É preciso tomar muitas precauções quanto aos regressos voluntários. As pessoas não são enviadas assim sem mais, nem menos, de volta para o Afeganistão. Primeiro, analisamos com rigor as eventuais ameaças à segurança e os possíveis riscos que podem enfrentar. Mesmo assim, há vários casos de cidadãos afegãos que decidem não prosseguir a migração para a Europa.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

O limbo dos refugiados afegãos que vivem no antigo aeroporto de Atenas

Os tradutores afegãos que a França deixou à sua sorte

França depois dos atentados de 2015