Colômbia: A paz nas mão dos colombianos

Colômbia: A paz nas mão dos colombianos
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Um momento histórico, a última reunião magna das FARC enquanto exército rebelde.

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Um momento histórico, a última reunião magna das FARC enquanto exército rebelde. Ao fim de uma semana de discussões, os participantes deram luz verde ao acordo de paz, no último fim de semana, e alimentaram a esperança de que a Colômbia pode finalmente pôr fim a cinco décadas de guerra civil. O cessar-fogo está em vigor desde o dia 29 de agosto.

“Referendámos unanimemente o acordo final para acabar com o conflito e para a construção de uma paz estável e duradoura, com a convicção firme de que nele se encontram consignados os alicerces para conseguir as transformações que reclamam as grandes maiorias e o país inteiro” – afirmou solenemente o dirigente máximo das FARC, Rodrigo Londono, também conhecido por “Timochenko”.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o governo de Bogotá iniciaram as conversações de paz em Cuba, em novembro de 2012. As concessões aos guerrilheiros e que tipo de justiça teriam de enfrentar foram os pontos-chave das negociações.

Foi com uma satisfação enorme que o presidente colombiano, Juan Santos, apresentou o texto final na Assembleia Geral da ONU, no dia 21 de setembro:

“É a primeira vez que se colocam as vítimas no centro da solução do conflito, os seus direitos, os direitos à verdade, à justiça, à indemnização e à não-repetição.”

O acordo de paz estabelece que o governo e os rebeldes devem disponibilizar terras, dinheiro e serviços às zonas mais desfavorecidas para ajudar a população. As FARC transformam-se num partido político com 10 mandatos no Congresso que conta 268 assentos. Os sete milhares de combatentes rebeldes devem também entregar as armas no prazo de 180 dias e integrar uma das 28 zonas de desarmamento estabelecidas pela ONU. As FARC concordaram parar com a produção de cocaína nas áreas que controlam e assim ajudar o governo na guerra à droga. O governo de Bogotá compromete-se a ajudar os agricultores a mudar de modo de subsistência. Os crimes políticos vão ser amnistiados, enquanto os massacres, os atos de tortura e a violência sexual serão alvo da justiça. Algumas vítimas criticam a possibilidade de os dirigentes rebeldes escaparem assim a eventuais condenações.

A guerra matou cerca de 260 mil colombianos, civis na sua esmagadora maioria, e provocou mais de seis milhões de deslocados. Mas o acordo não agrada a todos. Os colombianos são agora chamados a decidir em referendo se dão esta oportunidade à paz.

Um dos movimentos que agiu como mediador no longo processo de negociações foi a Comunidade de Santo Egídio, um movimento italiano de inspiração católica. Gianni La Bella foi um dos mediadorese falou do processo à Euronews.

Gianni La Bella, o senhor testemunhou a assinatura do acordo e acabou de chegar da Colômbia. Pode descrever-nos a atmosfera que se vive no país? As pessoas acreditam neste acordo?

Gianni La Bella: A assinatura do acordo, em Cartagena, foi acolhida com grande entusiasmo e alegria. Os colombianos estão à espera da paz há 52 anos e a cerimónia de assinatura foi seguida por todo o país. Contudo as explosões de alegria misturam-se com preocupações e muita gente tem dúvidas. As pessoas querem a paz mas receiam que o processo não vá até ao fim ainda desta vez.

Euronews: Os políticos colombianos da ala direita criticaram fortemente o acordo. Este foi o melhor compromisso que poderiam alcançar.?

G.L.B: “É um acordo muito complexo, com mais de 290 páginas, que vai guiar o processo de paz. Como todos os acordos baseia-se em compromissos, mas vai demorar ainda muito tempo até à reconciliação. Agora, o que é importante é transformar os compromissos em ações concretas, que tenham repercussões na vida das pessoas e na sociedade colombiana”.

E: As negociações arrastaram-se por quatro anos. Indubitavelmente houve momentos críticos. Chegou a pensar que poderiam falhar?

G.L.B: “Penso que o mais crítico foi negociar a transição para um quadro de justiça. O que fazer com os guerrilheiros das FARC. Se seriam julgados e presos, ou não. Estas foram as negociações mais difíceis e demoraram meses. Muita gente trabalhou para se encontrar uma solução inovadora que conjugue a justiça não só punitiva, mas também integração na sociedade civil”.

E: O que vai acontecer neste 3 de outubro?

G.L.B: “Assim que o governo anunciar os resultados do referendo, o acordo começará a ser implementado progressivamente, de acordo com o calendário estabelecido. Os guerrilheiros das FARC vão mudar-se progressivamente para áreas transitórias, uma espécie de novas aldeias e, pouco a pouco, vão entregar as armas e passar a ser protegidos de eventuais represálias por uma força governamental, para começarem a enfrentar os processos judiciais”.

E: A Comunidade de Santo Egídio vai acompanhar de perto a implementação do acordo. Quanto tempo precisará a Colômbia para atingir a estabilidade?

G.L.B: “Muito, muito tempo. Claro que tentámos prever no acordo todas as medidas para facilitar a implementação, mas isto tem que passar pelo coração e pela cabeça do povo colombiano. O acordo é suposto mudar comportamentos e atitudes e isso não acontecerá de um dia para o outro. É muito importante que a comunidade internacional, a sociedade civil e a igreja façam grandes esforços para ajudar o processo de reconciliação”.

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