"Cada vaga migratória obriga a uma reflexão sobre os direitos das mulheres"

"Cada vaga migratória obriga a uma reflexão sobre os direitos das mulheres"
De  Euronews
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Não é o passado: o casamento forçado e a mutilação genital feminina acontecem em quase toda a Europa. O Insiders falou com a socióloga Isabelle Gillette-Faye.

Não falamos de algo distante no tempo e no espaço: o casamento forçado e a mutilação genital feminina acontecem um pouco por toda a Europa. É quase impossível apresentar números exatos sobre a ocorrência destes fenómenos, uma vez que costumam suceder no maior dos segredos, no seio das próprias famílias. No entanto, as estimativas indicam, por exemplo, que há cerca de 500 mil mulheres na União Europeia que terão sido vítimas de excisão. O Insiders falou comIsabelle Gillette-Faye, socióloga francesa e responsável peloGrupo de Abolição das Mutilações Sexuais Femininas e Casamentos Forçados.

Sophie Claudet, euronews: Qual é exatamente a origem histórica deste ritual de mutilação genital feminina?

Isabelle Gillette-Faye: É uma prática que conseguimos identificar já no século VI antes de Cristo, ou seja, antes mesmo do aparecimento das religiões judaica, cristã e islâmica. Mas foi na África Oriental que ela se desenvolveu, especificamente na região do Nilo. Depois alcançou outras regiões, nomeadamente a África Ocidental e a América Central. Trata-se de um ritual que se acreditava ter o poder de aumentar a fertilidade das mulheres e mesmo da terra. Estamos a falar de um ritual animista.

Spot Vidéo #Générosités GAMS Excision, mariages forcés https://t.co/FUluGe1Oag

— Federation GAMS (@FederationGAMS) 7 de outubro de 2016

euronews: Alguns países europeus criaram leis específicas para criminalizar o casamento forçado. As medidas repressivas funcionam realmente neste tipo de contextos?

IGF: Alterar o comportamento da população-alvo deste tipo de problemática implica, por um lado, uma abordagem preventiva centrada nos adultos, e por outro, ações de sensibilização focadas nos adolescentes. Nos casos onde nenhuma destas medidas funciona, é de facto necessário passar para as medidas repressivas.

euronews: Há algum país europeu que se tenha destacado nos resultados obtidos pelas políticas de prevenção de casamentos forçados ou da mutilação genital feminina?

IGF: No que diz respeito à mutilação genital feminina, a França é um dos países que mais se tem debruçado sobre a questão. Há processos judiciais que remontam ao início dos anos 80, assim como campanhas de sensibilização, formação de profissionais… Ou seja, há cerca de trinta anos que os franceses trabalham nesta problemática de forma muito ativa, tanto a nível associativo, como do poder central. No que toca ao casamento forçado, a Inglaterra é um dos exemplos mais conseguidos. Há muito tempo que implementaram uma força policial que pode intervir nos aeroportos para impedir a saída de raparigas do Reino Unido para serem obrigadas a casar-se noutro país. Também organizam campanhas de sensibilização, criaram uma linha telefónica de emergência e oferecem estruturas de acolhimento às vítimas.

euronews: Algumas das mulheres que migram para a Europa vêm de zonas onde o casamento forçado é comum, assim como a mutilação genital feminina. Estes fenómenos têm tendência a perdurar nos países de acolhimento? São necessárias novas campanhas de sensibilização para estas comunidades?

IGF: Cada vaga migratória obriga a uma nova reflexão sobre os direitos das mulheres, a violência familiar e as formas de proteção de potenciais vítimas. Antes de mais, é preciso conhecer o terreno: estas pessoas vêm de países onde havia campanhas de prevenção sobre este assunto? Não haveria já nesses países mecanismos de prevenção que possam servir de exemplo e ser aplicados no território europeu?

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Casamentos forçados: "Contem a alguém o que está a acontecer"

Mutilação genital feminina: O crime do qual muito poucos falam

França depois dos atentados de 2015