Kakuma: As crianças refugiadas que aprendem a mudar o futuro

Kakuma: As crianças refugiadas que aprendem a mudar o futuro
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Há 8 milhões de crianças refugiadas no mundo inteiro, mais 75% do que há apenas cinco anos. Como se processa a educação em contextos de emergência?

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Há 8 milhões de crianças refugiadasrecenseadas pelo Alto Comissariado da ONUno mundo inteiro, mais 75% do que há apenas cinco anos. 6 milhões estão em idade escolar. Como se processaa educação em contextos de emergência? O Aid Zone foi até ao campo de Kakuma, no Quénia.

O campo de refugiados de Kakuma é um dos maiores do mundo. Acolhe cerca de 160 mil pessoas, vindas sobretudo do Sudão do Sul e da Somália. Este campo tem também um dos mais elevados registos de crianças sem família: há 14 mil menores sem progenitores.

Em média, há cerca de 140 alunos por turma nas escolas primárias que existem. Apesar de todas as circunstâncias, a taxa de sucesso escolar é a mais alta do país, ultrapassa os 90%.

Aid Zone - KenyaSegundo Collins Onyango, da Federação Mundial Luterana, “hoje em dia, 76% das crianças do campo estão inscritas nas escolas primárias. Mas 40% dos alunos já ultrapassou a idade para o ensino primário”.

“Quero aprender tudo o que puder sobre o mundo”

Gatkuoth vem do Sudão do Sul. Tem 18 anos e frequenta o 6° ano, habitualmente destinado a crianças em torno dos 11. “Estava numa situação complicada. A minha mãe morreu em 2000. O meu pai não tinha um bom emprego. Eu fiquei em casa durante 7 anos, sem escola. Por isso, vim agora. Quero aprender tudo o que puder sobre o mundo”, diz-nos.

Uma de muitas histórias que podemos encontrar nas 21 escolas primárias e 5 secundárias que a Federação Mundial Luterana coordena em Kakuma. Com o apoio do gabinete de ajuda humanitária da União Europeia, foi implementado um programa de ensino acelerado.

“Oferecemos uma educação adaptada para que possam concluir os primeiros oito anos de aprendizagem em apenas quatro e recuperar do atraso, de forma a que mais tarde possam eventualmente aceder ao ensino secundário”, explica Jean-Marc Jouineau, do gabinete de ajuda humanitária.

Most of #Kakuma refugees are children. Contagious smiles and indestructible faith in the future #Education#Livelihoods#WithRefugeespic.twitter.com/puYfLKkdO4

— Inge De Langhe (@IngeDeLanghe) 26 de novembro de 2016

O pai de Gatkuoth foi morto na guerra civil do Sudão do Sul. Em Kakuma, o jovem foi colocado numa família de acolhimento da mesma tribo. Gatkuoth desenvolveu um problema de fala que os médicos associam às experiências traumáticas que viveu. E com os novos familiares, a situação não é fácil.

“É difícil mantê-lo connosco porque não temos dinheiro suficiente para tratar dele e dos nossos próprios filhos. A solução pode passar por mandá-lo para um internato. Pode ser que o ajude a esquecer os traumas” considera a mãe adotiva, Dabora Nyanyuon.

Distinguir o Bem do Mal

Fomos visitar um dos internatos de Kakuma, que também acolhe raparigas. A atriz Angelina Jolie dá uma ajuda financeira a uma escola que está a fazer sobressair muitos alunos vindos de contextos extremos: os resultados nos exames nacionais estão claramente acima da média.

Rose tem 15 anos e também vem do Sudão do Sul. “No futuro, vou ter de me desembaraçar sozinha. A educação pode ajudar-me a mim e aos meus filhos. Quero aprender a distinguir o bom do mau”, conta-nos.

Não foi ela quem escolheu vir para Kakuma. “Um dos nossos vizinhos raptou-me e trouxe-me para aqui. Perguntei-lhe sobre a escola, disse-lhe que queria ir aprender. Mas ele disse-me que eu não estava aqui para aprender. Ele trouxe-me para me tornar na sua mulher”, revela.

O homem em questão foi detido e condenado. Kakuma avança agora para outros horizontes e concentra-se no objetivo de fazer progredir o ensino acelerado para aumentar substancialmente o número de jovens no ensino secundário, que neste momento ronda apenas os 2%.

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