O governo do Sudão do Sul decretou pela primeira vez oficialmente que a fome afeta várias partes do país.
O governo do Sudão do Sul decretou pela primeira vez oficialmente que a fome afeta várias partes do país. Uma situação que as agências humanitárias dizem ser “causada pelo homem”, devido à guerra que devasta o país há mais de três anos. Um conflito que fez mais de três milhões de deslocados, uma grande parte dos quais procurou refúgio no vizinho Uganda.
A região petrolífera sul-sudanesa de Unidade, rica em petróleo, é uma das mais afetadas e, segundo a ONU, mais de 100.000 pessoas sofrem aí com a fome.
Challiss McDonough, porta-voz do Programa Alimentar Mundial, diz que “não é uma palavra usada de forma ligeira […] mas infelizmente chegou-se a uma situação em que é exatamente o que está a acontecer [no Sudão do Sul]: uma fome”.
A guerra opõe essencialmente as tropas do presidente Salva Kiir, de etnia dinka, aos apoiantes do antigo vice-presidente Riek Machar, de etnia nuer.
Num campo de refugiados no Uganda, uma sul-sudanesa explica que perdeu “tudo” devido ao conflito, acrescentando que “eles mataram muitas pessoas” e que ela “temia pela vida”.
Com ambas as partes acusadas de cometer atrocidades, as Nações Unidas temem que a guerra no Sudão do Sul – que já fez dezenas de milhares de mortos – se transforme num genocídio.
Jonathan Pedneault, investigador da ONG Human Rights Watch para o Sudão do Sul, explicou à euronews a situação atual no país.
Jonathan Pedneault: A situação no Sudão do Sul, em termos de direitos humanos, está entre as piores do continente e do planeta.
Nos últimos três anos, o governo e as forças da oposição conduziram uma guerra extremamente abusiva, visando continuamente civis, em total impunidade.
Quais são so fatores que provocam a falta de alimentos?
JP: Existem vários fatores, incluindo as secas sazonais e uma economia em crise.
No entanto, a atual escassez de alimentos e a fome consequente declarada pela ONU em partes do Sudão do Sul não pode ser dissociada do conflito e dos abusos que têm ocorrido nos últimos três anos.
Em muitas áreas do país, civis foram deslocados à força pelas armas e viram as suas casas e meios de sustento destruídos pelos combates.
Atualmente, mais de 3,3 milhões de sul-sudaneses encontra-se deslocados ou refugiados no estrangeiro. E milhões enfrentam uma grave situação humanitária, uma inflação ascendente e atores armados implacáveis, que pretendem atacá-los e às suas formas de sustento.
Qual é o seu maior receio face à situação?
JP: Estamos obviamente preocupados que a fome se alargue a outras áreas.
Mas é igualmente preocupante o facto de que direitos humanos fundamentais continuam a ser violados de forma flagrante por ambas as partes, em completa impunidade, com um leque de consequências, entre as quais a crise humanitária e a fome são as mais visíveis.
O que pode ou deve fazer o governo e a comunidade internacional?
JP: É preciso reagir à fome com mais assistência humanitária, mas não se pode solucionar o assunto sem se ocupar das raízes do problema.
No centro da questão está a continuação dos abusos, tanto por parte das forças do governo como da oposição, em total impunidade, e a obstrução que fazem à assistência humanitária a determinadas áreas do país.