Eleições em França: "Em Bruxelas vai acordar-se com ressaca ou com um sorriso"

Eleições em França: "Em Bruxelas vai acordar-se com ressaca ou com um sorriso"
De  Isabel Marques da Silva
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Raramente as questões europeias ocuparam um lugar tão importante numa campanha presidencial em França e revelaram uma profunda divisão entre os dois finalistas. A euronews pediu a análise de Charles d

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Mais de 80 mil eleitores franceses expatriados votarão, domingo, em Bruxelas, para a segunda volta das eleições presidenciais.

Na primeira volta, a 23 de abril, o líder do movimento Em Marcha!, Emmanuel Macron, obteve junto destes eleitores uma larga maioria de 35% dos votos, muito à frente da candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, que ficou na 5ª posição com quase 7% votos.

Para além da comunidade francesa, também as instituições europeias têm os olhos voltados para França.

Raramente as questões europeias ocuparam um lugar tão importante numa campanha presidencial e revelaram uma profunda divisão entre os dois finalistas.

A euronews pediu a análise de Charles de Marcilly, chefe do escritório de Bruxelas da Fundação Robert Schuman, sobre as expetativas das instituições europeias para a segunda volta, numa entrevista do correspondente Grégoire Lory.

Grégoire Lory/euronews: Quais são as expetativas das instituições europeias nesta segunda volta das eleições presidenciais?

Charles de Marcilly/Fundação Robert Schuman: As expectativas são bastante claras e é a primeira vez que vemos presidentes das instituições a tomarem partido e a apoiar um candidato na noite da primeira volta. É bastante inovador. Normalmente, há um certo recuo, evitando tomar posição e ser acusado de interferência, mas houve um claro apoio a Emmanuel Macron porque ele é pró-europeu e, além disso, está em total discordância com a política proposta pela candidata Marine Le Pen.

Grégoire Lory/euronews: São, claramente, duas visões sobre a Europa que se confrontam na segunda volta?

Charles de Marcilly/Fundação Robert Schuman: Sim, houve um retorno à ideia de Estado-nação, com negociações entre Estados, mas não se sabe bem à volta de que mesa. Essa é a visão de Marine Le Pen, que quer o regresso do franco, e não sabemos muito mais. Por outro lado, há uma visão que continua a ser bastante pró-europeia. A candidata da Frente Nacional pediu para retirar a bandeira europeia dos cenários das televisões, mas Emmanuel Macron, pelo contrário, assumiu o risco de agitar a bandeira da União Europeia nos seus comícios. Portanto, há um fosso entre gerações, há uma visão do mundo conflituosa, diferente perceções sobre a União Europeia. A visão proposta por Emmanuel Macron é de que somos mais fortes graças à Europa e que devemos ficar juntos”.

Grégoire Lory/euronews: Nos últimos dias, Marine Le Pen suavizou um pouco o seu discurso sobre a Europa, sobre a saída do euro e da União Europeia. É para agradar ao eleitorado de direita?

Charles de Marcilly/Fundação Robert Schuman: É para agradar a mais eleitores, sejam eles da extrema-esquerda, da direita ou da extrema-direita tradicional. Em última análise, tanto lhe faz. Ela sabe que, agora, a mensagem de “vamos abandonar o euro, vamos voltar à moeda nacional” causa medo porque é uma incerteza. As propostas alternativas são pouco claras e ninguém as compreende muito bem. Além disso, há uma grande ligação ao euro, que é algo muito trivial, porque é o dinheiro que as pessoas ganharam, pouparam, são salários e sabemos que estão depositados no banco. Não queremos pensar que poderão passar a ser dinheiro de faz de conta. A ideia do regresso ao franco é um pouco incerta. Quando os ajudantes de Marine Le Pen dizem que se poderá pagar o pão com francos e manter os euros apenas para os grandes mercados, as pessoas pensam que ali há marosca.

Grégoire Lory/euronews: Emmanuel Macron despertou grandes esperanças na classe política europeia. Não serão esperanças exageradas?

Charles de Marcilly/Fundação Robert Schuman: É nesse ponto que tudo se joga. Em Bruxelas vai acordar-se, na manhã de segunda-feira, com ressaca ou com um sorriso. Mas mesmo o sorriso poderá ser fugaz. Se, nas eleições legislativas que se seguem, Emmanuel Macron e o seu movimento não conseguirem obter uma maioria, individual ou em coligação, vai ser muito difícil fazer reformas. É verdade que há grandes expetativas. Macron comprometeu-se a restaurar a confiança junto dos parceiros europeus e de Bruxelas, prometeu reformas no mercado de trabalho e outras reformas económicas, sendo também a favor do livre comércio. Portanto, há muitas dimensões europeias na sua abordagem, mas se houver uma Assembleia Nacional que lhe é contrária, e que está muito dividida, vai ser complicado governar e haverá, sobretudo, incerteza.

Grégoire Lory/euronews: Será que o olhar das instituições europeias sobre a França mudou desde que há um candidato que carrega a bandeira da União Europeia e que fez uma campanha abertamente pró-europeia?

Charles de Marcilly/Fundação Robert Schuman: Neste caso, há a esperança de que o novo Presidente também vá defender a posição da França e não apenas seguir os outros – que foi um pouco o que fez François Hollande -, mas que será alguém capaz de ser uma força de impulso. Temos visto, por exemplo, na sua mensagem sobre o governo polaco, dizer que a União Europeia não é apenas um grande mercado, mas também um projeto de valores.

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