Ángel Gurría: "Não prevejo mais desigualdades por causa do Brexit"

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O convidado deste Global Conversation foi Ángel Gurría, o secretário-geral da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

O convidado deste Global Conversation foiÁngel Gurría, o secretário-geral da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. Começámos por lhe perguntar: recentemente, Donald Trump anunciou a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. Que impacto económico pode ter esta decisão?

Ángel Gurría: É uma questão intergeracional. Estamos convencidos que as emissões nos Estados Unidos vão provavelmente continuar a descer. A tendência vai nesse sentido e a tecnologia está a tornar as energias renováveis mais baratas do que os combustíveis fósseis.

Oleksandra Vakulina, euronews: É possível vermos Trump a voltar atrás nesta decisão?

AG: Nós acabámos de apresentar um estudo importante chamado Investir no clima, investir no crescimento...

euronews: Depois da decisão?

AG: Não, na verdade foi antes. Talvez não com a antecedência suficiente para ter um impacto sobre a decisão… Mas demonstrámos que as medidas positivas para o ambiente, para o planeta, são uma boa oportunidade de negócio.

Any trade policy that does not improve the well-being of people is not worth it https://t.co/CRw029IIYnpic.twitter.com/hpHizsbOyf

— Angel Gurría (@A_Gurria) 21 avril 2017

euronews: Trump afirmou também que vários acordos comerciais vão ser renegociados. De que forma é que isso poderá alterar a posição e a influência global dos Estados Unidos?

AG: É legítimo querer melhores acordos comerciais ou de outra natureza. E isso faz parte da missão de um líder, tentar procurar acordos mais vantajosos para o seu próprio país. Todos nós apoiamos o livre comércio e o comércio justo, para evitar a distorção dos mercados, os subsídios dissimulados, o protecionismo, a manipulação cambial… É um princípio que todos apoiamos. Mas temos também os princípios fundamentais da produtividade e da competitividade. E essas forças têm de poder expressar-se livremente. Por exemplo, eu sou um cidadão mexicano. Neste momento, está a desencadear-se o processo de renegociação do NAFTA. De certa forma, o NAFTA já tinha sido renegociado, porque o Canadá, o México e os Estados Unidos já acordaram novas regras mais atualizadas no Tratado Transpacífico.

“Vai ser mais custoso para os britânicos”

euronews: Olhemos para este lado do Atlântico. Há um outro país que terá também de renegociar vários acordos: o Reino Unido. Em Londres parece haver uma certa tranquilidade relativamente ao futuro pós-Brexit. Como é que vê isso?

AG: Antes de mais, os britânicos são sempre muito tranquilos. Creio que foi Winston Churchill quem disse, no meio dos ataques, “mantenham a calma e continuem”. Ou seja, eles são bons nisso, têm capacidade de resiliência. No que diz respeito às mudanças – são mudanças, não podemos dizer que tudo o que está para trás vai ser eliminado… Estamos a falar de mudar as regras após 40 anos de integração. O NAFTA está a ser laboriosamente construído há apenas 25 anos. Há um lado inesperado e de perplexidade em tudo isto, tanto para os britânicos, como para os europeus. Vai implicar muitos custos.

euronews: Vai ter mais custos para Londres ou Bruxelas?

AG: Não importa. Vai haver custos e isso nunca devia ter acontecido. No final, creio que vai ser mais custoso para os britânicos. Mas agora já está. Temos de aceitar a vontade do povo britânico e tentar fazer com que o processo seja o mais sereno possível.

euronews: As desigualdades vão agravar-se no Reino Unido?

AG: Não prevejo mais desigualdades por causa do Brexit. As desigualdades têm aumentado em praticamente todos os países por causa da crise. Mas é um processo que começou antes até. É importante ter noção disso.

euronews: Uma última pergunta: há 10 anos que está à frente da OCDE. Qual foi o momento mais marcante?

AG: Quando me candidatei ao lugar, disse que tinha três grandes prioridades: saúde, migrações e acesso à água. Na altura, as pessoas perceberam porque é que a questão da saúde me interessava. É o setor que mais tem crescido no âmbito dos nossos orçamentos. Já no que toca às migrações, não houve muita gente a entender porque é que era um tema prioritário para mim. Houve quem pensasse que era por eu ser mexicano e há toda esta questão das migrações entre o México e os Estados Unidos. Infelizmente, o tempo deu-nos razão. E o foco não era as migrações, mas a integração… Por último, ninguém percebia porque é que eu queria destacar o acesso à água. Hoje em dia, toda a gente compreende. São os três aspetos que mais me marcaram. Outra coisa que me surpreendeu ainda mais foi o seguinte: eu já tinha participado em negociações sobre o livre comércio com a Europa. Conhecia a complexidade europeia, já tinha vivido neste continente – no Reino Unido -, estudei aqui, viajei muito. Mas estar na OCDE – que nasceu da reconstrução europeia – e olhar para todos estes países, com as suas diferentes caraterísticas, complexidades, problemas, desafios – tornou-me admirativo da construção extraordinária que é a Europa, a União Europeia, a Comissão Europeia. É algo de admirável.

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