Presidente da Estónia diz que política de Trump é sólida

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A euronews falou com a presidente da Estónia, que assumiu a presidência rotativa da UE, sobre matérias como a crise migratória, Donald Trump e a Rússia.

A euronews foi a Tallinn, capital da Estónia. O país do Báltico passará os próximos seis meses no comando da União Europeia. A passagem de poder acontece quando o grupo dos ainda 28 enfrenta uma série de grandes desafios: uma crise migratória contínua, o Brexit e uma Rússia que ressurge. A nossa convidada é a presidente do país, Kersti Kaljulaid, que assumiu o cargo de chefe de Estado em outubro do ano passado.

Euronews:

Quero começar por abordar a questão da migração. O governo italiano ameaçou fechar os portos aos barcos humanitários, que não são italianos. Como reage a isto? Esta questão está no topo da agenda no momento em que assume a presidência da UE.

Kaljulaid:

Precisamos de resolver esta situação, principalmente quando há alguns países que querem descarta-se. Que dizem que não assumirão nenhuma responsabilidade. E existem outros Estados que têm carregado sozinhos, esse fardo. Precisamos resolver essa situação. Precisamos unir os dois lados, que pensam de maneira diferente. E existem diversos mecanismos para isso. Afinal, é esta a natureza da União Europeia, ela tem uma capacidade bastante forte de redistribuição. Ela redistribui recursos, entre os países, para que eles possam gerir melhor as situações difíceis em que estão. Penso que precisamos examinar todas as opções possíveis. Também precisamos entender que as pessoas que vêm para a Europa, que têm o direito de procurar asilo, têm preferência em relação ao lugar para onde querem ir. Também temos que discutir isso porque eles podem circular livremente, é claro, na Europa. Eles tendem a ir para onde o seu nível de vida, no futuro, possa ser melhor. E é humano. É uma situação muito compreensível. Porque se se perdeu tudo, se se perdeu a casa, tenta-se conseguir as melhores condições para si e para a sua família. Os países com um nível de vida mediano enfrentam dificuldades nesta matéria. Precisamos, também, discutir essas questões.

Euronews:

Falou de “possíveis opções” para fazer os países que não estão a cumprir os seus compromissos chegaram-se para a frente. De que tipo de opções está a falar?

Kaljulaid:

Estou a pensar na possibilidade de apoiar mais, a nível financeiro, os Estados que estão prontos para aceitar pessoas provenientes de outros países. Por outro lado, não se podem criar dificuldades, em termos morais, a esses governos, obrigados a enfrentar desafios. Eles recebem requerentes de asilo. Que se estão a instalar no seu país. A apoiá-los mais do que às pessoas pobres do seu próprio país.

Precisamos de debater todos esses pontos. Esta não é uma situação que se resolve por si só. É necessária boa-fé.

Euronews:

O presidente Trump foi, digamos, pouco claro no que diz respeito aos seus compromissos com a NATO. Acredita que ele continua a apoiar a aliança?

Kaljulaid:

Ele exprime-se através do Twitter e as suas palavras podem não ser precisas, concretas, como esperamos que elas sejam. Mas se olharmos para fora do mundo do Twitter, para toda a política da sua administração, ela é sólida. Não tenho dúvidas de que o foi durante estes seis meses. As mensagens que eu e os parceiros da região recebemos são exatamente as mesmas. Não há nenhum vacilo. E é claro que nos sentimos seguros, preparados. Ter um vizinho imprevisível não significa ter medo dele. Não passamos o dia a pensar: “E se?”.

Confiamos na NATO. Confiamos nos nossos aliados. E temos uma aliança baseada nos nossos valores democráticos. Baseada na arquitetura da segurança internacional. Respeitamos todas as assinaturas que fizemos nos contratos e acordos internacionais. Ainda que, exista um país, nosso vizinho, que, infelizmente, neste momento, não respeita os acordos internacionais que ele próprio assinou.

Euronews:

A Rússia tem cerca de 300 mil soldados estacionados no seu flanco ocidental. Na sua opinião, quais são as intenções de Putin?

Kaljulaid:

Aquilo que Putin queria, já antes da guerra na Geórgia, era renegociar, reorganizar aquilo de que estivemos a falar: a arquitetura da segurança internacional construída na Ata Final de Helsínquia, que diz que cada país tem o direito de decidir com quem quer fazer negócios, com quem se quer associar. E isso não lhe convém. Ele quer alterar isso. Acredito que o mundo ocidental cometeu um erro na Geórgia porque não viu que eles estão a ensinar a lição errada. Houve uma tentativa de renegociação, antes disso, quando Medvedev foi presidente. Na altura, na Geórgia, a Rússia aprendeu que as reações às suas ações seriam pouco expressivas. E então chegou a avalancha na Crimeia. Penso que, não, tenho a certeza de que todos entenderam o que está por detrás disto. É uma ameaça à nossa arquitetura de segurança internacional. O direito que cada país tem de decidir se precisa ser defendido.

Euronews:

Sobre a questão da unidade, a base da União Europeia é estarmos todos unidos. Vimos a extensão das sanções contra a Rússia, por causa da Ucrânia. Mas há muitas outras divisões. Por exemplo o gasoduto Nord Stream 2, tivemos 13 países que se manifestaram contra, em Bruxelas, há alguns dias. Mas a Alemanha e França parecem manter as suas convicções. O que pensa sobre isso?

Kaljulaid:

O gás está a perder importância. Ninguém pode ser refém de outro por causa de um gasoduto. Isso significa que também não se pode garantir grandes receitas usando os gasodutos dos outros. E isso agora leva-nos à questão ucraniana. Podemos ter o NordStream 2, ou talvez não tenhamos o NordStream 2, mas é preciso entender que o fornecimento de gás tem de ser diversificado, tem de haver outras opções, em toda a Europa. A tecnologia muda muito rapidamente.

Euronews:

Pensa que Putin usa o gás e a energia como forma de dividir a UE?

Kaljulaid:

Ele tenta de tudo para mostrar que a Europa não está unida.

Euronews:

A primeira-ministra britânica, Theresa May, fez uma oferta em relação aos direitos dos cidadãos. Acredito que existem, aproximadamente, 10.000 cidadão da Estónia a viver no Reino Unido. Pensa que a oferta que ela fez é suficiente?

Kaljulaid:

Esperamos, e estamos certos, de que podemos confiar no Reino Unido na proteção dos direitos dos cidadãos.

Euronews:

Como?

Kaljulaid:

O Reino Unido é um país democrático, um país livre, que partilha os nossos valores, que permanecerá na Europa, que continuará a ser nosso parceiro e aliado, mesmo depois do Brexit. Não permitiremos que nenhuma dessas discussões quebre essas ligações e esse não é o objetivo de ninguém na Europa, posso garantir-lhe.

Euronews:

Diz “depois do Brexit”. Isso apesar de em Bruxelas ainda haver pessoas que acreditam que ele é reversível, que o Brexit pode não acontecer…

Kaljulaid:

Gostava que fosse esse o caso. Mas não vejo como. Claro que não estou feliz em ver o Reino Unido sair da União Europeia. Estou mais triste, talvez, pelo povo britânico, porque, como já disse, não acho que, mesmo economicamente, esta seja uma decisão com a qual eles tenham a ganhar.

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