Pobres trabalhadores alemães

Pobres trabalhadores alemães
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Se a economia da Alemanha continua a crescer, porque é que há tanta gente que se junta todos os dias à porta dos centros de emprego?

Se a economia da Alemanha continua a crescer e a taxa de desemprego no país é reduzida, porque é que há tanta gente que se junta todos os dias à porta dos centros de emprego? Num destes centros, em Berlim, constatamos que muitas das pessoas que fazem fila já têm, na verdade, um trabalho. Mas em contextos precários e com baixos rendimentos. Por isso, necessitam de apoios sociais. São os chamadostrabalhadores pobres. E quem tem mais qualificações é, por vezes, mais penalizado.

“Sou muito cara para eles. Preferem contratar pessoas sem competências que trabalhem por 8,50 euros à hora. A mim têm de me pagar um salário que está tabelado e que é mais alto”, diz-nos Monika Sagertsch, pensionista.

A questão da criação de emprego tornou-se premente com a reunificação. Mas depois surgiu a problemática dos custos laborais e da competitividade. Onde está o ponto de equilíbrio?

The increasing numbers of working-poor and non-working rich make a mockery of our so-called meritocracy.

— Robert Reich (@RBReich) 14 juillet 2017

“O trabalho por conta própria não é o ideal para alguém da minha idade”

Em 2003, a Alemanha lançou uma ambiciosa reforma do mercado laboral. Flexibilizar e liberalizar tornaram-se as palavras de ordem, impulsionando conceitos como o tempo parcial, por exemplo. O desemprego desceu, mas a pobreza relativa aumentou.

Rolf Maurer tem 60 anos, é pedreiro e, basicamente, faz um pouco de tudo. Angaria clientes através da internet. Tem um modelo de negócios baseado na flexibilidade, sobretudo a nível de horários. Há alturas em que tem muito trabalho e há períodos de inatividade. Quais são os riscos desta realidade cada vez mais comum? “O grande risco é nunca saber o que vamos fazer no dia seguinte, se vamos ter trabalho sequer… Outro problema é haver clientes que, no final, não pagam o serviço…”, responde-nos.

“Segundo as tabelas oficiais, a tarifa sugerida é de, pelo menos, 35 euros por hora. Mas, como anuncio os meus serviços na internet, levo muito menos, cerca de 10/15 euros…”, explica-nos ainda.

Insiders - Filming 'Poor Germany'A prioridade de Rolf é ter dinheiro para pagar a renda do pequeno apartamento onde vive, situado num bairro social em Halle. Em segundo lugar: comprar ferramentas para poder desempenhar o seu trabalho. Ou seja, não sobra praticamente nada para deixar de lado para a reforma. Rolf trabalhou durante vários anos numa fundição. Quando esta fechou portas, a idade de Rolf tornou-se um obstáculo para arranjar um novo emprego por conta de outrem.

“Arranjar um trabalho por conta própria não é o ideal para alguém da minha idade. A certa altura, o que queremos é ter um emprego normal, estável. Aos 60, não temos propriamente vontade de enfrentar os riscos de um projeto a partir do zero”, afirma.

Isto é, Rolf não pode, na verdade, deixar de trabalhar nos próximos anos. O número de alemães que continua em atividade após os 65 anos duplicou na última década. Para muitos, não é uma questão de escolha.

“Eu tenho de me adaptar à vontade dos clientes no que toca aos horários. Se tiver de ser ao fim de semana, é. Se tiver de ser à noite, também… Eu tenho de ir ao encontro das necessidades do cliente”, aponta.

“Terei direito a uma reforma de 351 euros”

Muitos qualificam Berlim de “capital do emprego precário”. Fomos saber o que é que uma das maiores plataformas sindicais alemãs, a Ver.di, tem a dizer sobre a realidade dos trabalhadores pobres.

“Na Alemanha, um em cada cinco trabalhadores ganha menos de 10 euros por hora. Ou seja, é considerado um trabalhador pobre. É o resultado da destruição das regras do mercado laboral. A Alemanha é um país rico, não há dúvidas em relação a isso. Mas é também um país dividido socialmente, onde existem trabalhadores pobres que trabalham 40 a 50 horas por semana, mas não ganham o suficiente para ter uma vida decente”, considera Dierk Hirschel, da Ver.di.

Este contexto tem mais incidência no setor hoteleiro, na construção e na restauração. Mas também em atividades específicas que exigem vários anos de preparação. Adriana e Jan são professores de Música em escolas públicas. Tilman é um blogger que organiza debates. No caso, Adriana e Jan são convidados a falarem da sua situação profissional e de um assunto espinhoso: a reforma.

Jan é casado, tem dois filhos e luta constantemente para conseguir guardar algum dinheiro para mais tarde. Adriana dá aulas há duas décadas, Recentemente, pediu uma simulação do valor que irá receber quando chegar à reforma. “Se eu contar, ninguém acredita… Vou mostrar-vos a notificação que recebi. Aqui está, preto no branco. Terei direito a uma reforma de 351 euros e 82 cêntimos. Só a renda que pago pelo meu apartamento é de 400 euros. A minha reforma nem para isso chega…”, salienta Adriana.

Segundo Jan, “há um acordo coletivo em preparação para os professores de Música terem um salário decente, para que não tenhamos de fazer contratos de freelance por cada hora que trabalhamos, para continuarmos a receber em caso de doença… Quem adoece, arrisca-se a ficar sem dinheiro. As mulheres não podem perder o emprego porque vão dar à luz”.

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