Emigrante portuguesa em França inspira "Maria e Salazar"

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De  Euronews
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O autor Robin Walter, de 38 anos, publicou a banda desenhada a 11 de outubro e anda a apresentá-la em livrarias e festivais franceses

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O autor francês Robin Walter lançou a banda desenhada “Maria e Salazar”, inspirada na vida de uma emigrante portuguesa que chegou a Paris em 1972 e que resume a história de milhares de portugueses em França.

A personagem Maria é baseada na sua “segunda mamã”, uma “amiga da família”, que trabalhou como empregada doméstica na casa dos seus pais durante mais de 30 anos.

“Baseei-me no percurso de Maria, que é uma amiga da família e foi durante 30 anos a empregada doméstica dos meus pais e que eu e os meus irmãos consideramos como uma segunda mamã. Quando quis falar sobre este tema, pedi-lhe a ela e ao seu marido para me contarem as suas histórias”, disse à Lusa Robin Walter, de 38 anos.

#MariaEtSalazar, Dia D !
C’est aussi jour de #VieDeGouttière chez ErnestLire</a><a href="https://twitter.com/hashtag/MercrediBD?src=hash&ref_src=twsrc%5Etfw">#MercrediBD</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/BD?src=hash&ref_src=twsrc%5Etfw">#BD</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/Portugal?src=hash&ref_src=twsrc%5Etfw">#Portugal</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/Immigration?src=hash&ref_src=twsrc%5Etfw">#Immigration</a><a href="https://t.co/jPLhn8vYah">https://t.co/jPLhn8vYah</a> <a href="https://t.co/kzNZZZWQGs">pic.twitter.com/kzNZZZWQGs</a></p>— Robin Walter (RobinWalterBD) 11 de outubro de 2017

Quando os seus pais decidiram vender a casa onde cresceu, em Champigny-sur-Marne, nos arredores de Paris – uma cidade onde vivem muitos portugueses – Robin Walter questionou-se sobre o que iria acontecer a Maria e decidiu saber mais sobre o que levou esta portuguesa a ir para França, assim como tantos milhares de portugueses nos anos 1960 e 1970.

Capa do livro

O resultado foi um romance gráfico que tem como pano de fundo “a mais longa ditadura moderna da Europa ocidental”. Robin Walter optou por uma narração biográfica e autobiográfica, retomando as suas conversas com Maria e o seu marido, Manuel, os testemunhos de amigos lusodescendentes, o visionamento dos documentários do cineasta da emigração José Vieira, as idas à biblioteca e ao Museu da História da Imigração, em Paris, tendo procurado ser fiel ao tom dos relatos que ouvia e evitando fazer “uma banda desenhada sombria”.

“Nos testemunhos de Maria e do seu marido, ainda que falassem das dificuldades em Portugal, das privações de liberdade durante Salazar, não senti grande rancor ou revolta. Havia uma suavidade no seu relato, uma nostalgia porque Portugal continuava a ser o Portugal da sua juventude – mesmo conscientes do que era esse Portugal politicamente – mas havia essa suavidade, talvez fosse a famosa saudade. Ao nível do tom, tentei transmitir essa ideia”, descreveu.

“De forma geral, quando comecei a trabalhar vi que a história da emigração portuguesa em França é pouco tratada em tudo o que é media popular e até no cinema. Houve o filme ‘Cage Dorée’ [?A Gaiola Dourada’], mas há pouca coisa e acho que é devido ao facto de os portugueses terem uma grande vontade de se integrarem e de serem muito discretos”, continuou.

Robin Walter apontou, ainda, que “os franceses não se interessaram ou interessaram-se pouco” pelos portugueses e pela história recente de Portugal relativamente a outros países.

A partir das vidas de Maria e Manuel, o autor acabou por resumir o percurso de tantos milhares de portugueses que foram para França: a viagem clandestina “a salto”, a passagem da carrinha dos bancos portugueses no bairro de lata de Champigny-sur-Marne, a incompreensão do maio de 68 para muitos portugueses, a política do Estado Novo relativamente à emigração, o sonho de regressar a Portugal e “o fim da ilusão”: “Com o tempo, o país que deixámos torna-se no país onde não voltamos”.

“Os testemunhos dos meus amigos têm vários pontos em comum. Os pais ou os avós chegaram a França nos anos 1960. Sempre por razões económicas, para escapar à miséria. Para alguns deles, o medo dos combates em Angola ou em Moçambique também foi uma razão para fugir ao longo serviço militar de três anos”, lê-se no livro.

“Maria e Salazar”, publicado a 11 de outubro, está a ser apresentado em várias livrarias francesas, sendo apresentado esta sexta-feira na livraria BD NET Bastille, e vai estar presente em festivais franceses de Banda Desenhada, nomeadamente o Festival Quai des Bulles de Saint-Malo, de 27 a 29 de outubro, e o Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, de 25 a 28 de janeiro de 2018.

Alors cette semaine, nous fêtons la sortie de Maria et Salazar ! Mais dans un minuscule mois, nous aurons le… https://t.co/k3m6NHzQ2G

— Des ronds dans l’O (@Desrondsdanslo) 18 de outubro de 2017

O livro, publicado em França pela editora Des ronds dans l’O, deverá ser lançado em Portugal no próximo ano.

Robin Walter é o autor de “KZ DORA”(2010 e 2012), dois livros sobre a deportação de resistentes para os campos de concentração nazis, baseados na história do seu avô Pierre Walter. O desenhador também fez uma banda desenhada sobre o futebol intitulada “Prolongations”.

Texto: Lusa (CAYB)
Edição: Francisco Marques

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