Grécia: Os refugiados da "purga" na Turquia

Grécia: Os refugiados da "purga" na Turquia
De  Euronews
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A primeira visita de um presidente turco à Grécia em 65 anos, prevista para o final desta semana, coincide com um fluxo cada vez maior de refugiados turcos que tentam escapar à purga lançada por Ancara após o golpe militar falhado do ano passado.

Tahsin, a mulher e os filhos fazem parte das centenas de famílias que decidiram escapar da Turquia para a Grécia nos últimos meses.

O antigo vice-diretor do serviço de assistência a órfãos do Ministério da Família tinha sido obrigado a fugir do país, em Agosto, após ser despedido e visado por um mandado de captura por ligações ao movimento do opositor Fetullah Gulen, classificado como um grupo terrorista.

"Eu peguei na Rana e disse-lhe que se tratava de um jogo. Um jogo com três níveis e um prémio ao final. O primeiro nível seria atravessar o rio para a Grécia. Disse-lhe que precisávamos de caminhar durante muito tempo, atravessar pântanos, mas em silêncio. O segundo nível seria quando chegássemos à Grécia e nos entregássemos à polícia e ficássemos detidos por dois a três dias. Disse-lhe que ganharia um prémio ainda maior se passasse o segundo nível sem protestar nem chorar. O terceiro nível seria a libertação e a viagem para Atenas onde iríamos viver com pessoas que não falam turco. Disse-lhe que se aprendesse a língua e se fosse à escola para continuar a aprender o turco nós poderíamos regressar um dia à nossa casa em Ancara", afirma Tahsin.

Meryem, a mulher e antiga professora, sublinha: "a maioria dos adultos não consegue atravessar a fronteira. Mas como a minha filha pensava que se tratava de uma competição e que ganharia um prémio ao final ela conseguiu percorrer todo o caminho. Eu tentei levá-la ao colo mas ela dizia-me, 'quero ir para o chão mãe, quero ganhar este jogo'".

Uma rota do exílio semeada de perigos, como o comprova o desaparecimento de cinco membros da mesma família durante a travessia do mar Egeu.

No início de Novembro, as autoridades gregas tinham resgatado três corpos ao largo da ilha de Lesbos que poderiam ser dos três filhos de Hussein Maden e Bahar Maden.

Os dois professores, como mais de 160 mil funcionários públicos turcos, tinham igualmente sido despedidos pelo governo e eram alvo de um mandado de captura por ligações ao terrorismo.

Sem dinheiro para pagar os cinco mil euros exigidos pelos traficantes, Hussein tinha decidido alugar um barco por mil euros e arriscar a travessia por mar. Tahsin era um amigo de Hussein.

"Nós não conseguimos dizer aos pais do Hussein Maden que aqueles corpos poderiam ser os do seu filho e netos. Ainda temos uma esperança quando estamos à espera dos resultados dos exames de ADN", afirma Tahsin.

Em segurança, na Grécia, o fugitivo teme agora pelos seus familiares na Turquia. O pai está ameaçado de prisão caso não denuncie o paradeiro do filho. Os dois irmãos estão detidos, condenados a até sete anos de prisão por ligações ao movimento de Fetullah Gulen. A irmã foi recentemente visada por uma rusga da polícia.

No total, a purga do governo turco levou mais de 50 mil pessoas à prisão. Desde o ano passado, que a polícia turca reforçou os controlos junto à fronteira, tendo detido dezenas de fugitivos da "purga" no país, que muitas das vezes se fazem passar por refugiados sírios. Segundo testemunhas, os traficantes praticariam uma tarifa especial para este tipo de fugitivos - cerca de 5 mil euros por pessoa, contra 250 euros por cada pessoa proveniente da Síria.

Várias organizações humanitárias gregas denunciavam, no início do ano, alguns casos de fugitivos reencaminhados à força para a Turquia após solicitarem asilo no país vizinho. Em 2015, Cevheri Guven, um jornalista de uma revista da oposição afirmava ter sido reenviado para solo turco - onde atualmente cumpre 22 anos de prisão - depois de conseguir alcançar o nordeste da Grécia.

Na prisão, há registo de pelo menos 100 mortes suspeitas nos últimos meses, na sequência de alegados casos de tortura.

Um relatório recente do "Stockholm Center for Freedom" revelava o caso de Gökhan Açıkkollu, um professor detido por ligações ao terrorismo e que morreu numa esquadra da polícia em Istambul, após ser submetido a vários atos de tortura durante 13 dias consecutivos .

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