A Síria "parece um cenário da Idade Média"

A Síria "parece um cenário da Idade Média"
De  Euronews
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A entrevista com Volker Turk, o Alto-Comissário Assistente da ONU para os Refugiados.

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Para falarmos da situação na Síria, dilacerada por uma guerra que começou há sete anos, a euronews convidou Volker Turk, o Alto-Comissário Assistente da ONU para os Refugiados.

euronews: Passaram 7 anos. Qual é o contexto que se vive neste momento?

Volker Turk: Trata-se de uma das maiores crises de refugiados do século 21. E não há uma solução à vista. Há mais de 5,5 milhões de refugiados nos países vizinhos. No interior da Síria, há mais de 6 milhões de pessoas que tiveram de abandonar as suas casas. Cerca de 3 milhões encontram-se em zonas de difícil acesso ou nos enclaves cercados, estão encurraladas. Há quem coma relva para sobreviver. Parece um cenário da Idade Média. É assim que as pessoas vivem no dia a dia na Síria e também fora, enquanto refugiados.

euronews: Há outras crises em curso, o Iémen é um exemplo bem conhecido também... Como é que o problema sírio se tornou tão grave?

VT: É uma crise que dura há muito tempo, afetando a vasta maioria da população síria, dos civis que vivem o horror da violência, das perseguições, que dependem das ajudas externas. Entre os refugiados na Jordânia, por exemplo, 80% vive abaixo do limiar da pobreza. Em algumas zonas do Líbano, 70% vive em condições de pobreza extrema. A maior parte das crianças nem sequer pode ir à escola.

euronews: As resoluções do Conselho de Segurança, as tréguas, as negociações, não produziram praticamente resultados. Qual é a realidade no terreno?

VT: Essa é uma das tragédias desta crise em particular. Três milhões de pessoas encontram-se em áreas de difícil acesso ou debaixo de cerco. Só conseguimos alcançar cerca de 27% dessa população no ano passado, o que significa que há muita gente que não está a receber a ajuda humanitária devida.

euronews: O movimento anti-imigração está a crescer na Europa. Isso tem-se demonstrado nas urnas. Muitos eleitores têm aderido ao discurso dos que exigem controlos rigorosos nas fronteiras, um reforço da segurança. O senhor tem contrariado esta visão, realçando que a segurança e a proteção dos refugiados são complementares. O que quer dizer com isso?

VT: Sempre que alguém entra num país, é crucial aplicar medidas de segurança para garantir a identificação dos que cometeram crimes, dos que não são simples civis. Mas posso garantir que os sistemas implementados pelos países neste momento são bastante robustos. O processo de pedido de asilo é um dos mais rigorosos que existe. Ou seja, as preocupações legítimas que as pessoas têm relativamente à segurança têm resposta através destes procedimentos. É importante realçar esta mensagem: os refugiados, entre os quais os sírios, que chegam à Europa, são pessoas que estão a fugir da violência, do conflito, do terrorismo. Trata-se de vítimas. Não são os culpados.

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