Enterro de Ríos Montt, o carrasco da Guatemala

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De  Antonio Oliveira E Silva com EFE
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Antigo general foi condenado a 80 anos de prisão por genocídio, mas Tribunal Constitucional anulou a sentença.

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Entre a revolta das vítimas e o júbilo dos companheiros de armas, teve lugar o funeral do antigo general do exército da Guatemala, José Efraín Ríos Montt, que governou de facto o país centro-americano com mão de ferro, depois de um golpe de Estado, no início dos 80.

Ríos Montt tinha 91 anos e morreu em casa, vítima de um enfarte. Os críticos não esquecem que é responsável por um dos mais violentos episódios de genocídio da História da Guatemala.

A cerimónia contou com a presença do irmão, o bispo católico Mario Ríos Montt e do seu médico particular e antigo ministro da Saúde, Mario Bolaños (2000-2004).

Reuters
O antigo general Ríos Montt governou a Guatemala com mão de ferro entre 1982 e 1983. Foi condenado a 80 anos de prisão pela morte de milhares de indígenas, mas o Tribunal Constitucional anulou a pena, alegando irregularidades no processo.Reuters

Em declarações aos media, a filha do antigo general, Zury Ríos, referiu-se a Ríos Montt como "o general dos generais" e disse que ainda que, "embora tivesse incomodado alguns com a sua moralidade, sempre predicou o exemplo".

Durante o enterro, membros da organização Hijos (Filhos), formada por sobreviventes do conflito militar que assolou a Guatemala entre 1960 e 1996, manifestaram-se na Praça da Constituição, no centro da Cidade da Guatemala.

Durante a manifestação, foi pintada uma frase sobre o genocídio pelo qual foi condenado Ríos Montt: "Os povos nem esquecem nem perdoam."

O general Ríos Montt governou a Guatemala entre 1982 e 1983, pondo em prática uma política de terra queimada e de repressão das populações indígenas. Ficou também conhecido pela política conhecida como "Fusiles y Frijoles" (Feijões e Fusis), por mandar entregar feijões e armas às populações, para combater grupos rebeldes.

Os grupos paramilitares criados durante a época de Ríos Montt foram acusados de arrasar mais de 400 aldeias guatemaltecas e de massacrar populações, na altura consideradas "inimigas do Estado".

Uma pena anulada

Os detalhes do que veio a ser considerado como um genocídio foram dados a conhecer por sobreviventes, durante um processo, em 2013. Apesar da condenação, o antigo general nunca chegou a cumprir pena, já que os crimes de que fora acusado tinham prescristo.

Um dos casos mais conhecidos relaciona-se com a morte de mais de mil indígenas maya ixil, processo que o levou, mais uma vez, aos tribunais, depois de, em 2015, a defesa ter informado que Ríos Montt sofria de demência.

Reuters
Zury Ríos, filha do antigo ditador, disse, durante o funeral, que ainda que muitos estivessem "incomodados com a moral" do pai, Ríos Montt era um homem que "predicada o exemplo.Reuters

O massacre fez com que a Justiça da Guatemala condenasse Ríos Montt a 80 anos de prisão por genocídio e crimes contra a Humanidade.

No entanto, a Corte de la Constitucionalidad (Tribunal Constitucional) anulou a sentença, por considerar que foram cometidos erros durante todo o processo, ordenando um novo julgamento.

Alfonso Portillo, presidente da Guatemala entre 2000 e 2004, lamentou a morte do antigo ditador e agradeceu o apoio que "sempre recebeu do general."

Em 2013, Portillo foi extraditado para os Estados Unidos, onde cumpriu uma pena por branqueamento de capitais, regressando depois à Guatemala.

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