Pedrógão Grande, um ano depois

Pedrógão Grande, um ano depois
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De  Filipa Soares
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Há um ano 66 pessoas perderam a vida nos incêndios que devastaram Pedrógão Grande e os concelhos vizinhos. Centenas ficaram feridas. O fogo destruiu ainda 264 habitações permanentes.

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Portugal, 17 de junho de 2017. Já é tarde quando o país se inteira de um grave incêndio em Pedrógão Grande, distrito de Leiria. Inicialmente, o número de vítimas mortais apontado é de mais de uma dezena de pessoas, mas o presidente da Câmara alerta logo que será bem mais elevado. Mas ninguém esperaria que fosse tão elevado e que a tragédia tivesse tamanha dimensão. O balanço final seria de 66 vítimas mortais e 253 feridos. O fogo atingiu 261 habitações permanentes e destruiu cerca de 53 mil hectares em Pedrógão Grande e nos concelhos vizinhos.

O país fica ainda mais em choque quando descobre que mais de dois terços das vítimas mortais perderam a vida na Estrada Nacional 236-1 ou nos acessos a esta via, quando tentavam escapar das chamas. E que tudo parece ter falhado no combate ao incêndio, a começar pelo sistema de comunicações (SIRESP) que terá falhado e estado sem funcionar cerca de 14 horas, precisamente nas mais dramáticas do fogo.

A Euronews chegou a Pedrógão Grande no dia 18 de manhã e testemunhou um cenário de destruição que fazia lembrar um filme de guerra. Entrevistou habitantes que lamentaram ter enfrentado o fogo sozinhos, sem qualquer apoio das autoridades, e que ainda não sabiam como tinham sobrevivido, enquanto muitos dos seus vizinhos tinham morrido. Estivemos também no Quartel dos Bombeiros de Castanheira de Pêra, onde o presidente da Direção se queixava que estiveram horas, também sozinhos, a lutar sem meios contra o fogo. Um bombeiro desta corporação morreu e quatro ficaram feridos quando a viatura onde seguiam foi abalroada, precisamente na EN236-1, agora mais conhecida como estrada da morte.

Tudo falhou

Foram efetuados três relatórios sobre o incêndio de 17 de junho e todos chegaram à mesma conclusão: tudo falhou, nomeadamente o comando no combate aos incêndios, o sistema de comunicações no terreno e a proteção civil e defesa das florestas.

Os três relatórios deram particular enfoque às 47 mortes que ocorreram na estrada nacional, estranhando que esta via não tivesse sido cortada. O relatório elaborado por Xavier Viegas sublinhou ainda o facto de apenas quatro das vítimas do incêndio terem morrido em casa: "Verificou-se que para a larga maioria das vítimas, e mesmo para outras pessoas que sobreviveram à exposição ao fogo enquanto fugiam, a permanência em casa teria sido a opção mais segura".

Dez arguidos

Soube-se no passado dia 11, que o inquérito relacionado com os incêndios de Pedrógão Grande tem agora dez arguidos. Os novos suspeitos são José Graça, vice-presidente da Câmara Municipal de Pedrógão, Margarida Gonçalves, engenheira e quadro da área florestal e proteção civil da autarquia, e António Castanheira, encarregado geral da Câmara.

Até então o processo tinha sete arguidos: Mário Cerol, segundo comandante distrital da proteção civil de Leiria, Augusto Arnaut, comandante dos bombeiros de Pedrógão, Sérgio Gomes, comandante do Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Leiria, dois funcionários da Ascendi e dois de empresas responsáveis pelas limpezas e gestão de combustível.

Um ano depois

Na sexta-feira, o Governo Português anunciou que 60% das habitações permanentes destruídas pelo fogo já foram recuperadas, ou seja, 157 em 264. As restantes estão em obras. De acordo com uma nota do gabinete do Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, três habitações não foram reconstruidas "por decisão dos proprietários".

O investimento na reconstrução das habitações permanentes é de 10 milhões de euros e inclui contributos de cidadãos, empresas e de entidades nacionais e internacionais.

O prejuízo das 63 empresas dos concelhos afetados pelos incêndios atingiu os 28 milhões de euros. O Estado aprovou 49 dos 55 projetos que lhe foram apresentados, cujo valor ascende aos 26 milhões de euros.

Os meios de combate para 2018

Na apresentação do Dispositivo Especial de Combates a Incêndios Rurais (DECIR) 2018, no Parlamento, o secretário de Estado da Proteção Civil anunciou que entre 1 de julho e 30 de setembro, estarão disponíveis 10 767 operacionais, mais 1027 em relação ao ano passado, 2303 viaturas (mais 250 viaturas do que em 2017) e 55 meios aéreos (mais sete face a 2017, sem incluir o helicóptero que vai operar na Madeira).

José Neves informou, que a partir da passada sexta-feira o dispositivo de combate a incêndios passava a contar com mais oito meio aéreos, num total de 45. José Neves disse que, no período de 2013 a 2017, o dispositivo contava com 28 meios aéreos. O deputado do PSD Duarte Marques acusou o Governo de propaganda, contestando que esta seja a época de fogos com o maior número de meios aéreos.

O secretário de Estado garantiu aos deputados que o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) foi reforçado através da instalação das soluções de redundância de transmissão nas estações base com recurso a comunicações satélite e do aumento da autonomia energética. Foram ainda adquiridas quatro novas estações móveis que podem ser utilizadas em áreas com problemas de cobertura de rede.

No entanto, continua a haver queixas sobre a falta de meios dos mais diversos atores do combate aos incêndios. Ainda esta semana, a imprensa portuguesa noticiava, por exemplo, que a falta de viaturas impedia a GNR de combater grandes fogos.

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