A família Dahrabou, três meses depois do Aquarius

A família Dahrabou, três meses depois do Aquarius
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De  Ana Serapicos
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O casal de marroquinos e a filha bebé desembarcaram do navio de ajuda humanitária que mais atenção política teve nos útlimos meses. Agora vivem em Espanha e aguardam a conclusão do pedido de asilo

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Mairam e Ali abriram-nos a porta com um sorriso na cara e com um "Hola", das poucas palavras que sabem em castelhano.

A família Dahrabou foi uma das muitas que esteve a bordo do Aquarius. Mariam, Ali e a pequena Miral foram resgatados no Mar Mediterrâneo, depois de fugirem da Líbia, e acabaram por embarcar numa aventura que ganhou a atenção de toda a Europa. Estiveram dias e dias no mar, à espera que um país europeu desse autorização para que atracassem, isto depois da Itália ter recusado o atracamento da embarcação.

O governo espanhol acabou por permitir que o Aquarius atracasse no porto de Valência.

"Equipa a explicar o procedimento de desembarque" Publicação feita pela MSF no dia em que o Aquarius atracou em Valência

Miriam, Ali e Miral viveram esse impasse político. Depois de atracarem em porto espanhol, rumaram até terras francesas, onde pediram asilo. O pedido acabou por ser negado. 

"Tentámos tudo, chegámos a ter duas entrevistas com as autoridades francesas, mas no final, não nos aceitaram.", admitiu Ali Dahrabou. "Queríamos ir para a França, especialmente por causa da proximidade cultural, da língua.", disse Ali. "Quando recebemos a decisão francesa, sentimo-nos mal.", admitiu Ali, em entrevista à Euronews. 

Como chegaram ao Aquarius

A bordo do navio humanitário, a família Dahrabou não passou despercebida. Com um bebé ao colo, o casal de marroquinos partilhou a história, na altura, com a Euronews.

Fugiram do país que os viu nascer, Marrocos, e escaparam para a Líbia. À Euronews disseram que fugiram da violência da Líbia. 

Mariam e Miral a bordo do Aquarius

Três meses depois, na casa onde vivem em Espanha, a Euronews teve acesso aos documentos do pedido de asilo de Mariam, preenchidos com relatos de agressões sexuais, violência e tortura.

No documento, lia-se que o ex-marido de Mariam a quis vender a uma rede criminosa de tráfico de droga. Mariam conseguiu divorciar-se e, com Ali, fugiu para a Líbia, para começar uma nova vida.

Mas tanto Ali como Mariam não sabiam que, alguns meses depois de chegarem à Líbia, iam arriscar tudo para chegar à Europa, a bordo de um bote.

"Tudo o que fizemos foi pela nossa filha.", admitiu Ali. "Ela não teria futuro na Líbia.", acrescentou. "Se eu conseguir um emprego aqui em Espanha, tenho a certeza de que poderei garantir um futuro melhor para ela.", disse.

Mariam acrescentou: "Também quero um emprego, para pô-la numa escola e poder vê-la, um dia, a tornar-se médica, advogada ou até jornalista.", disse, com um sorriso na cara. 

Já em Espanha

Como Mariam, Ali e Miral, mais 150 pessoas recomeçaram uma vida na mesma região espanhola, a região de Valência. Enquanto aguardam pelo processo de asilo, o estado espanhol trata dos custos de alojamento e dos encargos diários, como a alimentação e a assistência médica.

Apesar dos custos e das inúmeras discussões sobre políticas de migração entre países, a vinda destes refugiados "não representa uma ameaça", diz o governo espanhol.

Perguntado pela Euronews acerca do tema, Juan Carlos Fulgencio, delegado do governo de Valência, admitiu que Espanha "não tem um problema de migração.". "O que existem são picos de chegadas, mas isso aconteceu muito no passado", admitiu o membro do governo. 

Nos últimos meses, Itália e Malta adotaram medidas e políticas de migração mais restritas, o que faz com que os portos espanhóis recebam mais navios de resgate, cheios de pessoas que só querem começar de novo.

A mensagem dos países do sul da Europa é a mesma: a crise dos refugiados tem de ser discutida a nivel europeu. A mensagem é partilhada também por Juan Carlos Fulgencio.

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"Pensar que a migração é um problema pontual ou local é um erro terrível.", diz o delegado de Valência. "Se a Europa quiser continuar a crescer como sociedade, terá que enfrentar isso e trabalhar numa política de migração conjunta.", acrescenta.

"Os fluxos migratórios continuarão a existir devido a uma série de razões contextuais específicas de cada país, e as pessoas continuarão a tentar escapar da guerra, da morte e da fome.", concluiu Juan Carlos Fulgencio.

A crise dos refugiados continua a ser um dos temas mais discutidos entre líderes europeus. Mariam, Ali e a pequena Miral são apenas exemplos das milhares de pessoas que largam costumes, famílias e tradições, para poderem começar de novo num país que os acolha.

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