Mário Centeno sobre a zona euro: "Temos de avançar passo a passo"

Mário Centeno sobre a zona euro: "Temos de avançar passo a passo"
De  Euronews
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A euronews entrevistou o presidente do Eurogrupo sobre a situação económica na zona euro e as perspetivas para 2019.

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Para assinalar o vigésimo aniversário do euro, a euronews entrevistou o presidente do Eurogrupo sobre a situação económica na zona euro e as perspetivas para 2019, num contexto de incerteza ligada ao Brexit e às eleições europeias.

O economista e ministro das Finanças português Mário Centeno assumiu a presidência do Eurogrupo, o órgão informal em que os ministros dos Estados-Membros da área do euro debatem os assuntos respeitantes à moeda única, a 12 de Janeiro de 2018.

euronews: "Vamos falar com o Presidente do Eurogrupo, Mário Centeno. Obrigada por estar connosco, em Estrasburgo. Assumiu a presidência do Eurogrupo há um ano. Qual foi o aspeto mais impressionante ao longo desse ano?"

Mário Centeno, presidente do Eurogrupo: "Tínhamos duas grandes tarefas: chegar a acordo sobre a reforma do euro, na cimeira europeia de dezembro. É uma reforma impressionante, realizada fora da crise. E, em segundo lugar, tínhamos de concluir o programa de resgate financeiro da Grécia. O dia 20 de agosto é um dia muito importante para a zona euro. Foi o fim do programa de resgate na zona euro. Em setembro, houve o primeiro encontro sem programa de resgaste, o que já não acontecia há muito tempo".

"A Grécia está finalmente a lidar com todos os seus problemas por si própria"

euronews: "Quão importante é o fim do programa de resgate da Grécia, após tantos anos sob tutela?

Mário Centeno, presidente do Eurogrupo: "É muito importante para toda a gente, mas, especialmente, para o povo grego. Três programas de resgate, oito anos, muitas reformas e medidas muito duras, das quais esperamos resultados em termos de crescimento e de coesão social. Ainda há muito para fazer, mas, a Grécia está finalmente a lidar com todos os seus problemas por si própria. Acabaram-se os programas. É algo muito importante".

euronews: "A Grécia foi o último país a sair oficialmente do programa de resgaste. Em que fase que se encontra agora? A fase da recuperação ou a fase do crescimento?

Mário Centeno, presidente do Eurogrupo: "Estamos na fase após o pico de crescimento de 2017, que foi um período de crescimento impressionante para todos os países. Todos os países cresceram 1,5 por cento nesse ano. Em 2018, houve um abrandamento. Foi um ano com alguns riscos e incertezas, o que é normal numa economia, não há razões para entrar em pânico. O aspeto positivo na zona euro, atualmente, é o facto de termos os melhores indicadores de sempre para lidar com essas flutuações. O orçamento de toda a zona euro está quase no equilíbrio, as poupanças que gerámos em toda a zona euro são superiores a 3% do PIB, os importantes mecanismos de coordenação que implementámos são boas notícias para podermos lidar com as flutuações económicas, no futuro. Como referi, em 2018, houve um abrandamento, após o crescimento impressionante de 2017, mas, a taxa de investimento, como mostram os últimos dados de 2018, está a aumentar e a chegar ao nível existente antes da crise".

Brexit: "É preciso tempo para que os agentes económicos e as famílias se adaptem à situação e nós devemos dar-lhes esse tempo".

euronews: "Olhando para 2019, um ano muito importante para a zona euro, como vê o impacto do Brexit?

Mário Centeno, presidente do Eurogrupo: "É um ajustamento estrutural. É preciso tempo para que os agentes económicos e as famílias se adaptem à situação e nós devemos dar-lhes esse tempo. O impacto do Brexit poderá variar em função dos países. Nesse aspeto, a Irlanda ocupa uma posição central, tal como a Holanda. Mas, todos os membros da zona euro devem ajustar-se e, especialmente, o Reino Unido".

euronews: "Vamos falar dos riscos ligados às tensões comerciais. Qual será o impacto na economia?"

Mário Centeno, presidente do Eurogrupo: "Há seis meses, falava-se mais nessas tensões comerciais. Felizmente, foi possível implementar políticas conjuntas, houve encontros ao longo do verão e essas tensões comerciais diminuíram. É isso que motiva o meu otimismo. Se lidarmos com essas questões políticas tendo em mente que o nosso plano de ação tem de ser dirigido para os cidadãos, teremos as boas respostas a questões muito complexas. É sempre necessário evitar dar respostas simples a questões muito complexas. Caso contrário, outras ações que não se enquadram no âmbito das nossas instituições poderão ocorrer. Temos de evitar que isso aconteça. 2019 é também o início de um novo ciclo político, no parlamento europeu, o local onde nos encontramos, e, haverá também uma nova Comissão Europeia".

"o nível de apoio ao euro, entre a opinião pública, está no ponto mais alto"

euronews: "Pensa que os países da zona euro vão viver mudanças após as eleições?"

Mário Centeno, presidente do Eurogrupo: "Não sou muito a favor de grandes máquinas e de grandes mudanças. Temos de avançar passo a passo**.** É a única forma de obter a adesão dos cidadãos e de juntar toda a gente em torno dos processos de reforma. Tenho de dizer, honestamente, que não espero grandes mudanças após as eleições. Quanto mais maduras são as instituições mais forte será o sistema de controlo e de equilíbrio e mais forte será o necessário consenso em torno dessas instituições. É de facto um ano de mudança, mas, na continuidade dos processos em curso atualmente"

euronews: "Pensa que o aumento do euroceticismo poderá ter impacto no crescimento económico, com as eleições europeias em maio?

Mário Centeno, presidente do Eurogrupo: "É muito paradoxal porque o nível de apoio ao euro, entre a opinião pública, está no ponto mais alto. Portanto, sim, há uma preocupação, mas isso não significa que vá haver uma rutura. Como sabe, muitas pessoas duvidavam que o euro sobrevivesse à crise. Graças ao compromisso político ficámos mais fortes. Não antevejo esse tipo de riscos, nem prevejo grandes revoluções na forma como lidamos com as instituições e, na minha opinião, temos de proceder dessa forma".

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