Moçambique: Ajuda não está a chegar a todas as regiões

Moçambique: Ajuda não está a chegar a todas as regiões
De  Ana Serapicos com Lusa
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Fracos acessos e relatos de corrupção estarão por detrás do problema

PUBLICIDADE

Erguer Moçambique é uma corrida contra o tempo, e o caso piora quando nem todas as áreas afectadas estão a receber assistência humanitária.

Amelia Zinarimwe é uam dessas pessoas. Vive em Buzi, umas das áreas mais afetadas pelo ciclone Idai. Tudo o que tinha ficou destruído e não tem o que comer.

"Estou a sofrer, não tenho comida nem lugar para dormir. Nem mesmo sementes para replantar", conta Zinarimwe.

Segundo as Nações Unidas, a comida foi distribuída desde o primeiro dia a mais de um milhão de pessoas, mas a Cruz Vermelha diz que o processo de fazer com que a ajuda chegue às populações não é facil.

Amelia Zinarimwe

"Oitenta por cento das pessoas nesta região vivem destas culturas ou pescas, que foram basicamente eliminadas", admite Mathieu Leonard, coordenador de campo da Cruz Vermelha.

"Há muitos desafios. A logística é muito difícil. Ainda há muitas áreas em que só se consegue ir de helicóptero e nem sequer há área de aterragem. As estradas estão a ser limpas desde que o desastre aconteceu, mas ainda há muitos sitios onde ninguém consegue ir.", diz Mathieu.

A ajuda vai chegando a Moçambique, por parte de todo o mundo. Mas agora chegam também relatos de desvio dessas mesmas ajudas. Uma reportagem do Jornal de Notíciasdenuncia casos de abuso sexual contra mulheres em troca de comida por parte de um dos chefes das aldeias, os cabecilhas que recebem os donativos por parte das organizações, para depois os destruibirem pela aldeia. 

Unicef: 1,6 milhões de crianças em risco

A Unicef alertou hoje que pelo menos 1,6 milhões de crianças afetadas pelo ciclone Idai precisam urgentemente de cuidados de saúde, nutrição, água e saneamento, expressando especial preocupação com os mais de 130 mil menores que permanecem deslocados.

“Pelo menos 1,6 milhões de crianças precisam de assistência urgente ao nível dos cuidados de saúde, nutrição, proteção, educação, água e saneamento. Qualquer interrupção prolongada no acesso a serviços essenciais pode levar a surtos de doenças e picos de subnutrição, a que as crianças são especialmente vulneráveis”, alertou em comunicado a Unicef, Fundo das Nações Unidas para Infância.

A Unicef Portugal angariou um milhão de euros de donativos que já foram transferidos para o Fundo de Emergência para Moçambique, sublinhando a “generosidade dos portugueses” neste processo, enquadrado no apelo de emergência de 107 milhões de euros para o apoio humanitário feito pela organização.

A organização está “particularmente preocupada com o acesso a serviços básicos por parte de mais de 130 mil crianças que permanecem deslocadas após o ciclone Idai, a maioria das quais em Moçambique e no Malaui”, sublinhando que “mais de 200 mil casas foram destruídas pela tempestade, só em Moçambique.

Reuters

Entre os 1,6 milhões de crianças a precisar de assistência, um milhão são crianças moçambicanas, a que se juntam 443 mil no Malaui e 130 mil no Zimbabué, aponta a Unicef, sublinhando que, só em Moçambique, já se registaram cerca de 4.600 casos de cólera e 7.500 de malária.

Em Moçambique, a Unicef forneceu vacinas para imunizar com sucesso 900 mil pessoas contra a cólera, iniciou a distribuição de 500 mil redes mosquiteiras para proteger as crianças da malária e ajudou a restaurar o abastecimento de água para 500 mil pessoas na cidade da Beira.

A Unicef, que está a apoiar a instalação de clínicas em áreas de realojamento, informou que as campanhas vão concentrar-se nas próximas semanas na vacinação contra o sarampo, na desparasitação e nos reforços de vitamina A.

No Malaui, a Unicef já forneceu água potável a mais de 53 mil pessoas e instalações sanitárias para mais de 51 mil pessoas.

Reuters

Naquele país, o fundo das Nações Unidas para a Infância está a fornecer “camiões cisterna para levar água, instalações sanitárias e Espaços Amigos das Crianças nos centros de evacuação, bem como medicamentos e clínicas médicas móveis, ‘kits’ de educação e recreativos e professores voluntários”.

No Zimbabué, a Unicef forneceu a mais de 60 mil pessoas “informações essenciais para prevenir doenças transmitidas pela água”, lançando na segunda-feira uma campanha de vacinação para proteger mais de 480 mil pessoas contra a cólera, em parceria com o Ministério Zimbabueano da Saúde e Assistência à Criança, e a Organização Mundial de Saúde.

A organização está ainda a distribuir de “‘kits’ de higiene, reabilitação de sistemas de água e restauração de instalações de saneamento, fornecimento de bens vitais de saúde e nutrição; e está a trabalhar com parceiros para prestar apoio psicossocial a crianças vulneráveis, em Espaços Amigos das Crianças”.

PUBLICIDADE

Em Moçambique, o ciclone fez 602 mortos e 1.641 feridos e afetou mais de 1,5 milhões de pessoas, segundo o mais recente balanço.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Angola: Solidariedade une artistas num concerto por Moçambique

Novo ciclone ameaça Moçambique

UE: uma em cada quatro crianças em risco de pobreza