Entrevista desde a prisão: Junqueras apoia investidura de Pedro Sánchez

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De  Ana LAZARO com Ricardo Borges de Carvalho
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A partir da prisão de Soto Real, em Madrid, líder independentista catalão e candidato às eleições europeias, diz que não renuncia ao direito da autodeterminação da Catalunha

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O líder independentista catalão, Oriol Junqueras, é oficialmente candidato à Presidência da Comissão Europeia. Isto apesar de estar na prisão após o referendo e a declaração de Independência da Catalunha, em 2017.

Está a ser julgado pelos crimes de rebelião, sedição e peculato, mas pode participar nas eleições europeias uma vez que não há nenhuma decisão legal que o impeça.

Junqueras é o cabeça de lista do seu partido, a Esquerda Republicana da Catalunha, mas a nível europeu, é também o principal candidato da Aliança Livre Europeia que reúne os partidos nacionalistas no Parlamento Europeu.

O Conselho Eleitoral autorizou excecionalmente esta entrevista, que realizámos por videoconferência a partir da prisão de Soto del Real, em Madrid.

Euronews - Gostaria de começar perguntando-lhe qual o seu estado de espírito depois de um ano e meio em prisão preventiva.

Oriol Junqueras - Bem, como espero que consigam ver pelo meu sorriso, atitude, palavras e pelo meu tom, estamos razoavelmente bem. Embora seja também evidente que estaríamos muito melhor se não estivéssemos injustamente em prisão preventiva, porque estamos absolutamente convencidos de que não há qualquer razão para estarmos na prisão. Nada do que somos acusados está no código penal.

Euronews - Vamos então esperar para ver o que decidem os tribunais, porque o processo ainda está a decorrer. Falemos sobre as eleições europeias. É candidato ao Parlamento Europeu, mas gostaria de saber se tem realmente um projeto para a Europa ou se esta é uma candidatura mais simbólica para dar visibilidade ao movimento independentista catalão.

Oriol Junqueras - Sempre fomos, somos e seremos europeístas convictos. E entre as muitas provas disto é que o nosso projeto político sempre pensou numa Europa cada vez mais forte, em instituições cada vez mais fortes, num Parlamento Europeu com cada vez maior protagonismo, com maior capacidade legislativa, com políticas de integração europeia no âmbito económico, fiscal, social e cultural. E o nosso percurso no Parlamento Europeu demonstra-o, como fica claro pelo facto que, por exemplo, sempre fizemos parte do grupo dos Verdes no Parlamento Europeu, que acho que, é sem dúvida, o grupo mais europeísta e federalista da Europa.

Euronews - Você diz que é pró-europeu, mas ao mesmo tempo também fala em construir uma nova fronteira na Europa e isso não foi bem recebido na União Europeia. Ficou claro que o projeto Independentista não teve o apoio das instituições europeias ou dos estados membros. Isto é relevante...

Oriol Junqueras - A democracia deve receber sempre o apoio dos democratas. E que os cidadãos possam votar é um direito democrático absolutamente fundamental. Estamos convencidos que a opinião dos eleitores deve ser ouvida por todos. E estamos convencidos de que uma Europa cada vez mais forte e integrada, é uma Europa que precisa ser sensível ao facto de que, enquanto nós defendemos o direito de voto, alguém ordena que se agrida os cidadãos que vão votar. Ou que, enquanto defendemos uma atitude de diálogo e de consenso, nos respondam colocando-nos na cadeia.

Euronews - Já foi eurodeputado. isso significa que conhecia bem os meandros das instituições europeias. Como poderiam imaginar que iriam receber o apoio das instituições? Tiveram algum sinal nesse sentido? Caso contrário, alguns poderão pensar que tentaram enganar os cidadãos.

Oriol Junqueras - O que seguramente foi um engano para os cidadãos é que instituições supostamente democráticas respondessem dando ordem para se agredir cidadãos que vão votar.

Euronews - Deixemos de olhar para o passado e vamos olhar para frente. O seu partido, a Esquerda Republicana da Catalunha, alcançou resultados muito bons nas eleições espanholas. E parece que os socialistas de Pedro Sánchez vão governar em Madrid. Esta poderá ser uma boa oportunidade para o diálogo. Também vê desta maneira?

Oriol Junqueras - Sempre acreditamos que é uma boa oportunidade para o diálogo. De fato, diálogo, coexistência, respeito mútuo, integração, inclusão... são sempre elementos que devemos preservar. E por isso, parece-nos que qualquer momento é bom para dialogar. Sem dúvida, este também poderá sê-lo. Mas, em qualquer caso, dependerá da atitude do governo espanhol, porque da nossa parte é evidente que estamos abertos ao diálogo.

Euronews - Mas gostaria de saber, no caso de se abrir este diálogo, quais são as suas linhas vermelhas.

Oriol Junqueras - Não somos favoráveis a colocar linhas vermelhas ou dar cheques em branco. Somos a favor de falar, dialogar e explicar a nossa posição. E acho que é imperativo que qualquer democracia se esforce para ouvir a opinião da maioria, neste caso na Catalunha, como deve ouvir as forças maioritárias em qualquer outro país da Europa, na Dinamarca, Eslováquia, Irlanda ou Finlândia. Só pedimos que a nossa opinião seja ouvida.

Euronews - Renuncia à via unilateral?

Oriol Junqueras - Nós não podemos renunciar em nenhum caso à democracia, claro que não, é impossível que renunciemos à democracia. E, de facto, por não renunciarmos à democracia, estamos na cadeia. E não deixaremos de defender a democracia e o direito dos cidadãos a votar e a defender as suas posições de forma cívica, pacífica e democrática. E, de qualquer forma, sempre defendemos um projeto multilateral. Porque em qualquer projeto político relevante existe sempre o multilateralismo. Requer sempre a participação de muitas instituições e a Europa é um bom exemplo disso. Temos sempre dito precisamente que as instituições europeias também devem participar destes diálogos multilaterais.

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Euronews - Pedro Sánchez vai precisar dos seus votos ou pelo menos da sua abstenção para poder ser investido como presidente do governo espanhol. Vai apoiar a investidura?

Oriol Junqueras - Sempre dissemos que nem ativa nem passivamente iremos favorecer um governo com a participação da extrema-direita e de uma direita cada vez mais extrema.

Euronews - Apresenta-se como um muro de contenção contra a extrema-direita, mas há muitos que pensam que foi precisamente o movimento de independência catalão uma das causas que fez o Vox ganhar votos, um partido de extrema-direita.

Oriol Junqueras - Parece-me um argumento extremamente fraco, porque então também nos deve ser atribuído a subida da extrema-direita na Dinamarca, Finlândia, Hungria, França ou em Itália.

Euronews - Mas em Espanha as circunstâncias são estas...

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Oriol Junqueras - É evidente que não podemos ser responsáveis por tudo isto ao mesmo tempo.

Euronews - Para terminar, arrepende-se do referendo? Da declaração de Independência? Sente-se responsável pela fratura que existe atualmente na sociedade catalã? Voltaria a fazê-lo?

Oriol Junqueras - Nunca, nunca nos arrependeremos de dar uma voz democrática aos cidadãos. Nunca nos arrependeremos de defender a democracia. Como vamos arrepender-nos de defender a democracia? Você arrepende-se de defender a democracia?

Euronews - Não me está a responder. Faria tudo de novo?

Oriol Junqueras - Claro que sim. Talvez não tenha entendido a minha resposta ou talvez não me tenha explicado tão bem quanto você gostaria. Ou talvez não esteja a dizer o que você gostaria de ouvir.

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Euronews - Muito obrigado Oriol Junqueras, candidato às eleições europeias.

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