Negócios obscuros no imobiliário e alegado mau uso de fundos comunitários marcaram campanha para as europeias na Bulgária e já provocaram a demissão de altas figuras do Estado. Mas, parece tratar-se apenas da ponta do icebergue da corrupção no mais pobre país da União Europeia.
Ano de eleições e escândalos políticos andam muitas vezes de braço dado e a Bulgária é exemplo cabal disso mesmo. Vários casos de negócios obscuros no imobiliário vieram a lume nos últimos meses.
Fomos ao epicentro do chamado 'apartmentgate', o maior escândalo na Bulgária no último ano. Políticos de topo, como o líder da maioria parlamentar, Tsvetan Tsvetanov - que entretanto se demitiu - andaram a comprar apartamentos de luxo por uma pechincha. São casas que a preços de mercado custam 2600 euros por metro quadrado pelas quais várias figuras de relevo pagaram valores na ordem dos 600 euros por metro quadrado, um 'desconto' superior a 75%.
E esta será apenas a ponta do icebergue, afirma a jornalista que revelou o caso. O que começou por parecer uma situação dúbia, está a revelar-se num escândalo de corrupção em larga escala.
"Tudo passa por uma emenda que permitiu ao promotor imobiliário construir um arranha-céus num dos melhores bairros de Sofia. Segundo a lei, a construção de arranha-céus nesta zona está proibida, mas foi possível contornar isso com a emenda aprovada com os votos da maioria, cujo líder era Tsvetanov", explica Polina Paunova, jornalista na Radio Free Europe.
O número de políticos e altas figuras do Estado alegadamente envolvidos no esquema não para de crescer e coloca a nu o que aparenta ser um caso exemplar de corrupção sistémica.
Paunova afirma que "o Procurador-Geral também está envolvido no mesmo esquema imobiliário. O chefe da agência de luta contra a corrupção, o líder da antiga maioria parlamentar e o atual ministro da Justiça também estão envolvidos. Como é que se podem pedir responsabilidades ou fazer justiça se esta gente ocupa centros de poder e está toda interligada?"
Já com as europeias no horizonte, o primeiro-ministro Boyko Borissov passou a dirigir a campanha em modo gestão de crises. Mas, ao mesmo tempo, eclodiu outro escândalo: altos responsáveis estariam a utilizar fundos comunitários para construir residenciais que nunca abriram ao público. O efeito nos eleitores foi imediato.
"Nas sondagens, o partido socialista passou pela primeira vez para a frente dos conservadores e ficou com um ponto de vantagem apesar dos esforços da coligação no poder para mitigar os efeitos do escândalo com a demissão de vários altos responsáveis e figuras políticas, algo que não estamos habituados a ver no país", refere o sociólogo Anastas Stefanov.
Na Bulgária, os escândalos de corrupção em períodos eleitorais são comuns, mas depois da caravana passar os cães já não ladram. Os casos costumam cair no esquecimento e raramente chegam a ser esclarecidos pela justiça.