Thomas Cook abre falência e deixa 600 mil turistas em apuros

Sol deixa de brilhar para a Thomas Cook e 600 mil turistas ficam em apuros
Sol deixa de brilhar para a Thomas Cook e 600 mil turistas ficam em apuros Direitos de autor REUTERS/Luke MacGregor/Arquivo
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De  Francisco Marques
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Operador turístico britânico falha plano de resgate de €1200 milhões e provoca no Reino Unido a primeira crise relacionada com o "brexit"

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O operador turístico britânico Thomas Cook entrou esta segunda-feira em falência e vai obrigar o Reino Unido a realizar a maior operação de repatriamento em tempo de paz.

A empresa não conseguiu os €1200 milhões de euros necessários para fechar o plano de sobrevivência em negociação com o principal acionista, os bancos, os credores e outros investidores, e anunciou o colapso no site oficial.

A falência já motivou o cancelamento de centenas de voos previstos para as próximas semanas e deixa à deriva cerca de 600 mil clientes atualmente em viagem, muitos com pacotes completos de férias.

A maior parte, cerca de 150 mil turistas britânicos, serão repatriados numa operação estatal já conhecida como "Matterhorn" com recurso a aviões "charter" ou em voos de outras companhias como a British Airways ou a Easyjet.

A operação inclui, por exemplo, os cidadãos britânicos atualmente a usufruir de pacotes de férias da Thomas Cook em Portugal continental, nas ilhas do Atlântico ou em destinos do Mediterrâneo.

Os que estiverem, por exemplo, nos Estados Unidos terão de marcar por sua conta uma das reservas especiais disponibilizadas por outras companhias aéreas, com um custo estimado entre os €170 e os €230 por trajeto para quem provar ter sido afetado pela falência da Thomas Cook.

Os clientes prejudicados pela falência da Thomas Cook devem depois reclamar junto da entidade do cartão de crédito utilizado na reserva ou da seguradora da viagem para serem restituídos do que pagaram pelo produto adquirido na Thomas Cook britânica.

A Autoridade de Aviação Civil (CAA, na sigla original) do Reino Unido garante estar a tentar o repatriamento dos turistas britânicos sem afetar demasiado as datas previstas para o regresso a casa.

"Se está fora do Reino Unido, num pacote de férias da Thomas Cooke, pode continuar a aproveitar a viagem. A CAA está a lançar uma operação de repatriamento, a maior desde a II Guerra Mundial, e vamos trazer todos de volta tão perto quanto possível da data agendada para o regresso", afirmou Tim Johnson, diretor da CAA.

A autoridade de aviação civil britânica criou entretanto uma página dedicada à falência da Thomas Cook que pode ser consultada aqui.

Em termos globais, a Thomas Cook tem ainda dezenas de milhares de clientes oriundos da Alemanha e da Escandinávia, localizações onde a empresa detinha duas companhias aéreas.

Todos os clientes da empresa britânica estão porotegidos pelo chamado esquema ATOL, o qual terá um custo estimado de quase €700 milhões de euros, bem acima dos €226 milhões que a Thomas Cook necessitava para completar o orçamento exigido pelos credores e investidores para viabilizar a empresa pelo menos durante a época de inverno.

O agravar de um fim anunciado

Mais antigo operador turístico do mundo (fundado em 1841), a Thomas Cook tinha uma dívida crescente de quase €2 mil milhões e vinha a negociar há meses um plano de sobrevivência com o maior acionista, o grupo chinês Fosun, e os principais bancos investidores.

A Thomas Cook queixa-se da quebra de receitas provocada pelo crescimento de concorrentes no mercado como a AirBnB e a Booking, agravada ainda pela incerteza provocada pelo "brexit", cujo desfecho está agora previsto para 31 de outubro.

Em agosto, a empresa anunciou um princípio de acordo para um plano de de 900 milhões de libras (€1,1 mil milhões), partilhado entre o Fosun e os principais bancos credores.

O grupo chinês investia metade e ficava com 75% do controlo do negócio turístico e 25% das companhias aéreas da empresa britânica. Os bancos, a outra metade e o restante controlo dos ativos.

Na semana passada, porém, um grupo de bancos, com o Royal Bank of Scotland à cabeça, e outros credores exigiram mais 200 milhões de libras (€226 milhões) para garantir as operações da empresa durante o inverno, a habitual época de menor procura dos pacotes de férias.

Num primeiro momento, a Thomas Cook conseguiu na passada segunda-feira adiar em tribunal para esta semana a votação pelos credores e acionistas do plano de resgate negociado e entretanto inflacionado pela nova exigência para um total de mais de €1240 milhões.

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Durante o fim de semana, sucederam-se reuniões entre todas as partes interessadas, mas sem êxito. O desfecho foi anunciado já na madrugada desta segunda-feira.

"Isto marca um dia muito triste para a empresa pioneira no lançamento de pacotes de férias e que tornou possível viajar a milhões de pessoas por todo o mundo", lamentou Peter Fankhauser, o diretor-executivo da Thomas Cook, pedindo "desculpa aos milhões de clientes e milhares de funcionários" pelo "fim imediato do negócio" da empresa.

O titular da pasta britânica dos Transportes, Grant Shapps, lamentou "as notícias muito tristes para os funcionários e turistas", pedindo aos clientes da Thomas Cook afetados pela falência para serem compreensivos com os "funcionários" durante esta "enorme" operação de repatriamento em curso.

A falência da Thomas Cook coloca em risco o posto de trabalho de mais de 21 mil funcionários espalhados pelas operações da empresa existentes em cerca de 16 países por todo o mundo.

Outras fontes • BBC, Guardian, CAA

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