Crise alimentar na Guatemala: crianças sofrem de malnutrição crónica

Em parceria com The European Commission
Crise alimentar na Guatemala: crianças sofrem de malnutrição crónica
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De  Monica PinnaPedro Sacadura
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Ajuda humanitária da União Europeia tem-se revelado determinante

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A violência e a pobreza levaram dezenas de milhares de centro-americanos a juntar-se a caravanas de migrantes rumo aos EUA e ao México. No entanto, a fome foi a principal razão que forçou os guatemaltecos a deixar as respetivas casas.

De acordo com a Direção-Geral da Proteção Civil e das Operações de Ajuda Humanitária Europeias, mais de três milhões de pessoas enfrentam a insegurança alimentar na Guatemala. O Inquérito Nacional de Saúde Materno-Infantil (ENSMI) de 2015 revelou uma taxa de 46,5% das crianças com menos de cinco anos de idade cronicamente malnutridas. É uma das taxas mais altas em todo o mundo.

Guatemala, um país em sofrimento

O Corredor Seco da Guatemala sofre com uma das piores secas da década passada. Este ano, porém, as tempestades de primavera tornaram verdes as paisagens normalmente áridas de Filincas. No entanto, as populações indígenas que vivem nas terras altas já perderam os meios de subsistência.

Nas zonas rurais, a malnutrição crónica pode disparar até aos 80%.

"Atendemos aproximadamente 160 crianças. Metade sofre de malnutrição crónica. Este ano, por exemplo, já identificámos entre 50 e 75 crianças por mês com malnutrição crónica", explicou, em entrevista à Euronews, o enfermeiro local Freddy Martínez.

A pequena Dariela Esperanza, de apenas dois anos de idade, é uma dessas crianças. Tem metade do peso considerado normal para a sua idade. Regra geral come duas tortilhas por dia.

A União Europeia financiou um consórcio de organizações não-governamentais para combater a crise alimentar nos últimos quatro anos.

A Ação Contra a Fome aplica os procedimentos nacionais para identificar as crianças malnutridas com base na altura e no peso. Também promove o uso da medição da Circunferência da Linha Média-Alta do Braço, que ainda não é reconhecida pelo Governo.

Algumas crianças severamente malnutridas estão excluídas do sistema nacional de saúde por causa disso.

"Cruzando a altura e o peso aqui em Filincas percebemos que cerca de 2,1% das crianças sofre de malnutrição aguda. Ao utilizar a Circunferência da Linha Média-Alta do Braço o número duplica com frequência", explicou Glenda Rodas, da Ação Contra a Fome.

A ajuda milagrosa da União Europeia

Rumámos às montanhas de Filincas, até à cidade de Jocotán, no departamento de Chiquimula.

Aqui, a União Europeia (UE) melhorou o acesso alimentar através das transferências financeiras para 90 famílias. A UE apoia de várias formas 14 mil pessoas em quatro departamentos.

A Associação de Serviços e Desenvolvimento Sócio-Económico (AASEDECHI) de Chiquimula, uma organização local, selecionou as famílias mais vulneráveis na comunidade rural de Matasano. Dizem que em 450 casas cerca de 400 precisam de apoio.

"As famílias estão a receber transferências de acordo com o número de membros do agregado familiar. Recebem aproximadamente 14 euros, por elemento, por mês, durante três meses", confirmou Victor Hugo Sosa, da AASEDECHI.

Emma Gonzales recebeu o equivalente a 140 euros. Com essa ajuda pode comprar milho, açúcar, feijões, verduras e carne. Esta comida alimentará a família de Ema com 11 elementos, incluindo uma criança com malnutrição crónica, durante um mês.

"Compro para que as crianças possam comer qualquer coisa em casa. Porque não há um salário, ninguém tem trabalho", lamentou Emma.

Para a família de Emma, os dias de compras são de festa. Normalmente comem tortilhas. Um frango é um luxo mesmo quando é dividido por 11. Costumavam cultivar a terra mas oito anos sem chuva tornaram os campos estéreis.

"Semeamos coisas, mas não se colhe nada. As plantas crescem pouco. Sejam verduras, milho, feijões, o caule murcha porque não chove. Não há comida para os nossos filhos. O milho está cada vez mais caro e não há trabalho. Temos de aguentar a fome", acrescentou Emma Gonzalez.

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O consórcio de organizações não-governamentais financiado pela Direção-Geral da Proteção Civil e das Operações de Ajuda Humanitária Europeias responde à emergência com uma abordagem estandardizada para todo o país. Urko Dubois, da ajuda humanitária europeia, explicou: "A malnutrição é um problema multisectorial. Temos de o combater através de um enfoque de segurança alimentar, de saúde, mas também com um enfoque de água e saneamento. Ou seja, garantir que a criança não vai voltar a ficar doente. É por isso que as ONG's trabalham, ao nível comunitário, estes três eixos de ação."

O desafio, na Guatemala, é quebrar o ciclo sazonal de insegurança alimentar. É por isso que a União Europeia também está a ligar famílias como a de Emma a projetos de desenvolvimento para criar meios de subsistência mais sustentáveis.

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