A cidade de Brumadinho, no Brasil, prestou homenagem às 259 pessoas mortas e 11 desaparecidas, no colpaso da barragem da mina do Córrego do Feijão.
A emoção, a dor e a revolta marcaram o primeiro aniversário da tragédia de Brumadinho, no Brasil. Um dia marcado por várias homenagens às vítimas e uma romaria pelas ruas da cidade.
Os familiares das vítimas soltaram balões com a inscrição "A forma como sairam, doi muito".
Até ao momento, a tragédia em Brumadinho contabiliza 259 mortes e 11 pessoas desaparecidas. Um ano depois, os bombeiros continuam a trabalhar diariamente para tentar encontrar corpos, nas toneladas de lama arrastadas pelo colapso da barragem da Mina do Córrego do Feijão.
Justiça acusa dirigentes da Vale e da TUV SUD
Na véspera do aniversário, o procurador acusou formalmente a Vale, a empresa alemã de auditoria TUV SUD e 16 funcionários por, entre outros, homicídio intencional e crimes ambientais. A procuradoria diz que há provas de que as empresas sabiam que a mina operava em "condições inaceitáveis", colocando em risco a vida dos empregados.
As famílias reclamam justiça. Os executivos da Vale e da TUV SUD arriscam 30 anos de prisão.
"Os nossos filhos estavam a trabalhar com uma bomba relógio sobre a cabeça'', disse Andrea Rodrigues, que perdeu o filho, acabado de se formar em engenharia, que trabalhava para a mina. "Todos os dias a raiva cresce, porque temos a certeza que não foi um acidente. Eles foram assassinados", acrescenta.
A Vale diz-se perplexa pelas acusações de fraude e diz que está a colaborar com as autoridades. O presidente, à época da catástrofe, Fábio Schvartsman, negou as acusações contra si e contra a TUV SUD, alegando que a causa da falha da barragem ainda não foi esclarecida de forma conclusiva.
Indemnizações deram fôlego à atividade económica da região
A paralisação da atividade mineira, que gerou cerca de 60% da receita da cidade antes da tragédia, mergulhou o futuro económico de Brumadinho no desconhecido.
Paradoxalmente, o impacto económico foi inicialmente positivo, pois a cidade recebeu uma infusão de fundos de emergência da Vale e realizou obras de recuperação. A empresa pagou mais de 6 mil milhões de dólares de indemnizações, que aqueceram a atividade económica local. As lojas aumentaram as vendas, as pessoas compraram carros e os projetos de construção de casas proliferaram, de acordo com relatos da imprensa local.
Mas as autoridades não se deixam impressionar. "Estamos conscientes de que o aumento da actividade económica é temporário e estamos muito preocupados com o futuro a médio e longo prazo", disse o presidente da câmara de Brumadinho, Avismar de Melo Barcelos, em comunicado à imprensa.
Agricultura sem futuro
Em termos de atividade futura, a maior punição foi para as comunidades ribeirinhas e agricultores que dependiam do rio Paraopeba, a principal fonte de água da cidade, para irrigação e pesca. Em três pontos de coleta ao longo do rio, dentro de Brumadinho, o resultado foi o mesmo: água de qualidade imprópria para a rega, adequada apenas para barcos, segundo o grupo sem fins lucrativos SOS Mata Atlântica.
De acordo com o relatório deste grupo, foram detetados metais pesados, incluindo ferro, magnésio e cobre, em níveis bastante superiores aos permitidos por lei.