Tempestade "Xynthia" provocou 47 mortos e mudou para sempre a localidade de La Faute-sur-Mer, na costa atlântica de França, e gerou uma vaga migrantes climáticos
A noite de 27 de fevereiro de 2010 mudou-lhes a vida para sempre. Anne, Jean e Elisabeth estavam a viver no sítio errado, à hora errada, longe de estar preparados para a devastação dessa noite.
A tempestade "Xynthia" atingiu a costa atlântica francesa. Os fortes ventos e as marés contribuíram para a morte de 47 pessoas. Só em La Faute-sur-Mer, uma pequena localidade de mil habitantes na costa atlântica de França, perderam a vida 29 pessoas.
Os danos causados foram gigantescos, com um prejuízo estimado em mais de mil milhões de euros.
Dez anos depois, Elisabeth Tabary lembra-se dessa noite como se fosse ontem:
"O vento estava forte e por volta das 3h15 da manhã ouvi barulho. A água chegou a grande velocidade e subiu até ao metro e meio. O meu marido veio procurar-me mais tarde mas morreu logo de seguida. O meu neto morreu-me nos braços de hipotermia. Quis afogar-me porque percebi que já não havia nada a fazer."
Apesar do trauma, Elisabeth permaneceu na zona. Escolheu refazer a vida a apenas dois quilómetros do local da tragédia.
"Fiquei. Tenho a sensação que se partir abandono a minha família, que morreu aqui."
Anne e Jean Birault tomaram outra opção. Após 40 anos em La Faute-sur-Mer, este casal de reformados preferiu sair. Regressou agora. Um campo de golfe ocupa o lugar onde 600 habitações foram destruídas.
A casa nova não apaga as quatro décadas de memórias: "Deixei aqui um capital afetivo importante. A trinta quilómetros não consegui construir a mesma coisa."
Depois da tragédia, foram levantadas várias questões sobre a manutenção dos paredões e dos planos de gestão de risco da autarquia local. Mais de 100 pessoas apresentaram queixa na justiça. Em 2016, o antigo presidente da autarquia, René Marratier, foi condenado a dois anos de prisão com pena suspensa por homicídio involuntário.
Laurent Huger, Vereador de La Faute-sur-Mer, destaca o trabalho feito desde então, mas admite que são impotentes contra a fúria da natureza.
"Os diques na altura não tinham o tamanho devido. Por isso elaborámos um plano para a construção de novos diques. Foram construídos quatro quilómetros de diques que aumentam a proteção, mas que não impedem a água de passar", explicou-nos Laurent Huger.
O Estado francês investiu 500 milhões de euros em cinco anos para fortalecer as estruturas existentes.
Atualmente a luta é outra e o ministro do Ambiente já prometeu realojar os habitantes das 5 mil casas ameaçadas pela esperada subida do nível do mar e a erosão marinha.
Esta é uma de seis reportagens realizadas pela Euronews, com apoio do Jornalism Fund, para lhe dar a conhecer os migrantes climáticos da Europa. Ao longo deste mês, conheça as restantes histórias.