Hospitais saturados e valas comuns para enterrar vítimas da Covid-19

Uma criança protege-se da Covid-19 na favela Mandela, Rio de Janeiro
Uma criança protege-se da Covid-19 na favela Mandela, Rio de Janeiro Direitos de autor AP Photo/Silvia Izquierdo
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De  Francisco Marques
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"Só surge uma cama livre quando há uma alta ou ocorre um óbito. Temos 100% de ocupação", avisa diretor de uma UCI de São Paulo. A pandemia está a tomar conta do Brasil

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Os principais hospitais no Brasil dedicados à Covid-19 estão a trabalhar nos limites e alguns, como o Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, não têm mesmo espaço para acolher mais pacientes, numa altura em que o novo coronavírus continua alastrar a grande velocidade no país e já a motivar inclusive a abertura de valas comuns para enterrar os mortos.

Com quase 2.800 mortes no âmbito da pandemia e já mais de 43 mil casos de infeção, o Brasil tem cada vez mais os serviços de saúde saturados e poucos meios para enfrentar o esperado agravamento, numa altura em que o Presidente Jair Bolsonaro pressiona para serem levantadas as medidas de confinamento implementadas pelo anterior ministro da Saúde.

O novo titular da pasta tem vindo a reunir-se com os governadores estaduais, muitos deles opositores das ideias do Presidente. Sem ter imposto ainda novas medidas, Nelson Teich limitou-se para já a apresentar uma linha condutora de reforço da testagem para diagnosticar a doença, preparar as infraestruturas necessárias para o combate e só depois avançar para a saída do distanciamento social.

O problema que se coloca é, no entanto, grande e continua a agravar-se.

Jaques Sztajnbok dirige a Unidade de Cuidados Intensivos do Instituto Emílio Ribas, com "100% de ocupação" em termos de pacientes.

"Só surge uma cama livre quando há uma alta ou quando ocorre um óbito. Temos 100% de ocupação porque para cada alta que damos existem mais 100 solicitações", afirma este diretor clínico.

A UCI do Emílio Ribas está a enfrentar a Covid-19 sem um protocolo médico padrão por esta se tratar de uma doença quase desconhecida.Especialista em doenças infecciosas, Fernanda Gulinelli considera a doença provocada pelo SARS-CoV-2 "incomparável com tudo que tinha vivido até hoje".

"Sou infeciologista de base. Já vi pacientes com todas as doenças pulmonares possíveis, todos os sistemas possíveis, tuberculose e tudo o que se pode imaginar. Não se compara com nada", salienta a médica brasileira, admitindo estarmos a atravessar "um capítulo novo na medicina em que ninguém sabe sequer qual será a próxima frase".

Alguns hospitais saturados no Rio de Janeiro com doentes de Covid-19 estão a ver-se obrigados a transferir pacientes para outras unidades a centenas de quilómetros de distância.

No estado do Amazonas, os hospitais estão já também nos limites. Com quase 2.300 casos de infeção confirmados, incluindo mais de 160 mortos registados no âmbito da pandemia, a prefeitura de Manaus começou a abrir valas comuns no cemitério público de Nossa Senhora Aparecida para enterrar as vítimas deste novo coronavírus.

Outras fontes • Agência Brasil, Globo

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