Como Saaremaa travou o surto galopante de Covid-19

Como Saaremaa travou o surto galopante de Covid-19
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De  Francisco MarquesJains Laizans
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A maior ilha da Estónia tornou-se no epicentro da epidemia no país logo no início de março, mas pouco mais de dois meses depois conseguiu travar o novo coronavírus. Fomos descobrir como

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A vida parece ter voltado ao normal, em pleno verão, à maior ilha da Estónia. Sem registo de novos casos de Covid-19 desde meados de maio, Saaremaa era em março o epicentro da epidemia de Covid-19 na região do Báltico.

O que aconteceu? Como conseguiu esta ilha de 30 mil habitantes travar um surto que chegou a ser galopante e que muitos dizem ter infetado metade dos residentes?

Tudo começou logo no início de março. Dois grandes eventos com cerca de 1.000 pessoas terão estado na origem do surto na ilha.

O primeiro, dias 4 e 5, foi um duplo jogo de voleibol envolvendo uma equipa de Milão, capital da Lombardia, a região mais afetada pela pandemia em Itália.

Depois, no dia 7, realizou-se mais uma edição do Bubble Festival, o maior certame de Champagne e vinho espumante no país.

No dia 11, Saaremaa registou os primeiros casos de Covid-19. Duas pessoas que teriam estado nos jogos de vólei, quando, à altura, na Estónia havia 10 casos confirmados. Alguns seriam pessoas que teriam estado na ilha.

Passado três dias, já havia mais de 100 casos no país. O governo decidiu isolar as ilhas e impôs as primeiras medidas restritivas à população.

O deputado Kalle Laanet fez parte da comissão de crise de Saaremaa e contou-nos que fechar a ilha foi "uma decisão muito difícil para todos" porque "a última vez que tal tinha acontecido tinha sido na era Soviética".

Mas agora, olhando para trás e falando à Euronews, não tem dúvidas: "esta decisão ajudou-nos muito".

Testagem acelerou

O hospital de Kuressaare, o único na ilha de Saaremaa, iniciou em meados de março uma operação de testagem livre em regime "drive-in": as pessoas passavam de carro e eram testadas sem sair do veículo.

No dia 16, já havia mais de 200 infeções confirmadas no país. Dez dias depois, passavam dos 500.

No final de março, os casos em Saaremaa ultrapassaram os de Harju County, a região da capital Tallin onde reside mais gente na Estónia. O hospital da ilha não tem mãos a medir. As cerca de 150 camas disponíveis ficaram rapidamente esgotadas.

Com quase 800 casos no país, o governo decidiu instalar um hospital militar de campanha na ilha. A 4 de abril, as infeções ultrapassaram os 1.000 registos, com mais de 10% de hospitalizados.

O serviço de saúde estava saturado e os profissionais de saúde começavam a ser "transferidos" para a ala dos doentes.

Não tínhamos falta de oxigénio, medicamentos nem de cuidados. O que faltava era pessoal médico. Tínhamos muitos colegas infetados, por isso precisámos de ajuda exterior. Os residentes de Saaremaa e mesmo do continente vieram ajudar-nos. Mais de uma centena de pessoas veio ajudar-nos
Edward Laane
Diretor clínico do hospital de Kuressaare

O diretor clínico do único hospital de Saaremaa agredeceu, pela Euronews, a ajuda dos residentes da ilha e mesmo de alguns do continente. Mais de uma centena de pessoas ofereceram-se para ajudar o hospital no combate à pandemia que alastrava rapidamente.

Ööpäevaga uusi positiivseid teste ei lisandunud.

Publiée par Terviseamet sur Samedi 27 juin 2020

Com mais de 30 mil testes realizados e 1.400 infeções diagnosticadas, em meados de abril as mortes no quadro da epidemia já ultrapassavam as 30.

A 20 de abril, Harju County volta a ultrapassar Saaremaa no número de casos, mas o presidente da câmara do município da ilha assume a responsabilidade e anuncia a demissão, com efeito passado um mês.

No início de maio, com as mortes acima da meia centena (metade em Saremaa) e mais de 50 mil testes realizados, o governo levanta as restrições mais severas nas ilhas ocidentais e o hospital de campanha é desmobilizado.

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O estado de emergência na Estónia termina a 17 de maio, coincidindo com o final da última semana em que foram registadas as últimas infeções em Saaremaa. No final de maio, Mikk Tuisk é eleito presidente da câmara do município da ilha e substitui o antigo atleta de decatlo Madis Kallas, que garantiu no ter desistido, apenas assumido a responsabilidade.

Kallas foi um dos casos positivos na ilha. À Euronews, admitiu o erro de ter autorizado eventos de grande afluência no início de março, mas também assume o crédito pela boa reação da comunidade.

"Analisando durante semanas a gestão da crise, posso agora dizer que não teria feito nada de diferente. Saaremaa geriu muito bem a crise", defendeu Madis Kallas.

O enviado especial da Euronews a Saaremaa, Jains Laizans, percebeu que "a união da comunidade e o respeito pela quarentena permitiu à ilha passar de ser epicentro da pandemia para uma das regiões da Estónia com menos incidência da Covid-19".

Há já mais de um mês que não é registado na ilha um novo caso de infeção.

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A esperança e a prevenção

Na última quinta-feira, a presidente da Estónia, Kersti Kaljulaid, recebeu em Saaremaa o homólogo da Letónia, Egils Levits, para a habitual cimeira de líderes do Báltico, à qual faltou desta vez o lituano Gitanas Nausėda, por motivos não revelados.

Entre os diversos temas tratados, como a segurança da região e as alterações climáticas, falou-se também do restabelecimento da rota marítima da Letónia para Saaremaa, um habitual destino de férias para os letões.

Não se pense contudo que a ilha já baixou os braços na luta contra a pandemia. Apesar de o governo permitir a partir de 1 de julho a realização de eventos ao ar livre com até 1.000 pessoas a participar, o município rural de Saaremaa negou a autorização para o festival de música I Land Sound.

O organismo de administração da zona rural da ilha explicou que os organizadores já tinham vendido mais de 1.000 passes para o festival, que estava marcado para os fins de semana de 16-19 e 23-26 de julho. Muitas das pessoas viriam de fora da ilha e mesmo do estrangeiro e o município receou não ter meios para evitar um novo surto do novo coronavírus.

Os organizadores tinham tentado dividir o festival por dois fins de semana, pedindo a algumas das pessoas que já tinham comprado os bilhetes para os trocarem pelo do segundo fim de semana para tentar baixar a lotação do limite máximo de 1.000, mas sem sucesso.

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Raske südamega anname teada, et I Land Sound festivalielamus lükkub järgmisesse aastasse. Täna andis Saaremaa vald...

Publiée par I Land Sound sur Vendredi 26 juin 2020

Outras fontes • ERR

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