25 anos depois do massacre que marcou a guerra dos Balcãs, entrevista ao antigo presidente do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia
Pelo edifício-sede do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, em Haia, passaram as decisões sobre alguns dos mais negros capítulos da história recente da Europa e da Humanidade.
O coletivo nasceu de uma necessidade concreta: a de lidar com os crimes de guerra nos Balcãs, mas acabou por mudar a face do direito penal internacional.
Entre 1993 e 2017 indiciou 161 pessoas. 90 foram condenadas e 19 ilibadas. Os restantes 52 casos foram ou arquivados ou transferidos para outras instâncias.
Carmel Agius começou como juiz e terminou presidente do coletivo para os crimes de guerra na antiga Jugoslávia. 25 anos depois do massacre de Srebrenica, deposita esperança na geração que chegou a adulta depois de do genocídio.
"Na Bósnia-Herzegovina há uma enorme maioria de pessoas que cresceram com o resultado dos eventos em Srebrenica e que estão completamente conscientes de que é preciso alcançar um nível de pacificação; de enfrentar o passado, reconciliar-se com ele e seguir em frente," afirma.
O Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia ouviu 4650 vítimas durante 10 mil e 800 dias de julgamento. Sessões que, transcritas, ocupam 2 milhões e meio de páginas. A intenção era não deixar dúvidas sobre o que aconteceu, mas as teorias negacionistas encontraram espaço para se multiplicarem.
Em Srebrenica, morreram mais de 8 mil bósnios muçulmanos. Apesar dos registos e das admissões de culpa, há ainda quem diga que nada aconteceu. Carmel Agius admite que "Existem também várias pessoas que não só não aprenderam a lição de Srebrenica, como ganharam alento e aumentaram ímpeto negacionista, tentando reescrever a história."
As lições do inferno de julho de 1995. 14 dias de morte em Srebrenica no olhar do juiz que hoje preside ao Mecanismo Residual Internacional das Nações Unidas para os Tribunais Penais.