Em Metuge, Moçambique, milhares de pessoas, sem condições sanitárias, nem bens essenciais, vivem refugiadas da violência de grupos armados e expostas à pandemia.
Há uma linha ténue que separa as boas práticas sanitárias da total ausência de regras e cuidados de saúde pública, em Metuge. Neste campo de deslocados de Moçambique, com ou sem covid-19, a aquisição de bens essenciais é a prioridade.
Apesar do trabalho de sensibilização das associações no terreno, onde há falta de mantimentos e água potável, o uso de máscaras é muitas vezes desvalorizado.
Mustafá Ali Azito, membro da Organização Não-Governamental (ONG) "Ayuda en Acción", diz que "não é à primeira que elas acatam, pensam que não é uma coisa propensa para elas, que elas estão dotadas de resistência. [Essa] é um parte. E a outra parte - acrescenta - é ignorância".
No campo, onde vivem refugiadas mais de 10 mil pessoas, é também muito difícil assegurar o distanciamento social.
As condições em que as famílias, geralmente numerosas, vivem são denunciadas pelo bispo de Pemba, Luiz Fernando Lisboa.
"No acampamento, cada tenda tem duas famílias, é um aglomerado de pessoas. As crianças brincam o tempo todo juntas, então infelizmente ficou em segundo plano a covid-19", afirma.
Metuge é um distrito de Cabo Delgado, a província moçambicana onde se estima que, nos últimos três anos, os ataques do autoproclamado Estado Islâmico tenham feito mais de mil mortos e 200 mil desalojados. É também a face mais visível de uma crise humanitária sem fim à vista.