300 mil pessoas sem abrigo: Como vai Beirute reerguer-se?

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Residentes de Beirute queixam-se de falta de dinheiro para cuidados médicos e reconstrução, num país com inflação galopante e governo inexistente

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Duas semanas após a explosão avassaladora em Beirute, bairros inteiros - anteriormente cheios de vida - estão agora por terra.

Muitos edifícios estão simplesmente reduzidos a escombros e os que ficaram de pé estão inabitáveis - com paredes rachadas, sem janelas e ou sem telhados. 300 mil libaneses ficaram sem casa.

Como muitas outras, uma família de quatro pessoas com quem conversámos, recusa deixar o que resta da casa, apesar dos avisos do risco de desabamento. Estão aqui, mesmo sem telhado, apesar da chuva dos últimos dias.

"Não temos eletricidade nem telefone, devido aos danos causados pela explosão", conta Joseph Mitri, questionando: "Para onde vamos agora? Como podemos deixar a nossa casa? A porta não tranca, e os ladrões arrombam a porta. Eles já roubaram as nossas coisas".

Abandonados pelas autoridades

É quase impossível para a maioria dos residentes financiar a reconstrução das suas casas, uma vez que o país enfrenta uma crise económica sem precedentes, com uma inflação vertiginosa. Em diferentes zonas de Beirute, mesmo os mais necessitados sentem-se abandonados pela classe dominante. Dizem que o trauma vai ficar para sempre

Anulla Armao, uma idosa residente em Karantina sente-se muito insegura: "Continuo a achar que qualquer coisa má vai ainda acontecer. Morreram muitas pessoas que eu conhecia. Sinto-me tão triste. Perdi o meu olho".

Na zona de Gemmayze, Samira Helou relata: "Não se vê ninguém do governo, só grupos voluntários é que nos ajudam".

O marido, Tony Helou, ficou ferido: "Eu ainda tenho de passar por várias cirurgias. No Líbano agora tudo é muito caro. Não conseguimos cuidados médicos nem reconstruir as nossas casas", lamenta.

A explosão mortal, que deixou milhares de pessoas feridas, não podia ter vindo em pior altura. O sistema de saúde libanês, que já lutava com enormes dificuldades financeiras e falta de medicamentos e equipamentos médicos, ficou agora quase destruído.

Cuidados de saúde escassos

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de metade das instalações de saúde de Beirute não funcionam. Tudo isto, no meio de uma pandemia. O país regista diariamente um número recorde de casos de infeções por coronavírus e mortes.

Eid Azar, diretor de Recursos Humanos do Hospital de Saint George, que ficou parcialmente destruído, fala das prioridades: "Precisamos de duas s coisas: uma, reconstruir as instalações que foram destruídas e a segunda, para o que já é funcional, necessitamos provavelmente de um apoio financeiro direto, para encontrar formas criativas de funcionamento e sustentar o orçamento operacional para essas instituições".

Ajuda médica e humanitária, hospitais de campanha e apoio técnico têm sido enviados de países do mundo inteiro.

Novos líderes

O governo libanês demitiu-se, no meio da vaga de protestos dos cidadãos desamparados, que acusam os líderes do país de negligência quanto às causas da explosão e de décadas de má gestão, corrupção e nepotismo. Os manifestantes pedem investigações internacionais e justiça.

A repórter da Euronews, Lea Fayad, constatou: "Os libaneses acreditam que é o momento das gerações mais novas liderarem o país. Uma geração que possa restaurar a confiança interna e  externa no Líbano".

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