Aumento da papelada e dos controlos de mercadorias ameaça provocar o caos nos processos de exportação e importação entre o Reino Unido e a União Europeia
As imagens de longas filas de camiões em trânsito de França para a fronteira com o Reino Unido registadas em setembro, por causa de uma greve dos agentes alfandegários gauleses, permite antecipar o cenário nestas estradas da União Europeia (UE) para lá de 31 de dezembro.
O fim do período de transição do Brexit vai repor os controlos fronteiriços, pelo menos na fronteira que liga Inglaterra a França pelo Canal da Mancha, e o caos parece simplesmente inevitável.
Rod McKenzie, da associação Rad Haulage que defende os interesses do setor britânico dos transportes, lembra pela Euronews que "durante os últimos quarenta anos, foi possível (ao Reino Unido) negociar sem qualquer atrito com a União Europeia".
Como o Reino Unido vai deixar de pertencer à União Aduaneira da UE, os controlos vão ter de ser retomados nas fronteiras para garantir que os produtos e os animais em trânsito estão conforme os critérios regulados por ambas as partes. A prevenção contra o esperado contrabando é outros dos objetivos.
O processo de controlo do lado britânico vai exigir mais 215 mil declarações por ano e, para ajudar os exportadores a preenche-las, vão ser necessários mais 20 a 35 mil agentes alfandegários.
Devido às várias ligações com França, Dover, no condado de Kent, tem o porto britânico de maior atividade e o potencial para ser a porta principal do comércio com a União Europeia após o Brexit.
Para evitar as longas filas de trânsito que se anteveem, os motoristas vão precisar de uma autorização especial para entrar no porto de Dover.
Para ajudar a despachar a burocracia antes de chegarem à fronteira e evitar o congestionamento do trânsito, está a ser criada no lado britânico uma rede especial de parques de estacionamento para os camiões poderem parar, tratar da papelada e esperar a "luz verde" para prosseguir caminho.
O correspondente da Euronews no Reino Unido antecipa-nos um problema que parece estar a ser ignorado: "toda esta burocracia - a papelada, os parques dos camiões, os potenciais atrasos -- vai acontecer mesmo que exista um acordo de livre comércio com a união Europeia".
Para o diretor da facilitação negocial na Câmara Britânica do Comércio, "as oportunidades de negócio resumem-se ao aumento do comércio", mas é preciso "olhar para o quadro geral", avisa.
"O Reino Unido é uma nação bem sucedida nos negócios. Reduzir as taxas a zero dá-nos vantagens competitivas. Não é perfeito, mas apesar de tudo vejam os negócios que fazemos com os Estados Unidos sem haver um acordo comercial", argumenta Liam Smyth, defendendo o corte dos impostos sobre as exportações e importações negociadas com os "27".
Seja como for, as fronteiras continuam a ser levantadas no Reino Unido e em particular no porto de Dover. Os empresários do setor da indústria e dos transportes anteveem as perturbações no trânsito de camiões como inevitáveis ao verem um novo obstáculo aos negócios a tomar forma.
Apenas o tempo poderá mostrar aos britânicos se valeu ou não a pena deixar a União Europeia. Um processo agora também beliscado pela derrota do "parceiro" Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.