A Euronews foi conhecer um casal proprietário de uma butique que está a sentir dificuldade para subsistir apenas pelas vendas pela Internet quando outras lojas maiores podem continuar a venda direta dos mesmos produtos que eles
O Natal é um período de grande impacto na economia de muitos países, mas este ano a pandemia não está apenas a contaminar pessoas, está também a "infetar" o negócio. Em Inglaterra, por exemplo, onde o governo impôs o encerramento das lojas não essenciais até dois de dezembro.
A preocupação sente-se entre os empresários. É o caso de Priya e Dominic Aurora-Crowe, proprietários de uma pequena butique.
À euronews, Priya admite sentir "uma grande ansiedade" devido ao "investimento em artigos natalícios" efetuado pelo casal, a contar com o habitual aumento das vendas nesta quadra.
Para Dominic, "foi um pouco chocante este segundo confinamento" imposto pelo governo de Boris Johnson. "Em especial, nesta altura do ano", sublinha.
O casal tenta gerir o momento, apostou na internet e tem apelado aos clientes para comprarem à distância, mas não está a ser suficiente.
Priya diz-nos que os resultados "não se podem comparar com o que seria um Natal normal."
Dominic estima estar "a vender apenas um por cento do habitual" e Priya acrescenta que ambos estão "neste negócio há 20 anos e esta situação pode muito bem ser o fim da aventura".
A maioria dos artigos comprados para serem oferecidos no Natal -- roupa, por exemplo -- está classificado como não essencial e este tipo de lojas não podem abrir. Ao contrário das lojas de venda de comida e medicamentos, que podem continuar abertas.
Em França, por oposição a Inglaterra, os super e hipermercados foram instruídos para não venderem produtos não essenciais e devem proibir os clientes de os tentarem comprar. Os lojistas ingleses são livres para interpretar as regras que lhes foram impostas.
O poder das grandes cadeias
O correspondente da Euronews em Inglaterra dá como exemplo a cadeia de lojas de tapeçaria Carpetright.
"Autodesignou-se como comércio essencial e justifica-se dizendo que, após ter analisado as regras, decidiu manter as lojas abertas porque muitos dos clientes precisam de terminar projetos essenciais", explica-nos Tadhg Enright.
A verdade é que as grandes cadeias têm departamentos legais a ajuda-las. Um luxo fora do alcance dos pequenos lojistas.
O diretor-executivo da Associação Britânica de Lojistas Independentes sublinha o valor máximo da multa a pagar pelas lojas que desrespeitem as regras: 10 mil libras (cerca de €11.200).
"As grandes cadeias podem achar pouco. Pelo contrário, os pequenos lojistas, que já tiveram de enfrentar este ano um primeiro confinamento, veem-se agora obrigados a cumprir a lei, permanecendo fechados e a ver estes grandes concorrentes a interpretar as regras sem as quebrar e até a beneficiar delas para se manterem abertos", aponta Andrew Goodacre.
O pequeno comércio tem sido encorajado a adotar as vendas online e a recolha à porta da loja, mas muitos debatem-se para se conseguir adaptar a esta nova relação à distância.
Priya e Dominic Aurora-Crowe não entendem porque não podem vender diretamente à porta a quem passa. "Nós dependemos muito do contacto direto na nossa loja. Há pessoas a passar aqui à frente e seria muito bom podermos oferecer os nossos serviços a esses potenciais clientes", alega Dominic.
O casal Aurora-Crowe espera que o governo de Boris Johnson leia esta reportagem, perceba a situação em que se encontram e os ajude a a salvar o Natal e a terem o negócio aberto pelo menos por mais um ano.