Vinho novo inglês: há uma primeira vez para tudo e um culpado!

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De  Francisco MarquesLUKE HANRAHAN
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Aquecimento global está a permitir aos vinicultores britânicos produzirem melhores vinhos, mas ameaça também adulterar regiões nobres como a Borgonha ou o Douro. Conheça a terra onde as maçãs estão a perder o lugar para as uvas

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O aquecimento global continua imparável e este ano esteve na base do verão mais quente da história, desde que há registos, mas também de uma produção vinícola única no reino de Isabel II.

Se para a grande maioria dos habitantes do planeta as alterações climáticas são um problema muito grave, para os vinicultores britânicos, sobretudo perante a ameaça iminente do Brexit, revelam-se uma possibilidade de melhorar o negócio.

"Com as alterações climáticas, há vencedores e derrotados. Os vinicultores britânicos estão melhor, de uma forma geral", afirma à Euronews, Simon Day, vinicultor da "Sixteen Ridges", a fabricante do "English Nouveau", o primeiro vinho novo inglês, resultado de uma precoce maturação de vinha acelerada pelo aquecimento global.

Esta produção inédita segue os princípios do afamado "Beaujolais Nouveau", um vinho novo francês, produzido na região homónima, com selo de Denominação de Origem Controlada, a partir da casta Gamay e que tem à terceira quinta-feira de novembro o tradicional dia de lançamento.

Este ano, o "English Nouveau", à imagem do francês, vai ter também o lançamento oficial esta quinta-feira, 19 de novembro. Simon Day antecipa os aromas de frutos vermelhos e tropicais que conseguiu encorpar nesta primeira edição.

O método vinícola para produzir este vinho novo utilizado por Simon Bay, um bioquímico de formação dedicado ao vinho desde 2007, é similar ao do "Beaujolais Nouveau": a maceração de uvas inteiros em dióxido de carbono, mantendo o sumo na uva e aí acelerando a fermentação.

A diferença deste vinho novo inglês para o congénere francês reside na casta. No lugar da Gamay é utilizado a mais distinta Pinot Noir.

"Ter formação em bioquímica ajuda na ciência da vinicultura. É particularmente útil se as coisas correrem mal, mas o principal, e aquilo em que temos mesmo de confiar, é no nariz e no palato", explicou-nos Simon Bay, que assume ser dos poucos britânicos a beneficiar do aquecimento global.

O resultado da maturação precoce e da consequente antecipação das vindimas são 2.500 garrafas, cheias a partir das uvas colhidas no último verão.

Maçãs cedem lugar às uvas

"O ritmo da mudança climática em Inglaterra pode ser resumido ao observar-se as maçãs" produzidas nas terras britânicas onde agora a fruta da época de verão parecem estar a começar a ser as uvas.

"As maçãs eram o único fruto a ser aqui produzido. Agora são apanhadas três semanas antes do que era normal. O clima está a piorar para as maçãs, mas é cada vez melhor para o vinho", explica-nos o enviado espacial da Euronews a Herefordshire, na região ocidental de Inglaterra, junto ao País de Gales, bem no centro do Reino Unido.

Simon Day conta-nos terem sido encontrados na região documentos do outrora bispo de Hereford e diz-nos haver indícios históricos da existência de vinhas inglesas desde o ano de 1.200.

Fazer vinho não é novidade no Reino Unido, mas fazê-lo a partir de vinhas Pinot Noir é!

Simon Day garante-nos que logo desde a vindima, as uvas deste vinho novo inglês eram maravilhosas, mas se no hemisfério norte o aquecimento está a ser bom para os vincultores, no sul da Europa, em países como Portugal, Espanha ou Itália, o bioquímico antecipa tempos difíceis para a produção vinícola devido ao aumento dos níveis de açucar e quebra na qualidade das uvas para o vinho.

Embora as regras da Denominação de Origem Controlada não o permitam, para Simon Day, o melhor vinho tinto de sempre que acaba de produzir depois do verão mais quente da história no hemisfério norte podia muito bem ser batizado como o "British Beaujolais".

Quem sabe, um dia, se a humanidade continuar sem conseguir travar as alterações climáticas, as vinhas deste bioquímico especializado em vinicultura venham a ser mesmo concorrentes da afamada região francesa da Borgonha.

Outras fontes • The Times

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