Morte violenta importa em Dia da Consciência Negra

Morte de João Alberto Freitas inflama o Dia da Consciência Negra no Brasil
Morte de João Alberto Freitas inflama o Dia da Consciência Negra no Brasil Direitos de autor AP Photo/Andre Penner
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De  Francisco Marques com AFP
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Espancamento fatal de um homem negro numa loja de Porto Alegre inflama protestos contra o racismo, que para o vice-presidente Hamilton Mourão não existe no Brasil

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O Dia da Consciência Negra celebrado esta sexta-feira no Brasil foi inflamado por manifestações em diversas cidades pela morte na quinta-feira de um negro, espancado por seguranças brancos de uma loja, em Porto Alegre, no sul do país.

As agressões fatais a João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foram filmadas por telemóvel e estão a provocar a revolta popular contra o alegado racismo existente no país e negado, por exemplo, pelo vice-presidente brasileiro.

"Não há racismo no Brasil", garantiu taxativamente Hamilton Mourão depois de considerar "lamentável" a morte de 'Beto' Freitas.

Em princípio, tratam-se de seguranças mal preparados para a atividade que exercem.
Para mim, no Brasil, não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil, onde não existe.
Hamilton Mourão
Vice-presidente do Brasil

O Presidente Jair Bolsonaro omitiu o sucedido em Porto Alegre e mesmo a celebração do Dia da consciência Negra, limitando-se a referir que o "Brasil tem uma cultura diversa e única entre nações" e enaltecendo o "povo miscigenado".

Brancos, negros, pardos e índios compõem o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso.

"Foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo. Contudo, há quem queira destruí-la e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre classes, sempre mascarados de​ 'luta por igualdade' ou 'justiça social'. Tudo em busca de poder.
Jair Bolsonaro
Presidente do Brasil

Protestos alastram pelo país

Em Porto Alegre, a polícia teve de intervir com bombas de dispersão para reprimir alguns atos de vandalismo contra a loja onde ocorreram as agressões fatais a 'Beto' Freitas.

No Rio de Janeiro, os protestos passaram mesmo para o interior de uma loja da Barra da Tijuca, da mesma cadeia daquela onde morreu o homem em Porto Alegre, a Carrefour.

Dia da Consciência Negra

Data é celebrada no Brasil a 20 de novembro desde 2003. Tem por referência a morte de Zumbi dos Palmares, em 1965, e simboliza a luta contra a escravidão.

O dia é feriado local em cinco estados e em mais de mil municípios do Brasil. Um projeto-lei do senador Randolfe Rodrigues está em discussão no Senado, proondo a data para feriado nacional.

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Um dos membros do grupo de manifestantes, identificado pela agência France Press como Ricardo Fernandez, lamenta que "ser negro no Brasil" significa "ter a humanidade e todos os direitos roubados".

"É não ter a oportunidade de ir e vir com tranquilidade. É ter o sistema de segurança pensado para ter você como acusado, mesmo quando você é a vitima. É você ser alvo de qualquer bala que circula nesta cidade. Não existe bala perdida quando ela atinge um corpo preto", afirma Fernandez, durante o protesto dentro da loja "carioca".

A revolta popular foi inflamada pelo relato de que um dos seguranças envolvidos seria um polícia militar fora de serviço que também trabalhava para a empresa de segurança implicada na morte de 'Beto' Freitas. Os protestos alastraram pelo Brasil e fizeram-se sentir também por exemplo em São Paulo, Minas Gerais e Brasília, com apelos ao boicote à Carrefour, já reincidente em casos similares.

A rede empresarial originária de França lamentou este recente caso, responsabilizou os seguranças e já terá dispensado a respetiva empresa de segurança.

A Polícia Militar confirmou que um dos seguranças envolvidos é agente temporário daquela autoridade com funções limitadas na corporação.

Os dois seguranças, um de 24 e outro de 30 anos, foram detidos em flagrante. A investigação está a tratar o caso como homicídio qualificado.

Outras fontes • Globo

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