Presidente de Chipre: Turquia "não pode explorar interesses individuais de alguns países da UE"

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De  Efi Koutsokosta
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A euronews entrevistou o presidente da República de Chipre, Nikos Anastasiadis, sobre a reunião informal em Genebra entre as cinco partes envolvidas (cipriotas gregos, cipriotas turcos, Grécia, Turquia, e Reino Unido) na resolução da questão cipriota.

Quase um mês depois da reunião informal em Genebra sobre a questão de Chipre e com as relações turcas a marcar a agenda internacional, a euronews entrevistou o Presidente da República de Chipre, Nikos Anastasiadis, em Bruxelas.

euronews: “Gostaria de começar com a recente reunião informal em Genebra entre as cinco partes envolvidas (cipriotas gregos, cipriotas turcos, Grécia, Turquia, e Reino Unido) sobre a questão de Chipre. Vimos que desta vez os dois lados estavam totalmente separados por um fosso sem possibilidade de se construir uma ponte. Por outras palavras, a Grécia insiste na federação bi-zonal e bi-comunal e o lado cipriota turco propôs desta vez a solução dos dois estados. Pensa que essa lacuna pode ser superada, ou trata-se de uma ruptura total?"

Nikos Anastasiadis: “Quanto a nós, não apresentámos nada que vá para além do que está definido nos parâmetros da ONU. Apresentámos os pontos de convergência alcançados pelo diálogo nas negociações anteriores. Demos informações específicas sobre a proteção dos direitos dos cipriotas turcos e a proteção dos direitos humanos. Como é que podemos integrar posições contrárias ao que se passa em qualquer outro estado federal? Fizemos concessões para satisfazer as reivindicações dos cipriotas turcos. De onde vem esse fosso? Da posição completamente nova de que devemos avançar para uma outra solução e não para a solução da federação bi-zonal e bi-comunal, com igualdade política, tal como definido nas resoluções das Nações Unidas. Eles querem avançar para a solução de dois estados, algo que é impensável para a comunidade internacional, porque contradiz todas as resoluções da ONU, sem exceção, no que se refere à questão de Chipre e contradiz as posições da União Europeia".

A Turquia quer avançar para a solução de dois estados, algo que é impensável para a comunidade internacional, porque contradiz todas as resoluções da ONU, sem exceção, no que se refere à questão de Chipre e contradiz as posições da União Europeia.
Nikos Anastasiadis
Presidente da República de Chipre

euronews: “No entanto, foi a Genebra e o líder cipriota turco apresentou oficialmente a proposta para os dois estados pela primeira vez. Está desiludido com o Secretário-Geral das Nações Unidas, que aceitou isso? É algo que está travar a posição dos cipriotas gregos nesta fase?

Nikos Anastasiadis: “Não só a posição cipriota grega, está a impedir uma solução para a questão cipriota. Mas estou certo de que o Secretário-Geral da ONU não arriscará a convocação de outra reunião de cinco partes, mesmo informal, se não houver um terreno comum. Se o presidente da Turquia insiste que as negociações para encontrar uma solução para o problema de Chipre só devem começar se a condição for o reconhecimento de um Estado cipriota turco soberano, não vamos a lado nenhum. Em primeiro lugar, essa questão está fora dos termos do mandato do Secretário-Geral da ONU. Ele próprio não está autorizado a convocar uma conferência a partir do que foi apresentado em Genebra e que ouvimos repetidamente através declarações do Presidente turco e de outros funcionários. Por isso, quero acreditar que o Secretário-Geral da ONU terá em conta todos os parâmetros e todos os fatores para decidir se aceita ou não outra reunião”.

euronews: “Gostaria de lhe perguntar se viu uma mudança na atitude britânica em relação à questão de Chipre após o Brexit”.

Nikos Anastasiadis: “Os britânicos seguem sempre a política que, no entender deles, os pode ajudar a defender os seus próprios interesses. É bem sabido que em Chipre há bases britânicas, cuja criação está ligada ao acordo que deu origem à República de Chipre. Por isso, eles não podem aceitar ou propor uma solução de dois estados. Mas o que eles estão a tentar fazer, ou pelo menos apresentaram algumas propostas nesse sentido, é criar um direito soberano que, inicialmente, pode parecer completamente inocente, mas que depois se pode transformar em direito de autodeterminação e secessão. Queremos trabalhar em estreita colaboração com os britânicos, que desempenharam e continuam a desempenhar um papel no processo, mas um papel na direção certa e não para ajudar as reivindicações inaceitáveis da Turquia".

Seria um suicídio político, no meu entender, se eu aceitasse, uma agenda positiva que não incluísse Chipre.
Nikos Anastasiadis
Presidente da República de Chipre

euronews: “Diria que a atitude britânica em Genebra foi construtiva?”

Nikos Anastasiadis: “Foi, no sentido em que disseram muito claramente que é inconcebível ou, melhor ainda, inaceitável uma solução baseada nos dois Estados”.

euronews: “Há um Conselho Europeu em junho onde a questão da Turquia deverá ser discutida e gostaria de fazer uma pergunta muito simples. A União Europeia colocou em cima da mesa uma agenda positiva que inclui vários elementos, e que se baseia no pressuposto de que o tom e o comportamento da Turquia, no Mediterrâneo Oriental, em relação à Grécia e à República de Chipre, melhorou. É um argumento que se justifica?"

Nikos Anastasiadis: “O facto de os projetos de prospeção de gás estarem actualmente suspensos não é suficiente, significa que eles pararam por enquanto de contestar a soberania da República de Chipre na sua zona económica exclusiva, mas não é suficiente. Os planos para criar a cidade fantasma de Famagusta para estabelecer uma colónia continuam. Além disso, há um novo desafio, com a proposta de uma solução de dois estados. O que eles querem é a anexação da parte norte da ilha ou a existência de um estado fantoche que seria uma província da Turquia cuja independência seria determinada pelo grau de controle exercido pela Turquia”.

euronews: “Significa que, em Junho, quando regressar a Bruxelas e ao Conselho Europeu, irá bloquear qualquer decisão de lançar a agenda positiva, que poderia incluir uma melhoria da união aduaneira, algo em que a Turquia, como sabemos, está muito interessada.

Nikos Anastasiadis: É possível ter uma agenda positiva quando há um comportamento positivo. Quando, pelo contrário, há desafios atrás de desafios, seria um suicídio político, no meu entender, se eu aceitasse, uma agenda positiva que não incluísse Chipre. Não tenho escolha.

euronews: “Está pronto para vetar o processo?”

Nikos Anastasiadis: “Definitivamente, sim”.

euronews: "O que espera da União Europeia?"

Nikos Anastasiadis: “Para além da solidariedade ao nível das palavras, espero um envolvimento mais activo na prática e uma atitude de determinação, para que a Turquia entenda que não pode jogar com a situação e explorar os interesses individuais de alguns países europeus.

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