Chefe de Estado e de Governo do Chile fez declaração surpreendente na terça-feira e projeto iniciado pela antecessora Michelle Bachelet deve finalmente avançar
O Presidente do Chile surpreendeu o país esta terça-feira ao anunciar a intenção de legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, um projeto lançado pela antecessora, Michelle Bachelet, que estava bloqueado no Congresso.
Alvo de muita contestação devido à crise social e económica no país, e agora também por causa da gestão da Covid-19, Sebastián Piñera pretende agora concretizar a liberalização dos matrimónios homossexuais, apesar das divisões sobre o tema na coligação conservadora “Chile Vamos”, que tem as maiorias no Congresso e de onde já surgiram acusações de traição contra o chefe de Estado e de Governo.
Piñera mostrou-se determinado e diz ser tempo de o Chile "acentuar o valor da liberdade, incluindo a liberdade de amar e formar família com a pessoa amada".
"E também o valor da dignidade de todas as relações de amor e afeto de todas as pessoas. Penso ter chegado o momento de garantir essa liberdade e essa dignidade a todas as pessoas. Chegou o momento da igualdade no matrimónio no nosso país”, afirmou Sebastián Piñera.
Desde 2015, as pessoas do mesmo sexo já podem assumir-se como casal no Chile, mas apenas numa “união civil”. O texto da revisão da lei está escrito e a aprovação, após a declaração do Presidente, passa agora para as mãos do Governo.
A presidente do Senado, Yasna Provoste, em declarações à "Radio Cooperativa" citadas pelo jornal "La Tercera", garante que se trata de "um procedimento administrativo muito simples"-.
Apelo à vacina anticovid
Ao mesmo tempo que surpreendeu o pais com a posição agora assumida perante os matrimónios entre pessoas do mesmo sexo, Sebastián Piñera procurou também minimizar a contestação devido à pandemia apelando à vacinação.
"Ninguém sabe quanto tempo vai durar esta pandemia. Hoje, a América latina vive o pior momento desde o início da pandemia. Temos de aprender a conviver com a doença e em segurança. Por isso, queremos pedir encarecidamente a todas as chilenas e chilenos para se vacinarem, para cumprirem os cuidados pessoais e para que respeitem as regras sanitárias. Temos vacinas para todos”, garantiu o líder chileno.
Apesar de o Chile estar entre os países com maior percentagem de população vacinada (quase 56%), os números de infeções, de hospitalizações e de doentes graves mantêm-se altos.
O Ministério da Saúde chileno anunciou esta quarta-feira o registo em 24 horas de mais 5.631 novas infeções, com o número de "doentes covid" hospitalizados a totalizar ao dia de hoje 3.170 nos cuidados intensivos (UCI), incluindo 2.707 ligados a ventiladores mecânicos. As autoridades revelaram ainda haver apenas 146 camas disponíveis nas UCI chilenas, o que equivale a uma ocupação de 96,7%.
Os casos ativos no país, considerando aqueles que ainda podem contaminar outras pessoas, ultrapassam os 43 mil, quase mais cinco mil que há uma semana.
O número de mortos agravou-se em 41 de segunda para terça-feira, elevando esta quarta-feira o total para 29.385 óbitos associados à Covid-19, num total de quase 1,4 milhões de casos confirmado no país desde o início da pandemia.
Os números levam os especialistas de saúde a questionarem a eficácia da vacina chinesa Coronavac, uma das quatro usadas atualmente no plano de imunização chileno, e a criticarem as medidas incluídas no "Plano Passo a Passo" de desconfinamento gradual em curso no Chile.