Brexit cinco anos depois: A análise dos especialistas

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De  Shona Murray
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A euronews convidou Niall Ferguson e Brigid Laffan a comentar o que mudou desde que o referendo de 2016 ditou a saída do Reino Unido da UE.

Já passaram cinco anos desde a decisão chocante do Reino Unido de deixar a UE, mas a política à volta do Brexit ainda domina Bruxelas. Convidámos a professora Brigid Laffan, do Instituto Universitário Europeu (igualmente diretora do Centro Robert Schuman) e o professor e historiador Niall Ferguson para discutir o que tudo isto significa para o futuro da Europa.

Entrevista - Brigid Laffan

Shona Murray, euronews: Antes de mais, o que pensa - O Brexit vai ser uma decisão histórica? Quais as implicações dentro de talvez 20 ou 30 anos? Será um momento decisivo para a UE e a Grã-Bretanha?

Brigid Laffan: Quando o Brexit aconteceu, a votação foi um choque. Havia a preocupação de que haveria um efeito dominó e que este fosse o início do fim e da desintegração, ou que a partida do Reino Unido fosse semear divisão na Europa. Não foi isso que aconteceu. De facto, a UE tem sido muito unida, muito consistente na forma como tem lidado com o Brexit e está determinada a continuar. Do ponto de vista da UE, o Brexit é uma perda. Seria muito melhor para a UE se o Reino Unido fosse um Estado-membro. Mas dada a escolha do Reino Unido de partir, isso é respeitado, mas não será permitido que tenha impacto a longo prazo sobre o destino da UE.

Pensava-se que a partida do Reino Unido fosse semear divisão na Europa. Não foi isso que aconteceu.
Brigid Laffan
Professora Universitária

De facto, tornou as coisas mais difíceis para aqueles a que chamaria os eurocéticos de linha dura de toda a Europa, porque de repente até Marine Le Pen não está a defender a saída francesa e Salvini não defende que a Itália deixe o euro. Portanto, penso que a longo prazo, sim, é uma perda. É uma perda geopolítica. Significa que a UE tem de lidar com um vizinho indisciplinado. Mas será que vai realmente funcionar como um travão ao projeto europeu ou ao que os 27 ou uma UE maior decide fazer? Penso que não.

Veria facilmente uma Escócia independente a ser aceite como um Estado membro da UE?

Penso que seria complicado, como sempre, o alargamento. Mas preenchem os critérios. São pró-europeus e penso que adeririam com relativa facilidade.

Mas, por exemplo, o governo espanhol não se oporia se o referendo fosse considerado legítimo?

Não, penso que o governo espanhol não pode, porque a única forma de a Escócia reentrar na UE é como um Estado independente. Não é como a Catalunha, que Madrid está determinada a garantir que não será independente. Portanto, penso que não há maneira de a Espanha poder vetar legitimamente a adesão da Escócia à UE.

Entrevista: Niall Ferguson

Shona Murray, euronews: Diga-nos, antes de mais, se o Brexit será considerado um acontecimento histórico.

Niall Ferguson: Claro que sim. Afastar-se após 50 anos de projeto europeu foi uma grande mudança na trajetória da política britânica. Mas penso que o maior significado do Brexit reside no facto de remover dos restantes 27 membros um dos maiores obstáculos a uma maior integração, que era o Reino Unido. Lembre-se, o Reino Unido, de todos os Estados membros, era o mais resistente à integração fiscal e a fazer maiores mudanças na direção de uma Europa federal.

Quais os dividendos do Brexit para o Reino Unido?

Esse é o tipo de pergunta que se fazia em 2016, porque não me vai dizer que um acordo de comércio livre com a Austrália é um substituto para a plena adesão ao mercado único e à união aduaneira. Penso que a questão-chave é aquela que Dominic Cummings levantou antes da sua queda política: poderia o Reino Unido tirar partido do facto de ter deixado a UE para reinventar o seu próprio setor público?

Uma das coisas curiosas sobre o debate do Brexit foi, penso eu, a incapacidade do público em geral de perceber quantas das coisas que achavam frustrantes na burocracia britânica eram britânicas e não europeias. Quando eu estava a argumentar contra o Brexit em 2016, disse frequentemente que num divórcio, as pessoas pensam que vão resolver os problemas separando-se. Mas depois descobriram que muitas das coisas que pensavam ser problemas associados ao casamento são na verdade problemas pessoais delas. E penso que muitos dos problemas da Grã-Bretanha, particularmente a forma disfuncional como a administração pública funciona, algo de que Cummings se queixou muito ao longo dos anos e continua a existir, não são solucionados pelo Brexit.

Problemas como a disfuncionalidade da Administração Pública britânica vêm do próprio país e não da Europa
Niall Ferguson
Professor e historiador

Outra coisa que o Brexit tem de provar é que não é uma ameaça à segurança e paz da Irlanda do Norte. Há esta disputa em curso sobre o protocolo da Irlanda do Norte que foi negociado com cuidado, tendo em conta o Acordo de Sexta-Feira Santa. Todos explicitaram o que seria necessário e, no entanto, o governo britânico recusa-se a implementá-lo. O que pensa que o Reino Unido e a UE deveriam fazer para quebrar este impasse?

É muito difícil oferecer uma solução rápida para isto. Seria sempre um problema muito, muito complicado, para o qual não haveria uma solução que satisfizesse todas as partes. Penso que a mensagem foi transmitida em alto e bom som por Joe Biden, na Cornualha, de que não há realmente simpatia nos Estados Unidos por qualquer tentativa do Reino Unido de renegar o protocolo da Irlanda do Norte. Portanto, o meu sentido é que devemos pensar nisto da mesma forma que pensamos sobre a relação da Suíça com a UE. Penso que esta analogia é muito mais útil do que qualquer outra que tenha sido lançada ao longo dos últimos cinco anos.

Sim, mas suponho que estamos a falar da ameaça de um regresso à violência, uma ameaça muito grave...

Boris Johnson é o mais recente de uma longa sucessão de políticos britânicos que, tendo passado quase toda a vida em Inglaterra, não compreendem muito bem o problema da Irlanda do Norte. E, a dada altura, eles recebem ensinamentos bastante duros é o que estamos a ver acontecer agora. Do ponto de vista de Boris Johnson, o Brexit é um maná. Foi o caminho difícil para o topo da carreira. Correu esse risco em 2016 ao deixar o governo de David Cameron. E, para ele, só tem trazido vantagens. Ele fez notar - e isto é importante - que o que está em jogo no norte de Inglaterra garante a continuidade da sua posição de domínio. Enquanto isso for assim, Boris não se vai importar com a confusão na Irlanda do Norte, porque politicamente é muito, muito menos importante para ele. Isto é arriscado, como muito bem implica. Poderia levar ao regresso de problemas que todos recordamos com amargura.

Nome do jornalista • Ricardo Figueira

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