Morreu Otelo Saraiva de Carvalho

Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021)
Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021) Direitos de autor ANDRÉ KOSTERS/LUSA
De  Euronews com Lusa
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Uma das principais figuras do 25 de Abril de 1974 morreu este domingo, aos 84 anos, no Hospital Militar de Lisboa, onde estava internado

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Portugal perdeu neste domingo um das principais figuras da Revolução dos Cravos.

Otelo Saraiva de Carvalho morreu no Hospital com 84 anos.

Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho nasceu em agosto de 1936 em Moçambique e teve uma carreira militar desde os anos 1960. Fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.

No Movimento das Forças das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.

Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.

Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por vários atentados e mortes, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado anos depois.

Marcelo Rebelo de Sousa destaca “a importância capital” no 25 de Abril

O presidente português lembrou o capitão “protagonista cimeiro num momento decisivo da história contemporânea portuguesa”.

Numa nota publicada na página da Presidência da República, o chefe de Estado considera que “ainda é cedo para a história o apreciar com a devida distância”, no entanto salienta que “parece inquestionável a importância capital que teve no 25 de Abril, o símbolo que constituiu de uma linha político-militar durante a revolução, que fica na memória de muitos portugueses associado a lances controversos no início” da democracia, “e que suscitou paixões, tal como rejeições”.

Marcelo Rebelo de Sousa relembra o que disse no último 25 de Abril “acerca da aceitação que os portugueses devem procurar construir, todos os dias, relativamente a sua história pátria”.

António Costa elogia "dedicação e generosidade decisivas para 25 de Abril sem sangue"

Numa nota do primeiro-ministro, “o Governo lamenta o falecimento do coronel Otelo Saraiva de Carvalho e endereça as mais sentidas condolências à sua família, assim como à Associação 25 de Abril”.

“A capacidade estratégica e operacional de Otelo Saraiva de Carvalho e a sua dedicação e generosidade foram decisivas para o sucesso, sem derramamento de sangue, da Revolução dos Cravos”, elogiou.

Na perspetiva de António Costa, Otelo Saraiva de Carvalho “tornou-se, por isso, e a justo título”, um dos símbolos do 25 de Abril.

“Neste dia de tristeza honramos a memória de Otelo, como um daqueles a que todos devemos a libertação consumada no 25 de Abril e, portanto, o que hoje somos”, enalteceu.

Ferro Rodrigues homenageia “o maior símbolo individual do MFA"

O presidente da Assembleia da República homenageou “o maior símbolo individual do Movimento das Forças Armadas”, que concretizou o sonho de todos os que “ansiavam por viver em liberdade”.

“Apesar dos excessos que se possam apontar, nomeadamente no período pós 25 de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho foi, e será sempre considerado, o maior símbolo individual do Movimento das Forças Armadas”, pode ler-se numa mensagem de pesar do presidente da Assembleia da República.

Segundo Ferro Rodrigues, “por todos os democratas, que ansiavam por viver em liberdade e em democracia, Otelo Saraiva de Carvalho concretizou esse sonho”.

Isabel do Carmo diz que acabou "uma época e uma utopia"

Para a antiga dirigente do extinto do Partido Revolucionário do Proletariado (PRP), movimento que exerceu actividade clandestina através das suas Brigadas Revolucionárias (no PRP-BR), Otelo é, juntamente com Vasco Lourenço, “o dirigente do 25 de abril [de 1974], do Movimento dos Capitães e do derrube da ditadura”.

“Esta manhã, senti que acabou, que, com [a morte de] este homem, acaba também uma época, uma utopia. Senti isso, emocionalmente. Senti a perda, o desaparecimento. Já não vai ser possível falar com ele”, afirmou Isabel do Carmo a agência Lusa.

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Rui Rio reconhece o “papel corajoso e decisivo”

O presidente do PSD reconheceu “o papel corajoso e decisivo” de Otelo Saraiva de Carvalho no 25 de Abril, considerando que será a história, com isenção, que avaliará o que “fez de bom e de mau”.

“Hoje não é o dia para isso”, concluiu numa publicação na rede social Twitter.

Chega critica “papel perverso e destrutivo” no pós-25 de Abril

O Chega criticou hoje Otelo Saraiva de Carvalho por ter tido um "papel perverso e destrutivo" no pós-25 de Abril, considerando que deveria “ter cumprido a sua pena numa prisão portuguesa” e nunca ter recebido um indulto.

Numa nota, a Direção Nacional do Chega deixou “publicamente os sentimentos à família e amigos" numa altura "de dor e saudade, sobretudo para o círculo próximo”.

Para o partido liderado por André Ventura, hoje é um dia para, entre muitas outras coisas, “refletir sobre os momentos piores do Portugal pós-revolucionário”.

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CDS fala em dia “agridoce”

No dia em que “o CDS regista com tristeza” a morte de Otelo Saraiva de Carvalho, o vice-presidente Miguel Barbosa assegurou à agência Lusa que o partido “não se deixa embriagar pela história”, naquele que considera ser “um dia agridoce para os portugueses”.

Por um lado, Miguel Barbosa lembra Otelo como “um dos principais obreiros do golpe de estado",  reconhecendo-lhe “um primeiro ato importantíssimo para devolver Portugal à liberdade e à estabilidade de uma democracia liberal, que apenas se veio a confirmar com o 25 de novembro”.

Mas, por outro, sublinha "aquilo que o CDS não esquece”, apontando o capitão de Abril como “um homem que, entre estas duas datas, teve atitudes e comportamentos em que contradiz tudo aquilo que parecia defender”.

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