Enviada especial da Euronews acompanha em Cabul a mudança política no Afeganistão
A capital do Afeganistão vive momentos de tensão e expetativa enquanto se aguarda o anúncio de formação de um novo governo para o país, liderado pelos talibãs, o movimento islâmico que tomou o poder pelas armas após o início da retirada das forças militares estrangeiras.
A enviada especial da Euronews, Anelise Borges, está em Cabul para testemunhar na primeira pessoa como se está a viver na capital afegã este momento de viragem na política e religiosa do país.
Os tiros são uma constante durante a noite, como se pode ver e ouvir no vídeo no topo desta página.
Anelise Borges conta-nos pelo Twitter que o motivo dos tiros pode ser a celebração da chegada a Cabul do líder dos talibãs, o mulá Haibatullah Akhudzada.
Outros rumores escutados pela jornalista da Euronews apontam para a celebração da alegada tomada de Panjshir, embora alguns digam ser por já ter sido escolhido um novo governo, o que ainda não se confirmou.
"Um porta-voz dos talibãs pediu entretanto aos soldados [pelo Twitter] para pararem com os disparos para o ar depois de Cabul ter sido assolada por tiros contínuos durante pelo menos 15 minutos. Não sei ao certo quantos desses atiradores estavam no Twitter, mas as armas silenciaram-se. Por enquanto", escreveu Anelise Borges j esta noite, pela mesma rede social, com a mensagem do porta-vos talibã em anexo.
Em declarações difundidas pela Euronews, a nossa enviada especial começou por nos conta que "os talibãs sabem que estão sob muita pressão" porque "a comunidade internacional tem acompanhado de muito perto os seus movimentos e os desenvolvimentos fora do Afeganistão".
"O mundo espera algum tipo de plano para o país e quer saber o caminho que será traçado pelos talibãs. Qualquer tipo de movimento agora irá definir se certos países vão reconhecer ou não o governo talibã e se darão apoio. Um apoio que será crucial para o país e para o futuro do povo afegão", defende Anelise Borges, que tem vindo a falar nestes últimos dias com elementos dos talibãs e outros habitantes da capital afegã.
Entretanto, há relatos contraditórios oriundos de Panjshir, a região a nordeste de Cabul que ainda resiste aos talibãs.
Algumas fontes do movimento agora no poder garantem já ter conquistado a região, mas em entrevista exclusiva à Euronews, Amrullah Saleh, um antigo vice-presidente afegão, agora autoproclamado presidente do país e um dos líderes da resistência, garantiu que a alegada tomada de Panjshir é pura "propaganda" dos talibãs.
Amrullah Saleh admite que "a situação é difícil" na região, contou-nos estar "sob ataque dos talibãs, da Al-Qaida e de terroristas pagos pelo Paquistão".
"Há baixas de ambos os lados, mas a resistência continua", assegurou em exclusivo à Euronews o antigo vice presidente afegão, esta sexta-feira, desde Panjshir.
Ao mesmo tempo, em Cabul, continua a expetativa do prometido anúncio de formação de um novo governo pelo auto proclamado Emirado Islâmico, como se designam os talibãs.
Esta sexta-feira surgiram rumores de que o movimento já tinha escolhido para novo presidente do Afeganistão o mulá Abdul Ghani Baradar, cofundador dos talibãs, tendo como alegado líder supremo o atual chefe do grupo islâmico, o mulá Hibatullah Akhudzada. Falta a confirmação.