Arquitetura dos estádios do Qatar, entre tradição e modernidade

Arquitetura dos estádios do Qatar, entre tradição e modernidade
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O objetivo do Qatar é fazer da arquitetura uma ponte entre culturas, na encuzilhada entre Oriente e e Ocidente, passado e presente.

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A arquitetura no Qatar cruza modernidade e tradição.

O local dedicado às cerimónias da Fundação Qatar é um espaço ao ar livre desenhado pelo artista japonês Arata Isozaki. O design inspira-se na paisagem do Qatar. Um olhar para o futuro a partir do passado. É a ideia que percorre toda a arquitetura do país.

Centenas de discos interligados compõem a forma de uma rosa do deserto. O Museu Nacional do Qatar procura integrar-se no meio ambiente local e influenciou arquitetos de vários países. O Museu Nacional do Qatar é uma criação de Jean Nouvel. O falecido Ieoh Ming Pei concebeu o Museu de Arte Islâmica e a Biblioteca Nacional é da autoria de Rem Koolhaas.

“Mais recursos têm sido direccionados para a construção de museus, centros culturais, estabelecimentos de educação e centros de investigação. Apesar de haver um conceito global, cada arquiteto ou arquiteta tem a possibilidade de criar livremente”, disse à euronews Ali Alraouf, professor de arquitetura e planeamento urbano da Universidade Hamad Bin Khalifa.

Um elo entre passado e presente

A Cidade da Educação é um centro dedicado às aprendizagens. O desenho do edifício inspira-se na cultura e na arquitetura tradicional islâmica. “Todos os prédios do campus seguem princípios e conceitos que respeitam o meio ambiente, a partir de referências culturais, e da tradição e princípios da arquitetura islâmica de vários países”, disse Nur Alah Abdelzayed Valdeolmillos, arquiteto e diretor de projetos para a capital, da Fundação Qatar.

O objetivo é fazer da arquitetura uma ponte entre culturas, na encuzilhada entre Oriente e e Ocidente, passado e presente. “A arquitetura conta uma história. Conta a história de uma nação, de um povo, de uma sociedade. Conta a história da viagem dessa nação ao longo do tempo, é um elo de ligação. Liga o presente e o futuro da própria nação", sublinhou Omeima Ismaiel, fundadora do projeto The Architects’ Hub Qatar.

A arquitetura como espaço identitário

O arquiteto Ibrahim Al Jaidah concebeu alguns dos dois edifícios mais emblemáticos de Doha.

“Desde o início dos anos 90, no Qatar, diria que houve um regresso da tentativa de definir a nossa cultura não apenas em função do passado, mas também como uma identidade que tem continuidade no futuro. É algo que vemos não apenas ao nível do restauro de edifícios mais antigos, mas também em relação à nossa nova arquitetura contemporânea. É a melhor maneira de refletir a nossa identidade do passado, pegar nas qualidades do passado, mas sem fazer do passado algo que nos impeça de crescer ou de nos aventurarmos no futuro", frisou Ibrahim Al Jaidah, arquiteto natural do Qatar.

“Dos vários projetos que realizei, um dos edifícios com mais impacto, na minha opinião, é o estádio, não apenas devido à escala do projeto, mas também porque é visto como um sucesso da nação que vai continuar a existir na vida das pessoas. Fui convidado a participar num concurso de design para desenhar o Estádio Al Thumama. A competição fixa a ideia de base, o ghafiyah, mas o arquiteto tinha margem para dar asas à imaginação. Visitei o antigo mercado para ver todos os tipos de ghafiyahs, os designs e padrões. Criámos o nosso próprio padrão, algo que faz sentido arquitetonicamente, embora reflita a essência do Ghafiyah", acrescentou o arquiteto.

Para Ibrahim Al Jaidah, o passado é um ponto de partida útil para criar uma nova este´tica arquitetónica. “Diria que é importante entender a nossa cultura, a origem dessa cultura, mas usá-la como uma qualidade para criar abordagens mais contemporâneas. Usar as tecnologias e os materiais mais recentes, ser sensível ao ambiente que nos rodeia, desse modo é possível literalmente manter a estética, a identidade de um Qatar moderno”, frisou Ibrahim Al Jaidah.

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O arquiteto do Qatar Ibrahim Al Jaidaheuronews

Cada estádio tem um design próprio

Quando o Qatar foi escolhido para organizar o mundial de futebol em 2022, o país precisava de oito estádios, com capacidade para receber pelo menos 40 mil espectadores. Os projetos arquitetónicos tinham que ser inteligentes, flexíveis e devido às altas temperaturas do deserto era obrigatório integrar uma tecnologia ecológica para reduzir a temperatura. 

O estádio Al Thumamah desenhado por Ibrahim Al Jaidah integra 50 mil metros quadrados de espaços verdes. Um dos estádios foi construído a partir de contentores de navios.

“É uma oportunidade única. Estamos a construir sete novos estádios, incluindo um estádio desmontável. Estamos a reabilitar um oitavo estádio para que possa ser usado no mundial. Nunca tivemos uma estratégia de sustentabilidade tão detalhada", frisou Talar Sahsuvaroglu, especialista em Sustentabilidade e Meio Ambiente.

No final do mundial, a cidade vai doar 28 mil cadeiras a vários países. Por outro lado, os estádios do mundial foram concebidos para consumir menos energia. “Foi muito importante para nós não construir de forma excessiva. Nalguns dos nossos estádios por exemplo, o telhado é retrátil, quando fechamos o telhado, a temperatura arrefece mais rapidamente, não precisamos de tanta energia para manter um estádio fresco”, acrescentou Talar Sahsuvaroglu.

"O estádio conhecido como o diamante no deserto foi o primeiro a receber cinco estrelas na avaliação de sustentabilidade global. 85% do material é importado regionalmente, 25% do material é reciclado, há iluminação LED em todo o estádio e sistemas sustentáveis de água e irrigação”, sublinhou Nasser Al Khater, presidente da FIFA Qatar 2022.

Em Doha, a chamada Aspire Zone alberga o estádio Khalifa, o hotel Torch, o Aspire Dome e uma academia que servirá de campo de treino para as futuras estrelas de futebol do país.

A aposta no conceito de smart cities

O Catar ambiciona ser líder no domínio das chamadas smart cities. Msheireb, onde nos encontramos agora, é o primeiro projeto de reabilitação sustentável de um centro urbano a nível mundial.

O antigo bairro comercial de Doha foi modernizado. A tecnologia foi usada para construir um um novo modelo de vida urbana, com uma aposta na automação, nos transportes inteligentes e em equipamentos ecológicos. A sustentabilidade foi a ideia mestra do projeto. Nos telhados há mais de cinco mil painéis solares. As ruas foram projetadas para proteger os peões do sol. As plantas e árvores crescem nas condições climáticas do deserto.

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O bairro de Msheireb, numa área de 31 hectares foi reabilitado. Conta com mais de 100 edifícios, nomeadamente museus, hotéis, centros comerciais, restaurantes, e teatros e ainda o chamado bairro do Design de Doha. O projeto deverá ajudar o país a tornar-se um centro criativo de referência para a toda a região.

“Há muito a dizer sobre a arquitetura e o design de Msheireb. Cada elemento da cidade foi pensado cuidadosamente. Trabalho neste projeto há mais de uma década e ainda hoje, quando passeio pelas ruas, deparo-me com um novo detalhe para admirar”, disse Shaikha Al Sulaiti, gestora e designer da Msheireb Properties.

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