"O extremismo violento da direita branca está mais presente na Europa"

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De  Pedro Sacadura
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A euronews falou com o coordenador anti-terrorismo da União Europeia, Ilkka Salmi.

Ilkka Salmi é a figura de referência da luta contra o terrorismo na União Europeia. Recentemente, foi nomeado coordenador da resposta dos Estados-membros às ameaças à segurança. A nomeação ocorre num contexto marcado pela ascenção do extremismo de direita e por uma preocupação crescente em relação ao uso das redes sociais para difundir mensagens de ódio. A euronews entrevistou Ilkka Salmi, em Bruxelas.

Pedro Sacadura, euronews: "Acabámos de começar um novo ano. Em 2022, como definiria terrorismo?"

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: “Diria que é preciso ter em mente que o terrorismo existe. Se considerarmos, por exemplo, as opiniões islamistas radicais ou o jihadismo, essa ideologia continua a existir, apesar da derrota do Califado na Síria. E temos de estar preparados para isso”.

Pedro Sacadura, Euronews: "Assume o cargo numa altura em que o terrorismo parece ter desaparecido da agenda. Será que a ameaça está a escapar à agenda política?"

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: “Infelizmente, a ameaça terrorista está constantemente presente. Temos de dizer que é, em parte, talvez, elevada. Não podemos dizer que tenha desaparecido completamente. É claro que certas questões, especialmente, do ponto de vista europeu, como a pandemia podem ter tido um impacto a esse nível. As pessoas não se deslocam de forma tão livre como antes. Também gostaria de destacar uma coisa boa, que é a resiliência. Tem havido, na Europa, ataques terroristas de pequena escala, situações muito infelizes, onde se perderam vidas. No entanto, as sociedades conseguiram recuperar”.

A tecnologia desempenha um papel na difusão na Internet de discursos de ódio e de conteúdos terroristas.
Ilkka Salmi
Coordenador da luta antiterrorista na UE

Pedro Sacadura, euronews: “Em que ponto estamos atualmente em termos de ameaças terroristas na Europa e quais são as questões prementes?”

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: “Eu diria, basicamente, três coisas. A primeira, o jihadismo ou a ameaça islamista radical ainda existe. Em segundo lugar, o extremismo de direita, especialmente o extremismo violento da direita branca está mais presente na Europa. A terceira questão é, obviamente, o desenvolvimento da tecnologia. A tecnologia desempenha um papel na difusão na Internet de discursos de ódio e de conteúdos terroristas”.

Pedro Sacadura, euronews: "No passado, vários cidadãos europeus aderiram a organizações ligadas ao terrorismo. Na sua opinião, a Europa continua a ser um terreno de recrutamento para essas organizações? E quais são as causas profundas desses recrutamentos?"

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: “Digamos que em 2012, 2013, 2014 em particular ou em 2015 com a crise na Síria e a formação do Daesh ou Estado Islâmico, alguns europeus juntaram-se a essas organizações terroristas. Em teoria, isso ainda existe de certa forma, se tivermos em conta o que está a acontecer no Afeganistão. É uma questão que vamos seguir".

Estamos longe de poder traçar uma espécie de linha direta entre migração e terrorismo.
Ilkka Salmi
Coordenador da luta antiterrorista na UE

Pedro Sacadura, euronews: "No último trimestre, o tema da migração voltou à agenda. Pensa que há uma ligação, como dizem algumas pessoas, entre migração e terrorismo?"

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: Estamos longe de poder traçar uma espécie de linha direta entre migração e terrorismo. Ao mesmo tempo, é preciso ter em mente que se houver um grande movimento de pessoas em todo o mundo, as organizações terroristas podem tentar tirar partido desses movimentos para infiltrar indivíduos”.

Pedro Sacadura, euronews: “Estamos em Bruxelas, onde houve ataques terroristas no passado. Na sua opinião, quais são as prioridades para que a Europa seja um lugar mais seguro?"

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: “Temos de garantir um equilíbrio entre questões como a privacidade, por um lado, e a segurança, por outro, de modo a assegurar que a legislação possa ser aplicada, para que possamos trabalhar de forma eficiente. E ao mesmo tempo é preciso garantir que as nossas instituições tenham acesso às novas tecnologias".

A nova lei europeia sobre conteúdos terroristas na Internet

Pedro Sacadura, euronews: Vamos falar de outro tema, a pandemia, que é também uma questão premente. Segundo um relatório recente da Europol sobre 2020, as organizações ligadas ao terrorismo estão a tirar partido da pandemia de Covid-19 para exacerbar o discurso do ódio e a propaganda online. O que está a ser feito para combater esse fenómeno que poderá assumir maiores dimensões no futuro?”

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: “A chamada legislação sobre conteúdo terrorista na Internet vai entrar em vigor. É uma legislação europeia. Basicamente, os fornecedores de serviços e as redes sociais serão obrigados a remover o conteúdo terrorista que for publicado nessas plataformas, a partir da informação dos Estados Membros, das autoridades e da Europol. Têm uma hora para remover esse tipo de informação ou de mensagem. Penso que é um desenvolvimento muito bom o facto de ao longo dos últimos dois anos termos conseguido aprovar este tipo de legislação, que entrará em vigor no próximo verão".

As novas tecnologias são-nos extremamente úteis mas, ao mesmo tempo, dão novas ferramentas aos que querem fazer mal. E é exactamente por isso que temos de acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos".
Ilkka Salmi
coordenador da luta antiterrorista na UE

Pedro Sacadura, euronews: “Hoje em dia há muitos conteúdos na Internet contra a vacinação, no contexto da pandemia. Considera que esses discursos podem ser usados pelo extremismo de direita para outros fins e para conquistar mais seguidores?"

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: “Não me parece que isso possa ser rotulado como terrorismo, por enquanto. Dito isto, tem havido alguma preocupação perante a possibilidade de uma pequena parte dos quem são contra se radicalizarem e procurarem alianças com diferentes grupos, por exemplo, com o violento extremismo de direita. Mas, por enquanto, é importante sublinhar o direito à liberdade de expressão, à liberdade de opinião e o direito de manifestação".

Pedro Sacadura, euronews: "À medida que a tecnologia evolui, o terrorismo também evolui. Como podemos lidar com isso?”

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: "Antes de mais, é preciso fazer um grande esforço ao nível da prevenção, para que as pessoas não se radicalizem e não estejam em contacto com essas opiniões, especialmente quando falamos da Europa e, claro, também a nível global. Em segundo lugar, temos de garantir que as instituições que aplicam a lei e as autoridades de segurança tenham recursos suficientes e um quadro legal para agir."

Pedro Sacadura, euronews: “A melhor arma no futuro será online? O que faria ao nível da luta contra o ciberterrorismo?"

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: “Acredito que esse é, sem dúvida, o caminho a seguir. Não vai substituir o que acontece no mundo real. Porque é aí que, infelizmente, todos os incidentes terroristas têm um impacto psicológico. Por outro lado, as novas tecnologias são-nos extremamente úteis mas, ao mesmo tempo, dão novas ferramentas aos que querem fazer mal. E é exactamente por isso que temos de acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos".

Pedro Sacadura, euronews: "Pensa que há uma abordagem única que pode ser aplicada a situações e países diferentes, uma espécie de abordagem pan-europeia?"

Ilkka Salmi, coordenador anti-terrorismo da União Europeia: “A ameaça varia, sem dúvida, em função dos estados membros da UE. Nesse sentido, provavelmente, não podemos falar de uma abordagem monolítica".

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