As bruxas do Gana

Kasua Kaleri está detida há 33 anos por ter sido acusada de bruxaria por um sobrinho
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Há mais de 300 mulheres detidas em campos de concentração, acusadas de bruxaria

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No Gana há mais de três centenas de mulheres detidas em campos de concentração acusadas de bruxaria. A maioria passa décadas em confinamento...

Este campo, em Kuoko, no norte do Gana, é um dos cinco existentes no país e alberga 113 mulheres e várias crianças.

No Gana, é possível os maridos colocarem fim aos casamentos acusando as mulheres de bruxaria. Ostracizadas pela sociedade, são obrigadas a encontrar refúgio em campos, como este, e a viverem em condições desumanas. É o caso de Ásia Fusheini que se viu obrigada a vir para o campo para não ser assassinada.

"Ouvi uma multidão à porta da minha casa, depois alguém enfiou a cabeça na parede e disse 'Uma mulher está morta e a culpa é tua! Mataste-a'. Nós vamos matar-te". Eu disse "mas como poderia? Não a conheço... Nunca pensei que isto me pudesse acontecer, que um dia seria acusada de bruxaria e enviada para aqui. Nem sequer acredito em feitiçaria".

Em 2014, as autoridades tentaram encerrar estes locais, mas esbarraram com as crenças da população.

Mustapha Issah cresceu aqui, no campo de Kuoko, pois a mãe foi acusada de bruxaria. Hoje, trabalha na Organização Não-governamental "ActionAid".

"Acusaram a minha mãe de ser bruxa. Quando vim para cá e cresci apercebi-me de que a minha mãe era inocente. Todas as mulheres aqui estão na mesma situação que a minha mãe. Compadeço-me por todos aqueles que são acusados de bruxaria".

O ativista pretende mudar mentalidades e reintegrar estas mulheres na sociedade. Uma tarefa particularmente difícil no Gana onde três quartos da população acreditam em bruxaria.

"Suspeitam que as bruxas tenham prejudicado a comunidade, pelo que ainda não estão prontos para as trazer de volta a casa. Noutros lugares conseguimos reabilitar cerca de 50, mas aqui é a primeira vez que nos deparamos com uma e é mais difícil", conclui Issah.

Kasua Kaleri é a residente mais antiga do campo das bruxas de Kuoko. Está aqui há 33 anos. A mulher foi acusada de bruxaria por um sobrinho que lhe devia dinheiro e não quis pagar a dívida.

"Aqui o sofrimento é demasiado grande. Nem sequer conseguimos encontrar comida. Olhem para esta panela de comida. Temos só isto até amanhã. É demasiado difícil. Como se pode estar bem quando as pessoas nos empurram para situações de vida ou morte? "

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